Dawkins faz uma crítica simplista à religião que terá apelo a muita gente. “Dawkins quer que as pessoas acreditem que a religião é intrinsecamente violenta, em parte porque isso compensa seus argumentos intelectuais muito fracos contra a crença em Deus. Uma vez que Dawkins é incompetente para mostrar que a crença em Deus é intelectualmente errada, ele tenta mostrar, em vez disso, que a religião é má”. A invectiva é endereçada a Richard Dawkins por seu colega de Oxford, Alister McGrath, que, em parceria de sua esposa Joanna, escreveu a obra O delírio de Dawkins. Uma resposta ao fundamentalismo ateísta de Richard Dawkins (São Paulo: Mundo Cristão, 2007).
Dawkins “parece crer piamente que a teoria da seleção natural explica tudo no mundo”, disse o filósofo Álvaro Valls docente nos cursos de gradução e pós-graduação em Filosofia da Unisinos e presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof). E ele vai além: “O que Dawkins vem fazendo atualmente não é ciência, mas sim uma pregação de suposições filosóficas indemonstráveis. Isso explica por que razão precisa adotar em seus capítulos títulos como ‘Por que quase com certeza Deus não existe’. Ora, se ele só tem quase certeza, por que vende suas idéias como se fossem o resultado dos estudos científicos sérios?” As afirmações fazem parte da entrevista a seguir, concedida com exclusividade, por e-mail, à IHU On-Line, neste final de semana. Questionado sobre uma possível aproximação entre as críticas de Nietzsche e Dawkins ao cristianismo, Valls esclarece: “O que diferencia Nietzsche dos escritores ateus atuais é que ele possuía uma visão crítica aprofundada da realidade, não estava apenas preocupado em efeitos imediatos ou em vender seus livros”.
Para Michel Onfray, autor do Tratado de ateologia: física da metafísica (São Paulo: WMF Martins Fontes, 2007), que na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, classifica sua filosofia como uma filosofia das Luzes para a atualidade, a fonte do sentimento religioso é a negação da condição de mortal. Em sua opinião, “é fácil crer: tem-se resposta para tudo, a religião oferece uma metafísica, uma ontologia, uma filosofia, chaves na mão. Todas as respostas já foram dadas a todas as questões possíveis. Basta para isso ser instruído na ordem cristã. Ao passo que o ateu que reflete deve construir sozinho sua visão do mundo e isso é mais complicado”. E continua: “o recurso às ficções religiosas também terá lugar enquanto houver humanos. Somente alguns espíritos fortes viverão sem Deus, mas estes serão sempre minoritários”.
No ponto de vista do filósofo Luiz Felipe Pondé, Deus, um delírio, de Dawkins, não passa de um libelo político. Ele explica o motivo: “Não há idéias novas no sentido da biologia darwinista ou sua concepção cosmológica; sua intenção é convencer a neo-esquerda (mistura de iluminismo anti-clerical + foucaultismo das minorias oprimidas) de que o darwinismo não tem a política ‘de direita’ do darwinismo social, mas sim é uma teoria que liberta do medo da opressão metafísica de uma autoridade louca como Deus”. A entrevista, exclusiva, foi concedida neste final de semana, por e-mail, à IHU On-Line. Pondé não acha necessária uma explicação que polarize fé e razão no sentido “esclarecimento x escuridão”. Essa postura, dispara, “é para iniciantes que acreditam na utopia racionalista moderna”, e completa: “Esse livro do Dawkins é uma auto-ajuda para ateus inseguros”.
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