“Os quadrinhos veiculam e condensam as correntes de pensamento contemporâneos à sua produção”, disse Guilherme Caldas, quadrinista, em entrevista à IHU On-Line, por e-mail. Para ele, o segmento já passou por três grandes mudanças que iniciaram nos anos 1960, quando os personagens ganharam mais profundidade, e persistiram na década de 1970, quando figuras como Batman, em O cavaleiro das trevas, ganharam um tratamento gráfico mais elaborado. O ápice da evolução no segmento, se deu com a produção contemporânea, a qual compõe “a linha editorial de selos como Fantagraphics, Drawn & Quarterly e Top Shelf, e que tem seu expoente máximo no trabalho de Chris Ware e sua série ACME Novelty”.

Desde a origem da produção de história em quadrinhos, os negros já eram retratados como selvagens. Nos enredos do Tio Patinhas, lembra o professor Christian Arnold Leite, o patriarca e sua família se aventuravam pelo mundo, viajando pelo continente africano, ilustrado como um ambiente “povoado por selvagens, canibais”,  que trocavam favores por dinheiro. Aos poucos, esse enquadramento vem mudando, e atualmente, esclarece, “existe uma gama muito grande de produções que procuram apresentar personagens negros e negras de forma positiva”, colocando em primeiro plano a história do povo. Isso ocorre, segundo ele, porque está ocorrendo uma “transformação na forma de enxergar” os afrodescendentes brasileiros. Para ele, mais do que nunca, os negros devem ser representados nas histórias em quadrinhos com uma “imagem de lutadores, vencedores perante as adversidades de uma realidade social mundial e brasileira preconceituosa e racista em suas mais diversas manifestações”. Essas e outras declarações foram concedidas à IHU On-Line, por e-mail.

Fábio Zimbres é conhecido pela sua produção imediatista e pelas inúmeras experimentações que desenvolve nos quadrinhos. Segundo ele, esse tipo de trabalho tenta “preservar a surpresa da criação”. A opção por esta técnica, explica, se deve à sua preferência por desenhos feitos com urgência. “Histórias em quadrinhos em geral têm passos bem definidos de criação: roteiro, rascunho etc., e incluir essa surpresa e essa tensão requer pular essas etapas ou quebrar algumas regras”.

“No Brasil, o quadrinho underground como forma perdeu sua força para o que chamamos de quadrinhos independentes”, comentou o quadrinista Francisco Marcatti Jr., em entrevista à IHU On-Line, por e-mail. Segundo ele, os quadrinhos independentes são muito mais importantes para os artistas brasileiros, que apresentam uma postura criativa e “impõem seu livre pensamento”. “Quando se trabalha com essa liberdade, os quadrinhos passar a ser um retrato – com filtro ou não – da sociedade em que se insere e da qual se origina”, esclarece. Para que esses trabalhos ganhem mais destaque e visibilidade no futuro, Marcatti diz que é necessário que os quadrinhos deixem de “ser marginalizados como linguagem”. Otimista, ele sonha que os livros de quadrinhos autorais levarão “os seus eternos leitores a se aproximarem da literatura clássica”.

Em Simone Weil - A força e a fraqueza do amor (Rio de Janeiro: Rocco, 2007), Maria Clara Bingemer, professora do departamento de teologia da PUC-Rio e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da mesma universidade, diz que se cruzaram dois amores de sua vida. O primeiro é a reflexão sobre a violência e o segundo, seu encanto pela figura de Simone Weil. Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, Maria Clara descreve Simone como uma mulher radical, que “não faz nada sem ir até a raiz das coisas”. Ela foi “radicalmente intelectual; radicalmente ativista política; radicalmente militante e radicalmente mística e apaixonada pelo Deus que experimentou, cuja intimidade lhe foi possibilitada”.