As águas do Rio dos Sinos, de acordo com a Resolução do Conama, estão classificadas no nível quatro, o que significa que elas servem apenas para navegação e harmonia paisagística. Mas, ao contrário do que diz a lei, essa água é utilizada para abastecer 32 municípios da região do Vale do Sinos, no Rio Grande do Sul. De acordo com o hidrólogo e professor da Unisinos Marco Hansen, os principais ingressos de contaminantes da água são oriundos do meio rural, da indústria e da ocupação urbana. “Os despejos industriais, muitas vezes por esgotos inadequados ou clandestinos na calada da madrugada, fazem com que a qualidade hídrica decaia e atinja os ecossistemas aquáticos”, explicou. Segundo ele, metais pesados despejados na cadeia trófica geram “doenças irreversíveis aos seres aquáticos e ao homem como consumidor final de seus recursos”. Ele destaca que o incidente ocorrido no Rio dos Sinos serviu de alerta, mas garante que “poucas ações realmente efetivas” foram feitas até o momento. Essas e outras declarações foram concedidas à IHU On-Line, na entrevista que segue, realizada por e-mail.

Apenas o município de São Leopoldo chegou a tratar os dejetos de aproximadamente 80% de sua população, nos anos 1950. Hoje, apenas 20% do resíduo doméstico é tratado, lembra Rafael José Altenhofen, biólogo e coordenador da UPAN (União Protetora do Ambiente Natural). “Como se vê, não foi falta de conhecimentos, de tecnologia, ou mesmo de recursos, mas sim de vontade e prioridade política”, reitera.

O biólogo e professor da Unisinos Uwe Schulz concedeu a entrevista que segue à IHU On-Line, pessoalmente, em seu gabinete, quando afirmou que “ainda existe muito peixe no Rio dos Sinos”. Para ele, o Rio “está longe de estar morto”, já que os primeiros resultados das pesquisas realizadas indicam uma “recuperação muito rápida”. Schulz é vinculado ao Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos). Ele possui graduação e doutorado em Biologia, pela Universität Bielefeld, e pós-doutorado, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia de Ecossistemas. Recentemente, apresentou o tema “O desastre dos Sinos: um ano depois”, no evento IHU Idéias, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU em 18 de outubro de 2007. Confira também uma entrevista com ele sobre o desastre no Rio dos Sinos, concedida ao site do IHU (www.unisinos.br/ihu), em 16/10/2006, intitulada “A bacia do Rio dos Sinos opera há muito tempo no limite do que é possível”. 

Com base nas perguntas enviadas pela IHU On-Line, Viviane Nabinger escreveu o seguinte artigo, publicado com exclusividade nesta edição. Ela é secretária executiva do Comitesinos (Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos) desde 1989.

As propostas da Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler - RS) para o Rio dos Sinos, após um ano da mortandade dos peixes, continuam as mesmas. “Temos mantido a força-tarefa criada à época para que continue acompanhando os desdobramentos”, disse a diretora-presidente da Fepam, Ana Maria Pellini, em entrevista concedida à IHU On-Line, por e-mail. Em contrapartida, Ana Pellini reconhece que as “medidas são lentas e as providências consequentemente têm avançado mais lentamente do que seria o desejado”. Por enquanto, a Fepam suspendeu o licenciamento de novos empreendimentos e a ampliação dos antigos, até que os Comitês da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos e os municípios apresentem seus planos de saneamento.