Projeto de Ética Mundial. Um debate

Teólogo católico nascido na Suíça em 1928, Hans Küng vive desde 1967 na cidade alemã de Tübingen, em cuja Universidade trilhou brilhante carreira acadêmica . Por suas posições firmes diante de Roma, sofreu duras represálias, que em 1979 culminaram na cassação de sua autorização canônica para lecionar Teologia em instituição superior católica. Küng tinha tamanho prestígio intelectual na época que a Universidade, para que o professor e sua equipe de pesquisadores pudessem continuar atuando, criou o Instituto de Pesquisas Ecumênicas, como unidade autônoma em relação à Faculdade de Teologia Católica.

Convidado pela revista IHU On-Line a responder algumas questões relacionando o Projeto de Ética Mundial de Hans Küng e o seu impacto na sociedade, o filósofo francês Paul Valadier, SJ, enviou-nos o texto exclusivo a seguir, por e-mail. Nele, Valadier defende que, “ao invés de procurar uma hipotética base comum, forçosamente muito frágil ou somente consensual nas palavras, convém antes encarar as nossas diferenças e não procurar apagá-las. A paz e o entendimento só podem nascer da consciência compartilhada de nossas (legítimas) diferenças, tal é o mundo pluralista no qual nós devemos viver e no qual é preciso procurar paz e concórdia entre todos os povos e todas as religiões”. Mais adiante, ele argumenta que, “além de seu aspecto fabricado, construído e artificial, o risco de uma ‘ética planetária’ consiste igualmente em minimizar a diversidade das culturas, cedendo à tendência atual e acrítica de encontrar pontos comuns, independentemente das mil maneiras de viver a vida humana e de honrar a pessoa em sua dignidade. Entra-se num acordo sobre princípios abstratos, porém se esquece o terreno sobre o qual se forma e cresce a consciência moral ou a razão prática, a saber, a diversidade irredutível das culturas e das tradições religiosas”.

“No Ethos Mundial – tanto no que se refere aos direitos humanos como também aos deveres humanos – a dignidade humana está em primeiro plano; ela é a base da moral”, explica seu autor, o renomado teólogo alemão Hans Küng, que nesta segunda-feira, 22 de outubro, está na Unisinos proferindo a conferência "As religiões mundiais e a Ética Global". Na tarde deste mesmo dia, ele estará reunido com um grupo de professores e professoras de teologia da região sul do Brasil, na sede do Instituto Humanitas Unisinos - IHU. Segundo Küng, o projeto da ética global “não é uma teoria ou ideologia, mas uma práxis, no sentido de possibilitar a prática convivência das pessoas humanas na família, na escola, na comunidade, numa cidade, numa nação e também na comunidade das nações”. Confira a íntegra da entrevista exclusiva que Küng nos concedeu por e-mail, na última semana, adiantando alguns dos aspectos que irá discutir em sua vinda ao Brasil. Conheça mais detalhes sobre o pensamento künguiano no Fórum On-Line disponível no site do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, www.unisinos.br/ihu.

Sob o ponto de vista do teólogo suíço Denis Müller, “a Ética Mundial não pode limitar-se a um único modelo. Ela deve tornar-se mais dialógica, menos monológica, menos idealista”. Questionado sobre quais seriam os progressos que as religiões poderiam obter a partir de uma visão pluralista desse tipo, enfatizou: “O maior progresso que cada religião poderia fazer é o de amar o humano do homem no próprio coração de Deus, e não fora dele. Isto significa também repensar o mistério de Deus, captar melhor e viver o elo entre Deus e o amor. É deixar de fazer de Deus um supersujeito, um mega-ator da história e da política, e compreendê-lo como ausência de violência e reconciliação no coração das nossas violências, da violência do mundo, da dureza do nosso coração”. As declarações fazem parte da entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, com exclusividade.