Sem legislação e fiscalização adequada, ao efetuar o plantio de eucalipto ou pínus em 750 hectares em uma “hipotética propriedade de 1.000 hectares”, “legalmente, o empreendimento está regular frente aos órgãos ambientais, mas sua implantação promoveu o desaparecimento de 750 hectares de vegetação natural”, explica o ecólogo Marcelo Madeira, em entrevista concedida à IHU On-Line. É dessa maneira que muitos empreendedores e produtores de eucalipto vêm agindo no pampa gaúcho, ao mesmo tempo em que erguem a bandeira da preservação ambiental. Nesses casos, alerta Madeira, não se pode falar em sustentabilidade ambiental, pois, com a introdução desses mega-empreendimentos, “áreas com vegetação remanescentes conservadas estão sendo suprimidas”.
As atividades de silvicultura demonstram um alto grau de “impactos adversos”, que se manifestam no solo, através da redução da fertilidade, incremento de erosão e a redução de permeabilidade de água, avalia a pesquisadora Luiza Chomenko, da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. Segundo ela, com a presença desses cultivos há “maior oferta de combustível, o que permitiu que o fogo alcance maiores proporções, multiplicando as possibilidades de danos aos ecossistemas”.
O avanço da agricultura e da silvicultura, a cada ano, destrói cerca de 140 mil hectares do pampa gaúcho. Se não bastasse ter 40% de sua área de 15 milhões de hectares degradada, a região também é alvo de biopirataria. Essa atividade ilegal gera bilhões de dólares para outros países, que encontram no território gaúcho, espécies nativas bastante rentáveis. Das 2,5 mil espécies de flora presente no pampa, “10% estão ameaçadas e outros 10% são recolhidas e levadas para o mundo inteiro”, denuncia o professor Paulo Brack, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em entrevista feita por telefone e complementada por e-mail à IHU On-Line. Segundo o pesquisador,as empresas estrangeiras vêm ao pampa em busca de petúnias, cactáceas raras e a conhecida jararaca. “Um dos casos que mais chama a atenção é que a empresa norte-americana Bristol Myers-Squibb registrou princípio ativo contra pressão alta com base no veneno da jararaca, uma espécie que também ocorre no pampa, gerando um mercado de US$ 2,5 bilhões, o que equivale ao investimento de algumas destas empresas papeleiras que está se instalando no estado”, compara.
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