“Após décadas de experimentalismos formais”, explica a professora Laura Hosiasson, “o leitor passou a compor e recompor as várias linhas narrativas e os diversos quebra-cabeças espaciais e temporais”. Para ela, a obra de García Márquez, em especial Cem anos de solidão, foi um marco desse novo momento da literatura hispano-americana. “Cem anos de solidão foi estrondoso a partir da sua primeira publicação, em 1967”, recorda.

Para Wander Miranda, autores como García Márquez podem ser considerados “artistas de primeira grandeza” porque apresentam, segundo ele, uma linguagem que “sempre estará aberta, em razão do seu alto nível de elaboração estética, para novas e diferentes leituras”. Ao sucesso de Cem anos de solidão, Miranda considera que se deve ao fato do escritor colombiano ter mesclado no enredo, o mito e o real.

Ao resumir a importância de Cem anos de solidão, a professora Márcia Duarte a descreve como uma “chave de leitura para García Márquez, como uma porta hermeticamente fechada, mas cujos furos permitem entrever o que se passa no ambiente”. E o sucesso da obra, explica ela, se deve ao fato de ser “extremamente original, pois abarca um século da história da família Buendía, de modo a colocar o leitor como espectador dos mais tênues detalhes da vida familiar e social das personagens”. Em relação à imagem das mulheres apresentadas na obra, a professora ressalta que embora elas sejam “transgressoras, não há possibilidade de uma emancipação do feminino, pois esse mundo e esse momento não comportam uma tal perspectiva”. Entretanto, explica ela, “as mulheres da família Buendía não são totalmente submissas, elas se insurgem e se comportam como seres diferentes, tanto que não são, por vezes, compreendidas pelos homens”.

Para o professor Alfredo Laverde Ospina, da Universidade de Antioquia, Colômbia, a obra de García Márquez, especialmente Cem anos de solidão “se constituiu na obra principal de uma série de escritores colombianos empenhados em dar voz aos oprimidos e reflexionar em torno das origens da violência nacional”. Na entrevista que segue, o professor enquadra Cem anos de solidão como um dos livros “mais importantes do regionalismo que foi caracterizado pelas literaturas marginalizadas de todo o continente”.

Em comemoração aos 40 anos de Cem anos de solidão, de García Márquez, o Prof. Dr. Luiz Costa Lima, a pedido da IHU On-Line, escreveu o texto a seguir. Crítico de literatura e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e da Puc-Rio, Costa Lima é professor titular de literatura comparada, membro do setor de teoria da História da Puc Rio. Entre os anos de 1984 e 1986 foi professor da University of Minnesota e professor visitante das Universidades de Stanford, Johns Hopkins, Montreal, Paris VIII, Católica do Chile (Santiago) e pesquisador do Zentrum für Literaratur- und Kulturforschung (Berlim).