De acordo com o cientista político, Marco Aurélio Nogueira, o Estado é a expressão “de uma correlação de forças”, que costuma ser usado pelos “sujeitos em seus movimentos para avançar rumo à supremacia”. Ele enfatiza que os partidos que continuarem a imaginar a sociedade atual como a “mesma sociedade de classes claramente definidas e posicionadas umas contra as outras, como na época de Gramsci, não terão condições de exercer funções positivas de direção política e cultural”.

Para o sociólogo Luiz Alberto Gómez de Souza, não é necessário, como acreditava Gramsci nos anos 1930, substituir uma hegemonia por outra. Em entrevista à IHU On-Line, por e-mail, ele é enfático ao dizer que a sociedade pluralista e democrática deve superar a “própria idéia de hegemonia”.

Para vencer o capitalismo, é necessário “a constituição de um novo proletariado, um novo movimento operário global, composto pela maioria da humanidade que trabalha, a fim de barrar a barbárie que vem sendo induzida pelo capital”. A consideração é do professor Marcos Del Roio, em entrevista concedida à IHU On-Line, por email. Del Roio acredita que para cessar as conseqüências negativas do mundo capitalista, faz-se necessária a construção de uma democracia dos trabalhadores, a qual, ele considera “essencial” para a “emancipação humana”.

De acordo com Gildo Marçal Brandão, filósofo e coordenador científico do núcleo de apoio à pesquisa sobre democratização e desenvolvimento da USP, a partir dos anos 1980 e 1990 Gramsci passou a ser um autor importante no Brasil, propagado por autores ligados ao velho Partido Comunista Brasileiro. O pesquisador ressalta que Gramsci foi importante na construção da esquerda em nosso país porque justificava, delineava e trazia elementos de reflexão para uma esquerda que tentava fazer uma política de frente democrática contra o regime militar. Entretanto, Brandão ressalta que a análise das classes como motor das mudanças sociais, critério chave do marxismo e do próprio Gramsci, “é ultrapassado”. A entrevista foi realizada por telefone.

Para o professor de literatura italiana da Universidade La Sapienza, de Roma, Giulio Ferroni, a concepção gramsciana do moderno Príncipe não está presente nas idéias dos atuais partidos de esquerda italianos. Ele é enfático ao dizer que, na Itália, “o moderno Príncipe atual é a televisão”.