Michel Foucault, 80 anos

Além de contribuições à Filosofia e às Ciências Humanas, como a Psiquiatria e a Literatura, as idéias de Michel Foucault permanecem vivas e ajudam a compreender “o papel disciplinar que a escola moderna desempenhou na constituição do sujeito, da sociedade e do Estado modernos”, disse o professor Alfredo José da Veiga-Neto, do PPG Educação da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), em entrevista por e-mail à IHU On-Line. Em seu ponto de vista, “Foucault queria que seus livros funcionassem como bisturis ou coquetéis molotov... Assim, mais do que inspirar, o filósofo nos dá ferramentas para compreendermos o nosso presente e aquilo que somos ou aquilo que estamos nós ou estão os outros fazendo conosco e, se for o caso, nos rebelarmos contra isso”.

Para Jorge Dávila, professor titular no Centro de Investigações em Sitemologia Interpretativa da Universidade dos Andes, Venezuela, o estudo genealógico do nascimento da prisão realizado por Foucault em Vigiar e Punir “continua sendo atual no sentido em que desvela uma parte da história do presente, ou seja, aporta uma compreensão das condições de possibilidade – condições históricas de fundamentação – de nosso modo de viver no presente”. E continua: “A atualidade desta genealogia da prisão radica no fato de ela mostrar o fenômeno essencial da prisão que se identifica em seu próprio nascimento, a saber, o de tornar visível o lado escuro da luta pela liberdade individual, ou, em outras palavras, o de mostrar os limites negativos dos direitos humanos”. Dávila mencionou, ainda, que “talvez possamos dizer que o castigo simbólico mais eficaz do arquipélago carcerário constitutivo da sociedade moderna macdonaldizada opera com o poder da imagem posta a serviço do mero simulacro, uma imagem que subjuga de maneira esmagadora a riqueza do dizer. Nosso castigo simbólico mais eficaz, porque produtivo, é nossa própria mudez diante da imagem”.

Momentos antes de coordenar uma mesa temática sobre Filosofia Francesa Contemporânea no XII Encontro Nacional de Filosofia da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof), em Salvador, em 26-10-2006, o filósofo português Diogo Sardinha disse, com exclusividade à IHU On-Line, que “permanecer fiel a um texto de Foucault é, no fundo, permanecer fiel ao espírito de Foucault, que sempre o conduzia a reescrever os seus textos e a fazer, muitas vezes, coisas que ele tinha sugerido que não seriam interessantes de fazer”. Para Sardinha, “Foucault se reescreve permanentemente”.

Judith Revel é filósofa e leciona na Universidade de Paris, Panteon-Sorbonne. Especialista no pensamento francês contemporâneo e particularmente em Michael Foucault, sobre o qual dirigiu a edição italiana dos Ditos e Escritos (Feltrinelli, 1996-1998), prepara um livro sobre a genealogia do conceito de diferença na França após 1945. Sua última obra publicada é Michel Foucault: Expériences de la pensée [Experiências do pensamento]. Paris: Bordas, 2005. É membro da redação da revista italiana Posse, e participa também da revista Multitudes. A filósofa esteve recentemente no Brasil palestrando no III Colóquio Franco-Brasileiro de Filosofia da Educação: "Foucault, 80 anos", ocorrido de 9 a 11-10-2006 no Rio de Janeiro.