Edição 377 | 24 Outubro 2011

Agroecologia por um mundo mais sustentável

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Thamiris Magalhães e Rafaela Kley



IHU On-Line – Quais são os principais desafios que as classes camponesa e trabalhadora vêm enfrentando no combate ao atual modelo de desenvolvimento?

Marcelo Calazans – Sobreviver dentro desse modelo já é um enorme desafio. Sobreviver diante da expansão da cana, do gado, do eucalipto, da soja já é uma tarefa gigante para um campesinato cada vez mais envelhecido, com poucos descendentes, comparando as três últimas gerações de camponeses. Sobreviver no campo aos agrotóxicos, à compactação do solo, a toda a engenharia que o agronegócio constrói no campo e à construção que ele faz neste já é uma enorme tarefa para o campesinato. É óbvio que o campesinato não quer apenas sobreviver. Ele quer também pensar o seu bem-viver, o que significa ter acesso às políticas. Isso precisa ser pensando. Não se pode abrir mão da tecnologia, ao mesmo tempo em que não se pode abandonar toda a vida no campo, toda a construção política e a de um campo novamente repovoado, pensado desde a diversidade, recuperando matas, nascentes. Terá que se fazer por longas gerações um caminho de inversão de concentração urbana. Tem que se pensar um campo mais integrado, não apenas no modelo anos 1970 da grande metrópole e rural. Não é mais esse o campo. Na verdade, tem que desconstruir 40 ou 50 anos de agronegócio e isso não é simples. São terras e terras com 40 anos de agrotóxicos; são muitas pastagens, e a tarefa do campesinato é árdua. Acredito que uma primeira questão muito estratégica que vem sendo pensada é a transmissão da memória desse camponês para as novas gerações. Isso já é também uma tarefa enorme. Quem guardará a memória da mata atlântica? Ela não é apenas um código genético que vai ficar num vidro, em um laboratório dentro da Embrapa. É a memória de histórias que se passaram nesse bioma. São narrativas de lugares que hoje não existem mais. Então, tem-se que guardar uma memória não só biológica, mas narrativa e cultural da biodiversidade. E o campesinato tem essa enorme tarefa de conseguir apontar o que de fato ainda é floresta, monocultura de eucalipto, etc. Além disso, não será uma tecnologia nova, que será importada da Alemanha, que vai resolver a questão climática no semiárido brasileiro. Não é isso. Esse tipo de solução só é dos negociantes do clima. A solução para o clima já está lá, posta. Os territórios são a solução. A questão é que eles não são valorizados. Eles somem no desenho republicano do Estado. Temos que aprender a olhar os territórios sem as lentes primeiro-mundistas.

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