Edição 373 | 12 Setembro 2011

Congresso Continental de Teologia: novas perguntas para alimentar a esperança

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Moisés Sbardelotto

IHU On-Line – A partir desse contexto, surge o Congresso Continental de Teologia. Como animação aos participantes, qual é o desafio e a proposta do Congresso à teologia e aos teólogos/as nessa data tão significativa? A que ele se propõe? E sobre o que os teólogos/as são convidados/as a refletir nesse tempo de preparação?

Roberto Urbina – Eu acho que a Igreja hoje em dia precisa fazer uma reflexão teológica. Mas eu também acho que grande parte da Igreja da América Latina não vai fazê-la em uma perspectiva do Concílio. Por isso, eu acho que é responsabilidade nossa fomentar, favorecer, empurrar, provocar uma reflexão teológica diante dos rostos sofredores de hoje a partir da perspectiva do Concílio.

María del Socorro Martínez – Muitas pessoas se perguntam a respeito do Congresso: Qual vai ser a novidade? Ou à respeito da teologia da libertação: Qual é o “novo” que ela ofereceu? Ainda queremos receitas, respostas. E o que eu gostaria é que o Congresso abrisse perspectivas, e assim nos tornássemos, cada um e cada uma, responsáveis por esse presente que temos hoje – complexo, difícil, sobre o qual não sabemos todas as respostas. Há muitas mudanças, não podemos ter todas as respostas. Mas é precisamente por isso que eu gostaria de que o Congresso fizesse com que as pessoas saíssem questionadas, com novas perguntas.

Não vamos ter as respostas, mas vamos ter novas perguntas para alimentar a esperança para seguir lutando por esse reino de Deus que queremos. Há uma responsabilidade pessoal e coletiva para construir o reino de Deus. Que saiamos inquietos, militantes. Que o Congresso nos abra perspectivas. Por isso, o primeiro dia do Congresso me parece muito importante – a realidade. De que realidade vamos falar? Assim como o Vaticano II e Medellín abriram caminhos, sem repeti-los, do mesmo modo eu imagino o Congresso: que tenhamos a capacidade de abrir caminhos e de assumir responsabilidades no momento que nos coube viver.
Pablo Bonavía – Na leitura evangélica do domingo passado [21 de agosto], Jesus não aparece tanto como uma pessoa que dá respostas, mas sim como uma pessoa que convida as pessoas a se fazer perguntas e a descobrir, a partir do mais profundo de si mesmas, quais são essas respostas – quando lhes pergunta: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. E Pedro responde, mas a partir do seu interior mais profundo, porque escutou o Pai que estava lhe sugerindo essa resposta, e lhe diz: “Tu és o Messias, tu és o Filho de Deus”.
Eu acredito que tanto a teologia quanto a catequese, incluindo aqui as homilias e o acompanhamento espiritual, deveriam nos ajudar a fazer as perguntas, porque as respostas, tanto no Concílio, quanto em Medellín, não vieram a partir de uma doutrina já elaborada ou a partir de uma pastoral rigorosamente planejada, mas sim de perguntas que ajudaram as pessoas a ir encontrando aquilo que é de Deus na prática cotidiana. Aí eu acredito que há um desafio para esse Congresso, que não quer dizer a última palavra sobre nenhum tema, mas considera, sim, que é obrigação da Igreja discernir quais são as verdadeiras perguntas e quais são os contextos para ir encontrando as respostas.

Nesse sentido, eu continuo pensando que as pequenas comunidades, por exemplo as comunidades eclesiais de base, continuam sendo o espaço onde as pessoas se dão conta de que podem dar o que não tinham – como na multiplicação dos pães. Quando elas se encontram com contextos de discernimento, em que os demais lhes ajudam a ver o que há de Deus neles, começam a viver e a dizer coisas que nem elas sabiam que traziam dentro. E acho que esse é justamente um dos desafios que vem dos mais pobres. O mais pobre dedica todas as suas energias para sobreviver, sobretudo para se defender, e não pode se dedicar a desenvolver o que, a partir de dentro, Deus lhe está dando. Justamente, quando esse pobre encontra espaços onde isso é possível, aí vem uma mudança muito profunda, que o mundo de hoje está exigindo. Porque tanto a exclusão social, quando a depredação ecológica estão obrigando a uma mudança cultural que, por sua vez, está convidando a uma mudança muito profunda de cada um e cada uma.

María del Socorro Martínez – Vivemos muitos anos querendo [o Congresso], mas o contexto não permitia. Eu sinto que agora o contexto está se revelando: a crise dos EUA, onde muitas coisas mudaram, essa mudança de uma grande potência, as manifestações juvenis, que aconteceram também em 1968, em nível mundial, e em 1972, no México, ou a decepção com a Igreja – eu lia, antes de chegar ao Brasil, que é a primeira vez que a porcentagem diminui para menos de 70%, com o crescimento de outras expressões religiosas. Então, há muitos sinais, muitas situações meio inéditas, que vão se conjugando em uma mudança, em que nos perguntamos: O que está acontecendo? Aí é que me parece que Deus está falando.

Pablo Bonavía – De nossa parte, também é preciso fazer um agradecimento muito especial ao Instituto Humanitas Unisinos, no sentido de que todo esse escutar-nos mutuamente, esse comunicar-nos, esse estimular-nos reciprocamente, hoje em dia, requerem também técnicas, espaços disponíveis, know-how. Um mundo que se tecnificou talvez perdeu rumos com relação a que homem e a que sociedade queremos que essa tecnificação esteja a serviço, tanto no mundo das comunicações como em todo o resto. Nesse sentido, fala muito bem do Instituto o fato de nos estarem brindando ferramentas para que esse Congresso, que vai assumir o desafio de poder congregar 700 pessoas, de fato, possa ser realizado de forma eficiente e verdadeira.

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