Edição 428 | 30 Setembro 2013

Manifestações expõem fragilidades e limites do projeto constitucional-republicano de democracia

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Redação

“Vi pessoas de todas as idades que tinham em comum uma sensação: a coisa está demais e talvez eu possa contribuir para ela melhorar”

Helena Ribeiro é moradora do Rio de Janeiro, graduada e mestranda em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e graduanda em Direito pela Universidade Estácio de Sá - Unesa. 

Confira o depoimento.

 

Sou heterossexual; branca; ficha limpa; nunca fumei maconha e nunca tomei um porre... E sou manifestante mesmo!

Entrei nas manifestações após o dia 20/06, quando soube que o governo do Rio desrespeitara a Constituição Federal ao reprimir violentamente as manifestacões. Minhas bandeiras são a defesa do Estado democrático de direito e a Constituição Federal. Também fui às ruas pela queda da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37/2011 – que tornava privativa das polícias Federal e Civil a investigação sobre infrações penais, limitando a atuação do Ministério Público, rejeitada pelo plenário da Câmara dos Deputados no dia 25/06 –, pela queda da chamada "cura gay" – o Projeto de Decreto Legislativo 234/2011), o qual alterava resolução do Conselho Federal de Psicologia que veta aos psicólogos participar de terapias voltadas à alteração da identidade sexual do paciente ou que tratem a homossexualidade como doença, retirado da pauta da Câmara dos Deputados no dia 03/07 – e contra a homofobia.

Eu sempre fazia o trajeto programado nas manifestações e, se não houvesse nenhum ato posterior, eu ia embora, para não ficar em pé, parada, esperando “seu lobo” chegar...  Vi pessoas de todas as idades que tinham em comum uma sensação: a coisa está demais e talvez eu possa contribuir para ela melhorar. Pessoas em coro cantando e xingando. Palavrões... como cantavam palavrões... até eu cantei! O que me pareceu um ritual catártico.

Quanto aos ditos "vândalos", não concordo com suas atitudes. Considero que eram um tipo "cobrador" a la Rubem Fonseca ou então era gente infiltrada que queria tirar a legitimidade do ato democrático. De qualquer forma, não os vi nas manifestações.

Se eu tivesse que resumir em uma frase as manifestações, eu diria que vi o povo defender os DIREITOS FUNDAMENTAIS do nosso Estado democrático de direito. Ainda que alguns não conheçam o conceito, era isso que faziam intuitivamente.

De outra parte, vi muitos funcionários públicos, os policiais, "lobotomizados", sem a menor noção de cidadania, respeito, alteridade... homens-máquinas programados para combater pessoas que não ofereciam o menor perigo à ordem.

Lembrando a terceira lei de Newton, podemos dizer que a toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade. Nesse sentido, os políticos que nos aguardem, pois a força está apenas começando a se fazer sentir.

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