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Mas afinal, o que é metaverso? De começo é preciso dizer que não há uma única definição nem um só criador do metaverso. Em linhas muito gerais, pode-se dizer que o metaverso é uma realidade digital, conectada à Internet, integrando elementos de redes sociais, realidade aumentada, gamificação e criptomoedas criando espaços de sociabilidade virtual.
O espaço é visto com interesse particular pelas grandes corporações, tanto que Mark Zuckerberg transformou o nome da controladora de suas empresas – Facebook, Instagram e Whatsapp – em Meta. Nesta edição da IHU On-Line, reunimos uma série de pesquisadores para pensar sobre diferentes dimensões do metaverso, incluindo aspectos que vão da cultura pop à teologia.
Rafael Zanatta, diretor da Associação Data Privacy Brasil de Pesquisa, analisa as possibilidades e limites que esta nova tecnologia deve trazer para a convivência humana nos ambientes físicos e digitais. ”O que precisamos desmascarar é essa falsa ideia de que existe uma ‘economia imaterial’ descolada da materialidade, como se toda a sociedade global pudesse se beneficiar de ‘trabalhos criativos e inteligentes’ e uma prosperidade abundante a todos”, propõe.
Segundo Paula Sibilia, professora e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense, fala sobre como o debate renovado sobre o metaverso apresenta algo que é totalmente novo. “Tendo testemunhado o que vem ocorrendo nos últimos anos com o uso dos algoritmos nas redes sociais da internet, é assustador imaginar o que pode vir a acontecer numa atualização desses sistemas que leve ainda mais longe a ilusão de uma ‘bolha sem fora’”, analisa.
A professora e pesquisadora da Unisinos Adriana Amaral analisa como obras da cultura pop tais como o filme Matrix projetam debates sobre as contradições do desenvolvimento tecnológico. “O metaverso de Matrix tem um quê mais soturno e enfatiza mais as questões críticas do que os projetos apresentados por empresas como, por exemplo, o metaverso do Facebook”, avalia.
Francisco Pimenta, pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora, aborda os desafios da promoção da cidadania no metaverso. “O desafio que se coloca, de fato, aos movimentos de promoção da cidadania é a elaboração de novas formas de condutas estéticas, éticas e políticas com valores universais”, descreve.
Moisés Sbardelotto, professor da PUC Minas, acredita que esse novo ambiente poderá ampliar as formas de viver a fé, mas também as tensões, para equalizar mais catolicismos diversos. “Pensando o metaverso como um desdobramento da comunicação digital como a conhecemos hoje, o fenômeno religioso continuará se expressando também nesse meta-ambiente digital, seja ele como for”, pontua.
Phyllis Zagano, professora e pesquisadora na Universidade Hofstra, em Hempstead, no estado de Nova York, EUA, aborda questões atinentes ao metaverso e a religiosidade, debatendo questões de fundo, como o sacramento. “Os sacramentos não podem ser administrados virtualmente. Consideremos o sacramento dos enfermos, ou do testemunho de um casamento, ou batismo. Eles podem ser gravados e transmitidos, publicamente ou em privado, mas necessitam da presença real, não virtual. Não há ‘sacramentos eletrônicos’”, pondera.
Na seção Minha tese em quatro perguntas, trazemos uma breve síntese da tese de Leila Sousa intitulada Aprender-sendo: cidadania comunicativa e existências comunicacionais de mulheres negras de Codó e Imperatriz, no Instagram.
Apresentamos uma série de publicações do Cadernos IHU ideias destes últimos meses com as edições Desbravar o futuro: A antropotecnologia e os horizontes da hominização a partir do pensamento de Peter Sloterdijk, de Rodrigo Petronio; A Trajetória Metodológica Suscitadora de Jesús Martín-Barbero, de Alberto Efendy Maldonado; O capitalismo de crise: lógicas e estratégias de dominação, de Luiz Inácio Gaiger; “Ecologia com espírito dentro”: sobre Povos Indígenas, Xamanismo e Antropoceno, de Nicole Soares-Pinto; O trabalho humano no magistério do Papa Francisco, de André Langer; e Uma discussão acerca da liberdade da consciência humana: convergências e divergências entre Kierkegaard e Lutero, de Heloisa Allgayer e Rafael Francisco Hiller.
A todas e a todos desejamos uma boa leitura!