Edição 341 | 30 Agosto 2010

Clube da luta, uma crítica ao sistema capitalista

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Márcia Junges

José Rogério Lopes debate filme do diretor David Fincher e examina o dilema sobre a emancipação e a redenção do sujeito

Para o Prof. Dr. José Rogério Lopes, o filme O clube da luta (1999, direção de David Fincher) “pode ser compreendido como uma crítica ao sistema histórico do capitalismo e seus pilares econômicos e políticos, que produzem modelos imobilizadores da ação dos sujeitos. O filme mostra que toda transgressão concreta se forma e atua nos intervalos desses modelos”. Em sua opinião, O clube da luta propõe um dilema a respeito dos ideais de emancipação e redenção do sujeito: “propõe uma objetivação da crise de potencialidade de ação dos indivíduos contemporâneos, imersos em uma sociedade do consumo, e que têm seus propósitos de ação dispersos em um conjunto de identificações com objetos e ‘marcas’ que produzem uma distinção social superficial”. Essas ideias fazem parte da entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line. A entrevista adianta aspectos que serão debatidos por Lopes após a exibição dessa produção nesta terça-feira, 31-08-2010. A atividade faz parte do Ciclo de Filmes e Debates - Subjetividade e Normalização: Discutindo políticas de identidade e saúde mental na sociedade contemporânea - Pré-evento ao XI Simpósio Internacional IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana.

Graduado em Pedagogia pela Universidade de Taubaté (Unitau), é mestre e doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP, com a tese Violência, sexualidade e cidadania: conflitos interpessoais íntimos e a busca por autonomia na cultura contemporânea. É pós-doutor pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. É professor do PPG Em Ciências Sociais da Unisinos. É um dos organizadores da obra Diversidade religiosa, imagens e identidades (Porto Alegre: Armazém Digital, 2007) e autor de Anthropsys - Relações teórico-práticas entre a Psicologia e a Antropologia (Porto Alegre: Armazém Digital, 2006).

Confira a entrevista.

Ficha técnica
Título original: Fight Club
Gênero: Drama
Ano: 1999
Duração: 139 min.
Tipo: Longa-metragem / Colorido
Diretor: David Fincher
Elenco: Edward Norton (1), Brad Pitt, Helena Bonham Carter, Meat Loaf Aday¹, Zach Grenier, Richmond Arquette, David Andrews (1), George Maguire, Eugenie Bondurant, Christina Cabot, Sydney 'Big Dawg' Colston, Rachel Singer, Christie Cronenweth, Tim De Zarn, Ezra Buzzington

IHU On-Line - O que o filme Clube da luta aponta sobre a saúde mental do indivíduo contemporâneo?

José Rogério Lopes - O filme aponta para várias possibilidades de leitura. Vou enfatizar duas. Primeiro, propõe uma objetivação da crise de potencialidade de ação dos indivíduos contemporâneos, imersos em uma sociedade do consumo, e que têm seus propósitos de ação dispersos em um conjunto de identificações com objetos e “marcas” que produzem uma distinção social superficial. Complementar a essa artificialidade, o sentido da vida do protagonista se esvazia e seus propósitos tornam-se lacônicos. Trata-se aqui da vida que o protagonista apresenta, no início do filme. Essas identificações, radicalmente objetivadas em “marcas” e mercadorias, ressaltam a incompletude de sentido que acompanha a vida das mercadorias.

Se considerarmos que a identidade se define na ação, como afirma George Herbert Mead  (psicólogo social norte-americano da primeira metade do século XX), e constitui o self dos indivíduos como um centro de atividades, ou estrutura de atitudes, o filme expõe justamente uma crise de identidade, ou identificação, dos indivíduos contemporâneos. Isso é o que justifica a busca do protagonista do filme por uma potência de ação, transitando por grupos de autoajuda.

A segunda possibilidade emerge justamente dessa busca e desse trânsito, expondo a orientação assumida na violência desencadeada pelo protagonista. De uma violência contra si, inicialmente (mesmo que projetada em um duplo imaginário, ou alter-ego), essa orientação se desloca gradualmente para o coletivo e a sociedade. Todavia, esse deslocamento se opera por um movimento contrário da potência de ação, que o protagonista encontra nos pequenos grupos, o que é uma característica da vida urbana e metropolitana, como já indicou Louis Wirth  (teórico da Escola de Chicago, também na primeira metade do século XX). O duplo imaginário criado pelo psiquismo embotado do protagonista mostra justamente que os projetos dos indivíduos sempre se realizam como negociação da realidade, ideia levada ao extremo, no filme, uma vez que o protagonista está negociando consigo mesmo, na forma de um “outro imaginário”. O próprio Mead já mostrou como essa imaginação opera na infância, em seus estudos.

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