Edição 343 | 13 Setembro 2010

A crise civilizacional e os desafios das alternativas energéticas

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Patrícia Fachin

 

IHU On-Line - Considerando a atual conjuntura nacional, que projeto energético seria adequado para o país?

Heitor Scalambrini Costa – Sou contrário ao projeto atual que tem concentrado todos os esforços em apoiar e incentivar a indústria do petróleo e do gás natural, a instalação de usinas nucleares e a construção de mega-hidrelétricas no norte do país.
Senão, vejamos:
O Programa de Aceleração do Crescimento - PAC (22-01-2007) destinou investimentos em combustíveis fósseis (petróleo e gás) da ordem de R$ 179 bilhões. Com o setor elétrico abocanhando R$ 65,9 bilhões para a geração de energia (grandes usinas, termoelétricas e usinas nucleares) e R$ 12,5 bilhões para a transmissão e distribuição. Enquanto que, para as fontes renováveis de energia, foram destinados R$ 17,4 bilhões para a produção do etanol e do biodiesel.

No Plano Nacional de Energia 2030, os cenários traçados pelo governo para geração de energia elétrica nos próximos anos prevêem, além do aumento de usinas termelétricas, principalmente a combustíveis fósseis, a construção de usinas hidrelétricas na região Amazônica, e a reativação do polêmico plano de construção de novas usinas nucleares no país, inclusive duas delas no Nordeste brasileiro.
A proposta energética governamental apoiada por setores empresariais, juntamente com interesses localizados na academia pelo programa nuclear, e pelos militares que sonham com a bomba nuclear, se baseia em um modelo “ofertista” cujo suprimento será a partir de recursos fósseis, mega-hidroelétricas e de usinas nucleares.

Portanto, para concretizar em nosso país uma estratégia em bases sustentáveis, é necessário modificar profundamente as atuais políticas energéticas. Elas precisam e devem ser substituídas por um projeto diferente, contemporâneo dos desafios e possibilidades do século XXI, para que tenhamos segurança energética a curto e a longo prazo, com a regionalização, diversificação e a complementaridade da matriz energética nacional.
A transição da matriz insustentável para uma sustentável implicará uma crescente racionalização do consumo e eficientização na produção, paralelamente ao emprego de energias renováveis (eólica, solar térmica e fotovoltaica, ondas, biomassa e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e à redução do emprego de fontes não renováveis, como o petróleo, o gás natural e minérios radioativos.
Existem trabalhos que demonstram não ser necessário construir mais usinas para aumentar a oferta de energia no país. Basta racionalizar o uso, tornar a produção mais eficiente, e apostar no potencial de fontes renováveis que dispõe um país solar como o Brasil. Para isso é necessário uma decisão política que conduza o país para um futuro limpo, sem corrupção.

IHU On-Line – Qual o potencial das energias renováveis no combate ao aquecimento global e às mudanças climáticas?

Heitor Scalambrini Costa - No que chamamos de desenvolvimento sustentável, a energia como “mola propulsora” da economia tem um papel fundamental no combate ao aquecimento global e às mudanças climáticas recorrentes. E aí recai a importância das escolhas energéticas, que devem priorizar a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEEs) e, assim, mitigar os impactos do aquecimento global. Tarefa urgente para ser cumprida, pois as evidências confirmadas cientificamente pelos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática - IPCC, da ONU, mostra o papel do homem na degradação ambiental, principalmente devido ao uso e à produção de energia.

Logo, trazer toda a humanidade a um padrão de vida digno, com acesso à alimentação adequada, à saúde, à educação e a oportunidades de trabalho é uma questão que passa pela mudança de paradigma, e constitui em um grande desafio. Visto que, para continuar o crescimento da produção e do consumo atuais, como é proposto pelo modelo vigente, precisaríamos de mais de um planeta Terra para atender a estas necessidades, pois hoje já são consumidos recursos naturais a uma taxa 30% maior do que a Terra tem condições de repor.

Para se chegar à sustentabilidade, é indispensável que se criem e apliquem mecanismos pelos quais a expansão dos sistemas e a escolha das fontes de energia independa das atuais estruturas de custos e passem a ser regidas por critérios ligados aos impactos provocados sobre o meio ambiente, pela produção e consumo de energia.

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