Edição 337 | 09 Agosto 2010

Uma aposta decidida pelo trabalho com os mais pobres e excluídos

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Graziela Wolfart

 

IHU On-Line - Quais os principais desafios que a sociedade contemporânea aponta para o setor do Apostolado Social da Companhia de Jesus tendo em mente a sua missão?

Alfredo Ferro - São muitos os desafios que nos são apresentados. No entanto, menciono alguns dos quais apareceram na última reunião em Roma, no mês de abril, dos delegados ou coordenadores sociais dos continentes ou conferências de provinciais, onde estive presente e que seriam fundamentalmente os seguintes: 

1-. Gerar sentido de corpo, envolvendo mais aos jovens jesuítas para responder adequadamente aos desafios que o mundo e nossa sociedade atual nos apresentam. Isso requer preparar e capacitar as gerações jovens para este tipo de apostolado ou serviço, e assim nos interrogar pelas razões ou causas pelas quais não chama muito a atenção de alguns desses jovens se vincular ao trabalho dos centros sociais.

2-. Conseguir um equilíbrio adequado entre o acompanhamento aos pobres e excluídos da sociedade, a incidência ou “advocacy”  e a reflexão-investigação.

3-. Construir vínculos inter-setoriais e articulações entre nossas obras, em especial do setor social com as universidades.

4-. Seguir clarificando nosso compromisso pelo ecológico. Como tema e problemática central do mundo de hoje que nos impõe e com o apelo da última Congregação Geral 35, que nos convida à reconciliação com a criação, se pediu ao secretariado de justiça social em Roma que assuma essa responsabilidade desenvolvendo um trabalho a este nível, o que de outra maneira se reflita em seu novo nome: “Secretariado de justiça social e ecologia”. 

IHU On-Line - Que exemplos de iniciativas sociais o senhor poderia citar que contribuam com o trabalho social dos jesuítas no sentido de promover o diálogo cultural e inter-religioso?

Alfredo Ferro - Poderia enumerar quatro tipos de iniciativa que me ocorrem neste momento, ainda que saibamos que há várias e que não se restringem ao que chamamos de apostolado social. São iniciativas que têm a ver com o trabalho da Companhia em geral. A primeira é o trabalho que as universidades fazem no campo da pesquisa, da docência, da reflexão e do diálogo cultural, especialmente em alguns institutos que têm sido criados para isso. A segunda, os centros de “Fé e Cultura”, que agrupados em uma rede, estão presentes na maioria dos países e diretamente assumem estas temáticas. Terceiro, o trabalho de uma centena de jesuítas na América Latina, que vivem em meio de comunidades, territórios e povos indígenas, onde com um grande esforço lutam por encarnar-se e dialogam com as chamadas culturas originárias, tentando desenvolver propostas desde as mesmas culturas. E como quarta, apontaria outro tipo de diálogo, que é o que têm feito os jesuítas latino-americanos, destinados ao que se chamava anteriormente de “terras de missão”, que neste caso são principalmente alguns países da África e da China, lugares desde os quais realizam um trabalho de “evangelização” em meio de culturas diferentes.

IHU On-Line - Como o senhor descreve a concepção de trabalho social para os jesuítas do século XXI?

Alfredo Ferro - Visão e horizonte amplo, com um olhar crítico da sociedade e do modelo neoliberal imperante, onde é necessário que se dêem transformações significativas nos campos social, político, econômico e ambiental, respondendo ao “grito” das grandes maiorias por uma vida digna. Há claramente uma aposta decidida pelo trabalho com os mais pobres e excluídos e com uma clara consciência de trabalho em redes, que nos permita, por outro lado, impactar e incidir onde se tomam as decisões. De alguma maneira, essa concepção se confirma em uma das prioridades da CPAL em seu Plano Apostólico Comum (PAC), que os superiores provinciais de cada uma das regiões e províncias definiram recentemente no mês de maio na Assembléia da Guatemala como: “Proximidade e compromisso com quem vive nas fronteiras da exclusão”, o que significa atender preferencialmente aos migrantes, indígenas, vítimas da violência e outras populações vulneráveis, mediante a presença próxima, a reflexão e a incidência.

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