Edição 218 | 07 Mai 2007

“Não se deve priorizar este ou aquele setor, mas pensar políticas que afetem potencialmente todos os setores igualmente”

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IHU Online

Em entrevista por email, à IHU On-Line, o economista Pedro Cavalcante, afirmou que não acredita que a indústria brasileira esteja passando por uma crise. Ele reconhece o baixo crescimento do País nos últimos anos, mas atribui esse cenário ao nível e qualidade educacional, os quais ele classifica como “catastróficos, porque não se investe em infra-estrutura, devido à alta informalidade”.


Pedro Cavalcante, professor da Fundação Getulio Vargas, em entrevista à IHU On-Line por email, afirma que o Brasil não está vivenciando uma crise industrial. Cavalcante é graduado e mestre em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e doutor pela University of Pennsylvania. Atualmente, Cavalcante é professor da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.

IHU On-Line - Como podemos relacionar a “crise” industrial com o baixo crescimento da economia brasileira? 
Pedro Cavalcante -
Não há relação forte entre os dois fenômenos, nem acho que haja crise na indústria (que nos últimos meses, por exemplo, cresceu a um bom ritmo). O Brasil não vem crescendo, entre outras razões, porque a base tributária vem crescendo a um ritmo muito forte nos últimos 15 anos (e se acelerando nos últimos oito), porque nosso nível e qualidade educacional são catastróficos, porque não se investe em infra-estrutura, devido à alta informalidade etc. Alguns setores da indústria vão mal, mas isto não é geral. A taxa de juros ainda está alta, mas não vejo isto como a raiz de nosso atraso, é um fenômeno recente.
 
IHU On-Line - Quais as principais idéias apontadas no estudo da FGV “Por que o Brasil não precisa de Política Industrial”? Quais as principais conclusões a que se chegou com a pesquisa e quais as conseqüências delas para a economia e a sociedade brasileira?
 Pedro Cavalcante -
1) O sucesso dos países do Leste Asiático, muitas vezes atribuído ao uso de política industrial (PI), é resultado principalmente de políticas horizontais (educação, infra-estrutura, políticas fiscais e monetárias sólidas etc.);
2) A maioria dos argumentos utilizados para justificar a adoção de política industrial no Brasil carece de fundamentação teórica e empírica, afirmando-se que ela deve ser motivada por algum tipo de falha de mercado, o que não se aplica em grande medida ao caso brasileiro;
3) Avalia-se a atual política industrial brasileira, e mostra-se que ela não identifica falhas de mercado que justificaria intervenção e ainda peca por escolher setores "vencedores."  Como ponto positivo, temos a existência de metas de desempenho;
4) Por fim, conclui-se que políticas horizontais, além de estarem menos sujeitas à pressão de grupos organizados, possuem maior potencial para impulsionar o crescimento econômico brasileiro.
 
IHU On-Line - O estudo “Por que o Brasil não precisa de Política Industrial”? diz que os setores de software e semicondutores não deveriam ter sido priorizados. Essa priorização foi responsável por uma desindustrialização no País?
Pedro Cavalcante -
Nosso argumento é mais geral: não se deve priorizar este ou aquele setor, mas pensar políticas que afetem potencialmente todos os setores. Como a política industrial de hoje foi pouco efetiva, para o bem ou para o mal, não teve impacto significativo sobre a indústria. A redução do tamanho relativo da indústria é um fenômeno antigo - mais de vinte anos, pelo menos - e aconteceu em todos os países desenvolvidos, o que continuará acontecendo no Brasil. Economias avançadas hoje são economias muito mais dependente de serviços.
 
IHU On-Line - Considerando um “abandono” da política industrial no Brasil, que alternativas podemos vislumbrar para o País? Onde poderíamos apostar? Que iniciativas são recomendadas? 
Pedro Cavalcante -
Educação, Educação e Educação. Depois pensaríamos nas outras políticas: infra-estrutura (que exigirá uma regulação mais adequada que a atual); medidas de expansão do crédito; maior abertura e incentivo ao comércio internacional; reforma e redução da carga tributária, mesma que lentamente etc.

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