Edição 217 | 30 Abril 2007

Flavia Madche

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IHU Online

Flávia Mädche sabe o quanto é importante que as pessoas se conheçam para que possam fazer um trabalho melhor. E é por essa razão que a coordenadora do Núcleo de Formação Continuada de Profissionais da Educação (NUPE), da Unisinos, aceitou contar os passos de sua trajetória pessoal na entrevista que concedeu para a redação da IHU On-Line em seu gabinete. Saiba quem é a mãe da Cristina e da Martina no texto a seguir:

Origens – Nasci no interior de Lajeado, num distrito que se emancipou e hoje é o município de Marquês de Souza. Meus pais primeiro tinham uma casa de comércio e mais tarde abriram um hotel, com bar e restaurante. Tenho dois irmãos mais novos, que eu ajudei a cuidar, pois fui filha única durante seis anos. 

Infância – Lembro que, quando criança, sempre tive o desejo de aprender a ler. Praticamente me alfabetizei olhando e fazendo recortes do jornal Correio do Povo. No jardim da infância eu achava que se fazia muito pouco. Depois do intervalo, eu “fugia” para a sala de aula onde estudavam meus amigos mais velhos. Uma escola com turmas multiseriadas, de 1ª a 5ª série. Eu ficava em pé, ao lado de minha prima ouvindo tudo e escrevendo num caderno. Não podia me sentar, pois meus pés ainda não alcançavam o chão, de tão pequena que eu era. Mas queria ser grande e saber ler. Movia os lábios fazendo de conta que lia. Lembro que todo dia às 18h eu adorava escutar rádio, quando eram retransmitidos contos infantis (era a novela das crianças).

Formação – Fiz  minha formação primária na Escola Evangélica de Marquês de Souza, continuei os estudos no Colégio Alberto Torres, de Lajeado, onde concluí o ginásio. Fiquei  interna nesta escola por três anos. Mas era muito caro para meus pais. Então, minha família mudou-se para Lajeado e passei a ser aluna externa. Meus pais sempre diziam que o estudo era a melhor herança. Para eles o investimento na educação seria a maior herança que poderiam deixar para os filhos. Terminado o ginásio, optei por cursar magistério no Colégio Católico Madre Bárbara, em Lajeado. Identifiquei-me com o curso e me encontrei como pessoa. Vi que ali havia um espaço para ajudar as pessoas através da formação a se envolverem no contexto social e serem mais felizes. Mais tarde, aprofundei-me nos estudos de confissão de fé, participei de um Curso de Escola Bíblica e me tornei professora de Ensino Religioso para turmas de ensino fundamental e médio. Fiz a faculdade de Pedagogia em Santo Ângelo, na época FUNDAMES. Realizei alguns cursos de pós-graduação e concluí meus estudos  fazendo o doutorado em Educação na Alemanha, em Munique, na Ludwig Maximilians Universität. Paralelamente a isso, realizei estudos nas faculdades de sociologia e psicologia social na mesma universidade. Morei em Munique durante oito anos. 

Trabalho – Desde pequena aprendi a trabalhar. Comecei ajudando no hotel que meus pais tinham. Em Lajeado, meus pais voltaram a abrir uma casa de comércio de secos e molhados,  um armazém. Lá eu também ajudava e foi onde aprendi a ver o valor da matemática: contava os ovos, trocava mercadorias com os produtores rurais, tinha que fazer os cálculos sem errar. Também trabalhei um tempo em um escritório de contabilidade, com um primo meu. Mais tarde, fui assessora concursada na Prefeitura de Lajeado. Como casada, morei um tempo no Oeste do Paraná, na cidade de Matelândia, onde criei uma escola de Educação Infantil, que foi reconhecida como escola modelo na região e existe até hoje, tendo crescido até o Ensino Médio. Morei no Paraná durante cinco anos. Voltamos ao sul, para Porto Alegre, onde moramos por oito meses e, de lá, nos mudamos para Santo Ângelo. Foi quando me chamaram de volta para Matelândia para assumir a Secretaria Municipal de Educação. E de lá fui convidada a assumir, por três anos, a assessoria pedagógica do trabalho de 36 municípios do oeste do Paraná. O desafio estava na construção de uma proposta de educação diferenciada do restante do estado, esta devia ser voltada para a região. Priorizar o local para então chegar ao universal. Quando voltei da Alemanha, trabalhei por dois anos na Feevale e, em 1986, fiz seleção e passei a integrar o corpo docente da Unisinos, dando aula no curso de Pedagogia. Mais tarde, assumi a coordenação do curso por dois anos. Trabalhei no Núcleo de Formação de Professores e hoje coordeno o Núcleo de Formação Continuada de Profissionais da Educação (NUPE) um projeto do MEC com a UNISINOS.  Este existe desde 2004.

Família – Fui casada com o Arnoldo, que é pai das minhas duas filhas: Cristina, a mais velha, fez Medicina na UFRGS, e Martina, a mais nova, cursou Direito na Unisinos. As duas são casadas. Cristina casou com um alemão (que ela conheceu no Brasil) através de um curso de Alemão do Unilínguas, e voltou a morar na Alemanha, onde teve a minha neta Ana, de um ano. E a Martina é casada com um ex-aluno da Unisinos e mora com o marido e o meu neto Cassiano, de dois anos, em Porto Alegre. 

Livro – A sabedoria dos monges na arte de liderar pessoas, de Anselm Grün, lançado no ano passado. É difícil citar um livro como o mais importante, por isso prefiro citar um lido mais recentemente. 

Autor – Paulo Freire.

Filme – Edukators, filme alemão do diretor Hans Weingartner.

Horas livres – Cada vez são menos. Ultimamente  é preciso aproveitá-las para corrigir  os trabalhos dos estudantes.

Sonho – Que a formação continuada se efetive no Brasil. Para isso estou trabalhando.

Brasil e política – O cenário brasileiro se mostra complexo. Isso impede que façamos uma análise mais séria, considerando que muitas informações nos são omitidas.

Unisinos – A Unisinos é um espaço de busca de formação e educação. Para fazer isso bem, que é a atribuição de uma universidade, nos tempos em que nós vivemos, ela precisa estar constantemente mudando.

IHU – Oferece uma contribuição crítica e política, que toda instituição deveria ter.

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