Edição 213 | 26 Março 2007

Os movimentos sociais fortes são os indígenas

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IHU Online

José Comblin, residente no Brasil há várias décadas e um dos maiores conhecedores dos problemas teológicos e eclesiais da América Latina, concedeu a entrevista que segue para a revista IHU On-Line por e-mail. Ele veio para o Brasil a convite de D. Hélder Câmara, arcebispo de Recife. Foi expulso do Brasil pelo regime militar. Autor de inúmeros livros, vive, atualmente, no sertão da Paraíba.

O padre José Comblin dedicou-se à teologia durante 50 anos. Na América Latina, participou do primeiro grupo dos futuros teólogos da teologia da libertação ainda em gestação nas reuniões de Cuernavaca, Petrópolis, Montevidéu e Santiago em 1964 e nos anos seguintes. Nos últimos 30 anos, dedicou a maior parte do seu tempo à formação de leigos. Esteve primeiro na raiz das equipes de formação de seminaristas no campo em Pernambuco e na Paraíba (1969), do seminário rural de Talca (1978) e de outro, na Paraíba, em Serra Redonda (1981). Estas iniciativas deram origem à chamada "teologia da enxada". Comblin esteve na origem da criação dos Missionários do Campo (1981), das Missionárias do Meio Popular (1986), dos Missionários formados em Juazeiro da Bahia (1989), na Paraíba (1994) e em Tocatins (1997). Orientou cursos de formação de animadores de comunidades de base com um grupo de colaboradores (1981).
José Comblin, autor de inúmeros livros, escreveu A Ideologia da Segurança Nacional: O poder militar na América. Latina. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1978. Confira a entrevista que realizamos com ele, sob o título Uma radiografia da América Latina, na edição nº 176 da IHU On-Line, de 17 de abril de 2006.

IHU On-Line - Como podemos entender o novo panorama político latino-americano? Quais os possíveis rumos da América Latina, considerando os novos presidentes eleitos?
José Comblin -
Sem dúvida, a presença dos Estados Unidos será menos forte. Há uma tendência geral para líderes carismáticos, como Hugo Chávez e Evo Morales, mas há outros, como Lula, que não querem o apoio popular e têm medo dele. No entanto, o sistema dito democrático tem perdido legitimidade e a porta está aberta para modelos diferentes.

IHU On-Line - Em que sentido podemos perceber a influência da Teologia da Libertação na forma de administrar dos novos presidentes latino-americanos?
José Comblin -
O presidente da Venezuela, ou Evo Morales, não têm muita dependência da teologia da libertação. Os novos presidentes irão necessitá-la para lutar contra as posições conservadoras da hierarquia, mas esta, todavia, não está generalizada.

IHU On-Line - Como entender a movimentação social que tem acontecido na América Latina? Qual a origem e a explicação desse movimento por parte da sociedade civil e dos movimentos sociais que tem balançado nossos países latinos?
José Comblin -
Os movimentos sociais fortes são os indígenas. Os demais são muito débeis. Mais do que a força dos movimentos sociais, o que os movimenta é a rejeição à corrupção e à ineficiência do sistema democrático. O desafio é formar movimentos sociais a partir dessa rejeição.

IHU On-Line - Podemos considerar três grandes “ondas” na América Latina: Bush lutando pela Alca, Lula lutando pelo Mercosul e Chávez lutando pela Alba. Em qual dessas “ondas” o senhor aposta? Para onde estamos caminhando?
José Comblin -
A Alca já morreu. Os Estados Unidos tratam de impor tratados de livre comércio com cada país. Mercosul e Alba combinam a médio prazo. O problema é a lentidão do Brasil, pois somente o Brasil pode liderar.

IHU On-Line - Quais os maiores desafios dos novos governos latino-americanos? Estados Unidos? FMI? O que mais ameaça a independência da América Latina? 
José Comblin -
O grande obstáculo é interno: a força das elites que monopolizam todos os poderes. Chávez pôde fazê-lo porque tem petróleo. E as elites estavam em um estado de corrupção mais adiantado. As elites não querem fazer nenhuma concessão. É necessária uma força popular muito mais organizada.

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