Edição | 02 Setembro 2019

Hans Jonas – Luzes para uma ética preocupada com o futuro

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Ricardo Machado

Em 2019 completam-se 40 anos da publicação original, em alemão , de O princípio responsabilidade. Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica (Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2006) [No título original Das Prinzip Verantwortung. Versuch einer Ethik für die technologische Zivilisation (Suhrkamp, Frankfurt am Main 1979)] , livro seminal de Hans Jonas, filósofo de origem alemã radicado nos Estados Unidos. Ao pensar a ética em perspectiva não restrita ao tempo presente e ao âmbito intra-humano, mas, sim, em relação ao futuro e à natureza como um todo, Jonas questiona o nosso dever de basearmos nossas ações levando em conta aqueles que ainda não vieram e que, continuando o atual avanço tecnológico, possam jamais vir à existência.

A obra de Jonas retoma imperativos éticos da Antiguidade, Modernidade e Contemporaneidade para colocá-los em perspectiva com as sombras mais obscuras da razão ocidental: o holocausto nazifascista e o crime técnico das bombas atômicas durante a Segunda Guerra Mundial. É a outra metade da dialética racionalista europeia, a que fica no lado oposto aos Iluminismos dos séculos XVII, XVIII e XIX, que preocupa o autor e que o faz pensar sobre os novos poderes humanos em escalas inimagináveis.

As questões teóricas levantadas por Jonas, nem de longe estavam restritas aos seres humanos, razão pela qual o autor é retomado contemporaneamente por ambientalistas para pensar nossos dilemas em torno da responsabilidade com o meio ambiente e, com isso, com a vida. As sociedades tecnocientíficas contemporâneas acrescentam ainda mais elementos à complexa teia da responsabilidade a que somos convocados a pensar.

Discutir ou mesmo apresentar uma obra com tal profundidade e sofisticação teórica não é tarefa para poucos parágrafos, ainda mais de uma ética que, em certa medida, rompe com a tradição e volta-se não para o presente, mas para um futuro, apesar da debilidade de nossa imaginação projetual.

Biografia

Hans Jonas (1903-1993) foi um filósofo alemão. É conhecido principalmente devido à sua influente obra O princípio responsabilidade (publicada em alemão em 1979, e em inglês em 1984). Seu trabalho concentra-se nos problemas éticos criados pela tecnologia e nos estudos sobre a vida. Jonas sustenta que a sobrevivência humana depende de nossos esforços para cuidar do planeta e de seu futuro. Formulou um novo e característico imperativo moral supremo: “Atuar de forma que os efeitos de nossas ações sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana genuína”.

Jonas nasceu na cidade de Mönchengladbach, em 10 de maio de 1903. Estudou filosofia e teologia em Friburgo, Berlim e Heidelberg, onde teve aulas com Husserl e Rudolf Bultman , até se doutorar em Marburg, sob orientação de Martin Heidegger , com um trabalho sobre a influência dos movimentos gnósticos nos primórdios do cristianismo. Lá conheceu Hannah Arendt , que também estava fazendo doutorado, e com ela manteve uma amizade que duraria o resto de suas vidas.

Em 1933, Heidegger uniu-se ao partido nazista, algo que Jonas tomou pessoalmente, já que era de origem judia e sionista. O fato de o grande filósofo cometer tal ato político fez Jonas questionar o valor da filosofia.

Deixou a Alemanha e foi para a Inglaterra nesse mesmo ano e de lá viajou para a Palestina em 1934. Em 1940 retornou à Europa como soldado do exército britânico, que havia formado uma brigada especial para judeus alemães que quisessem lutar contra Hitler. Foi enviado à Itália, e até o final da guerra à Alemanha. Assim cumpriu sua promessa de somente retornar à sua terra se fosse como um soldado de um exército vitorioso. Durante a guerra escreveu numerosas cartas, tanto filosóficas como amorosas, a Lore, com quem se casaria em 1943. Esses textos foram o germe da obra The phenomenon of life, lançada em 1966.

Imediatamente após a guerra, voltou a Mönchengladbach para buscar a sua mãe, porém descobriu que ela havia sido enviada para as câmaras de gás de Auschwitz. Sabendo disso, rechaçou a ideia de viver outra vez na Alemanha. Retornou à Palestina, e tomou parte na guerra árabe-israelense de 1948. Apesar disso, sentiu que seu destino não era ser um sionista, mas ensinar filosofia. Jonas deu aulas na Universidade Hebraica de Jerusalém, brevemente, antes de mudar-se para a América do Norte. Em 1950 foi para o Canadá, ensinando na Universidade de Carleton, e de lá se mudou para Nova York, em 1955, onde viveu o resto de seus dias. Trabalhou para a Nova Escola de Investigações Sociais entre 1955 e 1976, onde já estava Hannah Arendt. Morreu em 5 de fevereiro de 1993, aos 89 anos.

Eventos relacionados aos 40 anos de O princípio responsabilidade

VI Colóquio Hans Jonas: PUCPR, em Curitiba, 25 e 26 de setembro de 2019


Congresso Internacional: PUC Chile, Santiago do Chile, 1 e 2 de outubro de 2019

II Colóquio Luso-brasileiro Hans Jonas: Universidade de Coimbra, Portugal, 11 e 12 de outubro de 2019
Inscrições e informações através do e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.


XVII Simpósio de Filosofia: Faculdade São Luiz, Brusque-SC, 16 a 18 de outubro de 2019

Livro: Vocabulário Hans Jonas (OLIVEIRA, Jelson; POMMIER, Eric; orgs. EDUCS, 2019, 260p.)
Valor R$ 35 + custo de postagem
Informações no e-mail através do e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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