Edição 537 | 10 Junho 2019

A fagocitose do capital - e as possibilidades de uma economia que faz viver e não mata

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Recentemente, o Papa Francisco convocou um evento a ser realizado em Assis, Itália, nos dias 26 a 28 de março – a convocatória do evento foi publicada nas Notícias do dia de 13-05-2019, no sítio o IHU –, em que se debaterá a realização de um pacto por “uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a deprecia”. Segundo Francisco, trata-se de “um ‘pacto’ para mudar a atual economia e dar alma à economia do amanhã. Sim, precisamos “re-almar” a economia”, exclama o papa.

A presente edição da IHU On-Line quer contribuir neste debate, consciente da capacidade de fagocitose o capital, delinear possibilidades de uma outra economia.

O professor Luiz Gonzaga Belluzzo reconhece que é emergente a concepção de outros paradigmas econômicos, mas antes é preciso que se apreenda a gênese do capitalismo, com sua grande capacidade de adaptabilidade e de se reerguer de crises geradas por eles. O “velho cap”, como diz, precisa ser dissecado para que se consiga entender essa sua capacidade de transformação.

Guilherme Delgado, doutor em Economia pela Unicamp, também acredita que o totalitarismo de mercado não é a única possibilidade para superar crises. “A reflexão sobre economia humana, - segundo ele - fundamentada em critérios ético-teológicos, constrói simbolicamente novos argumentos e inspirações para mover desde já projetos susceptíveis de apresentar respostas a graves problemas”.

É com o intuito de recuperar essa perspectiva social no econômico que o economista e professor da Universidade Federal de Uberlândia José Garlipp recupera o pensamento de Karl Polanyi. A incrustação do tecido social na economia é uma das principais teses do autor do clássico “The Great Transformation: The Political and Economic Origins of Our Time” [Na edição em português, “A Grande Transformação. As Origens Políticas e Económicas do Nosso Tempo” (Edições 70, 2012)].

A Escola Francesa da Regulação, que entre outros economistas, tem como Michel Aglietta como expoente é analisada pelo professor do Departamento de Economia da PUC-SP, João Ildebrando Bocchi.

Para a professora do Instituto de Economia da UFRJ Esther Dweck, o problema está realmente quando se passa a ver a economia apenas como uma ciência exata, calcada em números e resultados. Por isso, defende que não se perca a perspectiva de que economia é ciência social aplicada.

Ladislau Dowbor, economista e professor titular de pós-graduação da PUC-SP, acredita que já dispomos de recursos financeiros e tecnológicos para assegurar uma reconversão econômica. O que falta, para ele, é vontade política, menos glorificação de bilionários e mais bem-estar das famílias.

Os economistas Camila Ugino e Patrick Andrade também reconhecem essa capacidade de adaptabilidade do capitalismo, mas também revelam a incapacidade de assegurar certa estabilidade por um longo tempo. Por isso, apostam em saídas estratégicas atrás de políticas econômicas constituídas desde baixo, ou seja, que não sejam impostas pelos mercados, mas a partir da realidade política e social.

O professor Luiz Carlos Bresser-Pereira compreende o atual cenário e por isso reedita sua tese da emergência de um novo desenvolvimentismo. Isso porque, acredita ele, a teoria econômica neoclássica não dá conta dos desafios atuais, sendo necessária uma teoria econômica pós-keynesiana e um Estado forte.

Este número ainda traz a entrevistas com o jesuíta e historiador John O’Malley, que reflete sobre o Concílio Vaticano I, por ocasião do 150º aniversário, e o comentário de João Ladeira, que analisa o filme Sobibor, de Konstantin Khabenskiy (2018), e de Jorge Grespan, em apresenta seu novo livro Marx e a crítica do modo de representação capitalista (São Paulo: Boitempo, 2018)

A todas e a todos uma boa leitura e uma excelente semana!

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