Edição 529 | 01 Outubro 2018

O que deseja em nós sem nós mesmos

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Márcia Junges | Edição: Ricardo Machado | Tradução: Vanise Dresch

Paul Valadier analisa como a moral opera nas profundezas de nosso ser, longe, às vezes, de nossa própria consciência, transformando a vida em um ideal ascético

Nascido em berço luterano, com pai e avô tendo sido pastores, Nietzsche cresceu em um ambiente de valorização da interioridade austera da moral de si. “A Primeira Dissertação [da Genealogia da Moral] propõe uma ‘genealogia’ da vontade moral, aquela que é marcada pelo cristianismo, mas, de modo mais generalizado, tal genealogia tem a pretensão de valer para toda e qualquer vida moral. A genealogia quer “descer” ao sombrio laboratório onde se elaboram as decisões morais, sondando as profundezas daquilo que, hoje, chamaríamos de inconsciente: aquilo que deseja em nós sem nós, sem a nossa vontade explícita e clara, um fundo inacessível, mas poderoso”, explica Paul Valadier em entrevista por e-mail à IHU On-Line.

Uma figura do pensamento importante na obra nietzschiana é a do “padre ascético”, que designa todos aqueles que atribuem ao sofrimento humano uma causa absolutamente pessoal, em que o indivíduo é responsável exclusivo pelo próprio sofrimento em permanente dívida. “O valor contemporâneo das análises abordadas aqui suscintamente está no fato de que o padre ascético é múltiplo: propõe um ideal ascético qualquer um que propuser um sentido para aquilo que não tem sentido, uma orientação positiva para aquilo que, à primeira vista, permanece indecifrável”, pondera Valadier. “Poderíamos dizer que as ideologias modernas, tais como o marxismo-leninismo, constituem ideais ascéticos; eles explicam a necessidade de saber sofrer ou até mesmo de se sacrificar totalmente para fazer advir um ‘futuro radioso’ e afirmam que o sofrimento do militante engendra(rá) uma sociedade da qual a injustiça será banida. O inconveniente de tais ideais está no fato de que a solução libertária nunca vem”, complementa.

Paul Valadier, jesuíta, é professor emérito de filosofia moral e política nas Faculdades Jesuítas de Paris (Centre Sèvres). É licenciado em Filosofia pela Sorbonne, mestre e doutor em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Lyon. Foi redator da revista Études e é autor de uma vasta bibliografia. Escreveu, entre outros, Nietzsche et la critique du christianisme (Paris: Cerf, 1974); Essais sur la modernité, Nietzsche, l’athée de rigueur (Paris: DDB, 1989); La part des choses. Compromis et intransigeance (Paris: Lethielleux – Groupe DDB, 2010); e Elogio da consciência (São Leopoldo: Unisinos, 2001).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Qual é o cristianismo ao qual Nietzsche se refere em sua crítica realizada em Genealogia da Moral?
Paul Valadier – Não devemos esquecer que Nietzsche nasceu numa família de pastores protestantes; seu pai e seus dois avôs eram pastores. É um peso carregar essa hereditariedade! Seu cristianismo de inspiração luterana era marcado pelo pietismo, isto é, por uma religião que valorizava muito a interioridade (orações, recolhimento) e que também exigia uma estrita disciplina de vida. Essa religião austera, então, foi logo varrida no estudante de Bonn por volta do ano de 1864, tanto pela leitura da obra de Schopenhauer quanto pelo contato com uma teologia liberal já marcada pela desmistificação das Escrituras. Basta ler a Primeira Consideração Intempestiva, texto dedicado a David Strauss , um dos teólogos marcantes da época, para constatar o quanto o jovem Nietzsche se mostra severo com esse cristianismo. É o mesmo que ele tem em mente quando escreve Genealogia da Moral (São Paulo: Companhia das Letras, 1998). O que ele conhece, portanto, é uma religião pietista que a crítica exegética liberal moderna desafia.

IHU On-Line – Em que sentido a Primeira Dissertação da Genealogia da Moral propõe uma psicologia do cristianismo? O que ela expressa?
Paul Valadier – O leitor da Genealogia deve levar em conta o subtítulo do livro: trata-se de uma obra polêmica (Eine Streitschrift). Ela dá continuidade a Assim falou Zaratustra (São Paulo: Companhia de Bolso, 2008), que, segundo Ecce Homo (São Paulo: Companhia de Bolso, 2008) – livro tardio no qual Nietzsche relê sua obra –, é julgado excessivamente entusiasta, positivo e “ensolarado”. Ele deseja então corrigir esse ímpeto com duas obras críticas: Além do Bem e do Mal (São Paulo: Companhia de Bolso, 2005), e Genealogia da Moral (Zur Genealogie der Moral, que deveria ser traduzido por Contribuição a uma Genealogia da Moral). Assim, esses dois livros devem “completar e explicitar” Zaratustra. Ora, a crítica pressupõe a afirmação e o “dizer sim” que é a primeira grande obra, Assim falou Zaratrusta. Esse ponto é essencial para não vermos em nosso texto apenas o aspecto intensamente crítico e negativo. Mas o subtítulo indica também uma vasta ambição: Nietzsche pretende mobilizar muitos pesquisadores para lançar uma longa investigação sobre as morais em geral; essa investigação nunca se realizará, mas sua amplitude mostra que não se trata apenas do cristianismo.

A Primeira Dissertação propõe uma “genealogia” da vontade moral, aquela que é marcada pelo cristianismo, mas, de modo mais generalizado, tal genealogia tem a pretensão de valer para toda e qualquer vida moral. A genealogia quer “descer” ao sombrio laboratório onde se elaboram as decisões morais, sondando as profundezas daquilo que, hoje, chamaríamos de inconsciente: aquilo que deseja em nós sem nós, sem a nossa vontade explícita e clara, um fundo inacessível, mas poderoso. O cristianismo é visado porque, aos olhos do filósofo, moldou a moral dominante, aquela que se infunde na maioria dos europeus. “Precisamos de uma crítica de nossos valores morais. É o valor desses valores que precisamos começar a questionar” (Prefácio, § 6). Mas Nietzsche propõe um trabalho de análise válida para qualquer moral. Ele lança uma temível pergunta: e se o que tomamos geralmente como sendo o bem fosse o mal, e inversamente? Não estaríamos colocando o valor do bom acima daquele do “mau”? E se essa falta de lucidez fosse “às expensas do futuro” da humanidade (ibidem)?

IHU On-Line – A partir dessa constatação, qual é o nexo entre essa psicologia do cristianismo e o ressentimento?
Paul Valadier – Há um nexo explícito entre as análises do ressentimento da Primeira Dissertação (§ 10) e o cristianismo, posto que “a insurreição dos escravos na moral começa com o ressentimento” e porque o cristianismo paulino valoriza os “desvalidos” da época como sendo os eleitos de Deus e destina-se primordialmente aos escravos do Império Romano. Os escravos não cessam de ruminar sua fraqueza, sua impotência, porque pensam poder se vingar dos “nobres”, dos fortes, não eleitos, se não na terra, pelo menos aos olhos de Deus. Deleitam-se, pois, com sua impotência porque, em longo prazo, ela pode favorecer uma inversão destrutiva para os nobres. Até mesmo no momento presente, pois os escravos tentarão desvalorizar a nobreza do nobre, dando-lhe vergonha de sua (falsa) superioridade. Nesse sentido, o ressentimento é “criador” porque vai destruir o nobre a partir do seu interior, mostrando-lhe que ele não é tão nobre quanto pensa, nem tão forte quanto alega. Procura dividi-lo dele mesmo, em suma, transformá-lo em escravo, reduzi-lo ao que ele mesmo é, um ser dividido, incapaz de dizer francamente sim ao que ele é.

Insisto, esse cristianismo é o que triunfou com São Paulo, o grande adversário de Nietzsche. Mas sua religião não tem nada a ver com a mensagem de Jesus que é o puro “dizer sim” a si mesmo (presença de Deus em cada um), ao outro (perdoar, não julgar) e à vida (despreocupação com o dia seguinte), generalizadamente sim à vida, pois Jesus nunca desejou sua morte. Nesse aspecto, Nietzsche admira Jesus, mas pensa que Paulo deformou a mensagem dele, introduzindo justamente a morte (a cruz) na vida, impondo à salvação uma condição: arrepender-se, confessar sua fraqueza ou seu pecado, assumir-se fraco e impotente, logo, escravo.

IHU On-Line – Como podemos compreender a relação entre consciência e crueldade dentro das proposições da Segunda Dissertação?
Paul Valadier – A Segunda Dissertação não deixou de interessar os antropólogos, como Pierre Clastres . De fato, Nietzsche tenta chegar a uma espécie de nascimento da humanidade mergulhando numa pré-história mais ou menos imaginada por ele (intuída com genialidade, pois ele não é especialista em pré-história!). Longe do idílio rousseauista do contrato social a partir de indivíduos independentes e soberanos, Nietzsche propõe considerar “o animal homem” preso em um contrato coercivo para o devedor. Qual sociedade tradicional não se vê ela mesma “em dívida” com seus ancestrais, com os deuses ou com o passado, numa dívida insolvente? Esse contrato implica em castigos, represálias, sacrifícios de todo tipo, porque é impossível estar à altura das exigências da dívida, que implica também na tortura para fazer sentir fisicamente a rudeza do compromisso e da promessa (impossível de cumprir). Aqui também, Nietzsche não poupa o seu leitor, pois, em sua visão, essas rudes disciplinas que chegam ao ponto de derramar sangue são a condição histórica para que o indivíduo soberano nasça para si mesmo, para que forje uma vontade e cultive sua memória. Entre “credor” e “devedor”, a relação contratual implica no “castigo”, não porque estaria em jogo uma responsabilidade, logo, uma culpa, mas por puro exercício de uma obrigação que encontramos nas “primeiras formas de compra, venda, escambo e comércio” (§ 4). O sofrimento, de certa forma, é uma compensação à dívida, a uma dívida infinita.

Por certo, ao longo dos tempos, essa crueldade exercida vai “espiritualizar-se”, “divinizar-se” (§ 6), tomando então formas sutis de sofrimentos infligidos à pessoa, como tantos “prelúdios” ao próprio homem. Desta crueldade do contrato vai surgir o “homem soberano”, isto é, a “consciência” (Gewissen), logo, a consciência moral (§ 2). Essas páginas alucinantes proclamam de fato: “não há festa sem crueldade, eis o ensinamento da mais antiga e da mais longa história do homem; e até mesmo o castigo como festividade” (§ 6 in fine). Evidentemente, o cristão (paulino), para quem o sofrimento da Cruz é a condição da salvação, entra plenamente nessa história. Até mesmo a divindade se compraz em contemplar o infortúnio dos homens, como “espectadora cruel”, imagem essa que, aliás, está “presente em nossa humanização europeia! Basta consultar, acerca disso, Calvino e Lutero ” (§ 7). Porque o Deus cristão vê tudo, não tem pudor, sendo totalmente incompreensível para os gregos antigos, cujos deuses tinham pouco a ver com os assuntos humanos... Pouco a ver com o voyeurismo, portanto!

IHU On-Line – Ainda no âmbito da Segunda Dissertação, qual é a contribuição de Nietzsche para a compreensão do conceito de Schuld como culpa e dívida, concomitantemente?
Paul Valadier – Com a Terceira Dissertação, aparece um personagem, à primeira vista, enigmático que é o “padre asceta”, expressão nova na obra de Nietzsche. Quem é ele? São designados assim todos aqueles que propõem “um ideal ascético” capaz de dar sentido ao sofrimento humano, à tortura de uma vida sempre em dívida. A quem tenta compreender em vão por que sua vida é sofrimento permanente, o conselho do padre asceta consiste em explicar que o indivíduo é culpado pelo seu próprio sofrimento, que ele não tem de buscar a falta de sentido de sua vida numa causa ilusória (§ 15). Como ele é o pecador, é normal e perfeitamente razoável que sofra. Nesse sentido, o padre ascético tem um papel positivo, uma vez que permite ao fraco conduzir sua vida. O remédio oferecido por esse médico da alma pode então se apresentar como uma salvação, mas, na realidade, esse tratamento não faz senão agravar o mal, na medida em que consiste em colocar a vida contra ela mesma, em aumentar ainda mais o peso de consciência do pecador. O tratamento enclausura o indivíduo em si mesmo, sem possibilidade de emancipar-se do ideal ascético. O ressentimento é, portanto, “desviado” (ibidem) para o próprio culpado: “como uma galinha em torno da qual se traçaria um círculo” (§ 21), pois “do paciente se faria um pecador”.

O valor contemporâneo das análises abordadas aqui suscintamente está no fato de que o padre ascético é múltiplo: propõe um ideal ascético qualquer um que propuser um sentido para aquilo que não tem sentido, uma orientação positiva para aquilo que, à primeira vista, permanece indecifrável. Poderíamos dizer que as ideologias modernas, tais como o marxismo-leninismo, constituem ideais ascéticos; eles explicam a necessidade de saber sofrer ou até mesmo de se sacrificar totalmente para fazer advir um “futuro radioso” e afirmam que o sofrimento do militante engendra(rá) uma sociedade da qual a injustiça será banida. O inconveniente de tais ideais está no fato de que a solução libertária nunca vem, perdurando o sacrifício pessoal, a luta, portanto, o ascetismo da disciplina partidária, e também o sistema de coerções totalitárias, considerado necessário para o advento sempre adiado do ideal. Nesse sentido, um ideal assim mata, é portador de morte, sendo, portanto, niilista.

Mas o que dissemos a respeito do leninismo poderia ser dito da “religião do progresso” (anunciada por alguém como Renan), que justifica os sacrifícios das gerações atuais em benefício de um avanço certo da humanidade rumo ao bem e à paz. Uma saída das trevas para alcançar a luz!

IHU On-Line – Ao se referir ao ideal ascético na Terceira Dissertação, Nietzsche problematiza o âmago do cristianismo. Quais são os pontos que considera serem adequados, e quais não estão de acordo com aquilo que o Cristianismo propõe em sua essência?
Paul Valadier – O ideal ascético, como Nietzsche o concebe, está certamente presente em certas tradições espirituais que insistem na abnegação, no arrependimento, na culpa perante Deus. Certas correntes dominantes entre os evangélicos seguem exatamente essa linha, insistindo firmemente no pecado e na ira de Deus ou jogando com o medo para converter. Mas não podemos reduzir a essência do cristianismo a essas deformações perversas.

IHU On-Line – Para Nietzsche, enquanto o aristocrata possui confiança em si próprio, o homem rancoroso não é leal nem mesmo a si próprio. Qual é a atualidade desse diagnóstico em um tempo como o nosso, no qual o niilismo parece se aprofundar cada vez mais?
Paul Valadier – A diferença entre nobreza (Vornehmheit, em alemão, que deveria ser traduzido por “distinção”) e servidão me parece muito atual. Nossas sociedades democráticas são marcadas, de fato, pelo gregarismo, pelo conformismo, pelo politicamente correto e pelo temor de “distinguir-se” pela coragem, pela virtude ou pela autoafirmação. Essas sociedades nivelam, recusando-se a admitir as diferenças que são constitutivas da vida humana. Há um igualitarismo temível, por exemplo, entre os sexos ou os “gêneros”, que acaba por exaurir as forças criadoras e leva a uma monotonia da existência, segundo o princípio relativista do “tudo se equivale”, “todas as coisas têm o mesmo sentido”, todas as atitudes morais são legítimas e nenhuma hierarquia entre as condutas e os comportamentos é admitida. Assim, tudo pode ser justificado, até mesmo o pior, infelizmente. Nesse sentido, as análises nietzschianas, embora excessivas por vezes, podem fornecer uma chave para a compreensão das inclinações niilistas de nossas sociedades contemporâneas.

IHU On-Line – Em O Anticristo, escrito um ano após Genealogia da Moral, Nietzsche formula com ainda mais contundência a sua crítica e veredito ao cristianismo. Qual é a contribuição desse posicionamento para a compreensão das estruturas político-sociais da Modernidade?
Paul Valadier – O Anticristo é uma obra quase póstuma, porque Nietzsche, tomado pela loucura, não pôde fazer uma última revisão. Esse livro é marcado pelos excessos do autor, por suas afirmações chocantes muitas vezes injustificadas, pela violência de juízos arbitrários que não resistem a uma abordagem mais objetiva ou serena do cristianismo, como exigem as ciências religiosas atuais, a exegese em particular. Portanto, é preciso abordar esse livro com reservas, até mesmo com certa desconfiança. Encontramos um Nietzsche à beira da loucura nessa obra, já marcada por uma escrita febril, fragmentada, apressada. ■

Leia mais

- Investidas contra o Deus moral obsessivo. Entrevista com Paul Valadier, publicada na Revista IHU On-Line, nº 127, de 13-12-2004.

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- Narrar Deus no horizonte do niilismo: a reviviscência do divino. Entrevista com Paul Valadier, publicada na Revista IHU On-Line nº 303, de 10-8-2009.

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