Edição 523 | 04 Junho 2018

A esquerda e a reinvenção da política. Um debate

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Nos tempos atuais, algumas das observações mais recorrentes acerca da política brasileira referem-se ao esgotamento da esquerda. De outro lado, a direita é associada como responsável por profundos retrocessos em curso, por exemplo, no atual governo. O debate se acirrou de tal maneira que, não raro, esgota-se qualquer possibilidade de avanço ou até mesmo de compreensão da realidade. Para além de projetos de poderes e para além de experiências governamentais, impõem-se a necessidade de analisar as perspectivas políticas do Brasil contemporâneo.

Esta edição da revista IHU On-Line se insere neste debate, enfocando o pensamento de esquerda no país e, por extensão, da América do Sul. Com este intuito, a publicação se soma ao 3º Ciclo de Estudos – A esquerda e a reinvenção da política no Brasil contemporâneo. Limites e perspectivas, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. A atividade iniciou dia 22 de março de 2018 e encerrou no último dia 28 de maio. O 4º Ciclo já está sendo preparado. Com o título A reinvenção da política no Brasil contemporâneo. Limites e perspectivas, as atividades serão realizadas em dois dias no próximo semestre, nos meses de setembro e de novembro. Mais detalhes podem ser acessados na página de eventos do IHU.

Nesta edição da IHU On-Line, a psicanalista Flávia Cêra chama atenção para uma realidade trágica dos dias de hoje: a lógica de extermínio perde o véu e está em praça pública. Nesse cenário de brutalidade, há uma crise da política representativa que pegou a esquerda de jeito, enquanto a direita suprime a compreensão e o diálogo.

O uruguaio Eduardo Gudynas afirma que uma nova esquerda é imprescindível para a América do Sul e reconhece que a situação é muito complicada, porque o esgotamento dos progressismos tem efeitos negativos multiplicados. Ele entende que “o compromisso de esquerda com a justiça social mantém toda a sua vigência e, com isto, a necessidade de democratizar a política”. No entanto, precisa ser “nova” porque a temática ambiental deve ser somada à sua postura tradicional.

Ainda sobre o continente sul-americano, Raúl Zibechi observa que o ciclo progressista chegou ao fim e está em crescimento uma nova direita. A esquerda, por sua vez, necessita de um projeto de transformação da sociedade que não passe necessariamente pela ocupação do Estado.

A professora Gisele Cittadino lembra que o discurso anticorrupção volta-se contra governos populares no Brasil e que quando as elites brasileiras têm seus interesses contrariados, o tema reaparece. “Nem os governos militares, durante os quais consagram-se políticos como Paulo Maluf, José Sarney ou Antônio Carlos Magalhães, nem a era FHC, com suas privatizações enviesadas ou com a compra da reeleição, passaram para a história como governos corruptos.”

O professor Alexandre Costa defende que uma análise sobre o futuro e a relevância das esquerdas na política brasileira precisa reconhecer a “existência de algumas conquistas sociais em 13 anos de governo encabeçado pelo maior partido de esquerda brasileiro”, mas também necessita “colocar o dedo na ferida” para verificar as consequências da política do “ganha-ganha” e das apostas econômicas e ambientais feitas nos últimos anos.

Para Pablo Míguez, pesquisador da Universidade Nacional de San Martín – UNSAM e docente da Universidade Nacional de General Sarmiento – UNGS e da Universidade de Buenos Aires – UBA, a esquerda seguirá questionando as pessoas porque as desigualdades do capitalismo não param de crescer.

A edição traz ainda um artigo de Eduardo Vicentini de Medeiros, professor de Filosofia da Unisc, sobre os 90 anos do Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade, completados em maio; a crítica de Fernando Del Corona sobre o filme A cidade do futuro, dirigido pela dupla Cláudio Marques e Marília Hughes; o artigo de Gabriel Adam que discute a reaproximação das duas Coreias; e o texto de Faustino Teixeira, intitulado O Mistério na tessitura da Vida: A espiritualidade de Gilberto Gil; a entrevistas com o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, sobre o documento do Vaticano 'Oeconomicae et pecuniariae quaestiones'; e com economista italiana Alessandra Smerilli, que propõe uma nova perspectiva de economia.

A todas e a todos uma boa leitura e uma excelente semana!

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