Edição 511 | 25 Setembro 2017

Francisco Suárez e a transição da escolástica para a modernidade

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O primado da razão, a autonomia da vontade e a objetividade do direito

A atualidade do pensamento de Francisco Suárez (1548–1617) é o tema do VIII Colóquio Internacional IHU e XX Colóquio Filosofia UNISINOS – Metafísica e Filosofia Prática. A atualidade do pensamento de Francisco Suárez, 400 anos depois.

O evento, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU e pelo PPG Filosofia Unisinos, ocorrerá na Unisinos entre os dias 25 e 28 de setembro deste ano, por ocasião do quarto centenário da morte do jesuíta e filósofo ibérico, um dos principais expoentes da Escola de Salamanca entre os séculos XVI e XVII. O evento inspira a presente edição da revista IHU On–Line.

Marcelo F. de Aquino, professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia e Reitor da Unisinos, descreve a importância das Disputationes Metaphysicae na antecipação e programação das ambições sistemáticas que culminaram no racionalismo moderno. “As Disputationes suarezianas preparam a total reestruturação do espaço metafísico, do qual é excluída a validez do conhecimento analógico na elaboração da ideia de ser e dos seus atributos, que será levado a cabo por Descartes”.

O Prof. Dr. Victor Salas, do Sacred Heart Major Seminary, dos EUA, expõe alguns aspectos de sua atual pesquisa sobre o pensamento de Suárez, na qual contesta a tese de que o jesuíta pôs fim a uma forma de fazer teologia cristã na Idade Média e deu início a uma forma secularizada de investigação ontológica. “Embora Suárez seja explícito em suas teses metafísicas, muito mais do que Tomás de Aquino, penso que fatalmente se entenderá seu projeto intelectual equivocadamente se o jesuíta não for considerado apropriadamente como o teólogo que ele é”.

O Prof. Dr. Olivier Boulnois, da École Pratique des Hautes Études, na França, situa o pensamento de Suárez na continuidade da escolástica para a modernidade e considera que um dos méritos do jesuíta foi desenvolver “uma grande especulação que se caracteriza pelo fato de se manter uma escolástica na era moderna”.

O Prof. Dr. Santiago Sánchez Orrego, da Pontifícia Universidade Católica do Chile, destaca o modo como a obra suareziana ainda interpela o fazer filosófico nos dias atuais, com destaque para a retomada de sua metafísica no círculo da filosofia analítica.

O Prof. Dr. Ernildo Jacob Stein, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, discorre sobre os elementos da metafísica suareziana que estão presentes no projeto ontológico de Heidegger e no desenvolvimento da filosofia moderna. “A distinctio rationalis entre essentia e existentia apresentada por Suárez foi incorporada, sob diversos aspectos, no pensamento de Heidegger. Portanto, o conceito de ser em Heidegger não se liga à intervenção de Deus na criação. O conceito de ser que está escondido por baixo dessa inovação de Suárez termina influenciando o modo como Heidegger irá falar do ser em Ser e tempo”.

O Prof. Dr. Ludger Honnefelder, da Universidade de Bonn, Alemanha, expõe vários aspectos da metafísica suareziana e frisa que sem Suárez “as abordagens modernas na filosofia não seriam concebíveis”, especialmente porque sem as contribuições do filósofo, “o surgimento das ideias características da modernidade como a do primado da razão, da autonomia da vontade, da objetividade do direito etc. não pode ser compreendido”.

Ainda sobre a obra de Suárez, o Prof. Dr. Daniel Schwartz, da Hebrew University of Jerusalem, de Israel, apresenta alguns elementos de sua atual pesquisa sobre os conceitos de justiça e guerra justa.

A Profa. Dra. Annabel Brett, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, retoma o conceito de “ius gentium, uma das mais ricas ideias do pensamento escolástico tardio”, sobre o qual “Suárez fez uma intervenção importante na complicada discussão que os escolásticos tiveram uns com os outros sobre o que esse direito era”.

Por fim, o Prof. Dr. Alfredo Culleton, do Programa de Pós–Graduação em Filosofia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, explica o pensamento de Suárez no contexto da Escola de Salamanca e sua atualidade para tratar dos Direitos Humanos.

Também podem ser lidas nesta edição as entrevistas com Ivan Salomão, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS; com Thiago Rocha da Cunha, doutor e mestre em Bioética pela Universidade de Brasília – UnB; e com Olaya Fernández Guerrero, doutora em Filosofia e professora na Universidade de La Rioja, na Espanha.

A entrevista com Sarantis Thanopulos, psicanalista e psiquiatra e membro da Sociedade Psicoanalítica Italiana – SPI e da Associação Psicanalítica Internacional, sob o título “O narcisismo e a paixão negativa, dominantes no presente, fundamentam o ódio e o terrorismo” merece destaque especial.

A reportagem sobre as mortes de trabalhadores no mundo do trabalho, uma resenha do filme Últimos dias em Havana, de Fernando Pérez, elaborada por Fernando Del Corona, e o artigo sobre política internacional, de Bruno Lima Rocha, completam a edição.

A todas e a todos uma boa leitura e uma excelente semana.

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