Edição 509 | 21 Agosto 2017

Lemas para o bicentenário de Thoreau: simplifique e desobedeça

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Eduardo Vicentini de Medeiros

“Thoreau faz parte de um grupo seleto de autores que formataram o Transcendentalismo Americano na passagem da primeira para a segunda metade do século XIX. Partilharam não apenas uma localização geográfica e espiritual particular, como um ímpeto reformista que deixou marcas no peculiar cristianismo liberal da Igreja Unitarista, nos experimentos associativistas de Brook Farm e Fruitlands, na luta antiescravista, na crítica ao ímpeto expansionista anterior à Guerra Civil”, escreve Eduardo Vicentini de Medeiros, ao apresentar o tema aos leitores da IHU On-Line.

Eduardo Vicentini de Medeiros é graduado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, onde também realizou mestrado e doutorado na área de Filosofia. Atualmente realiza estágio pós-doutoral PNPD Capes no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, no Laboratório de Filosofia Experimental e Estudos da Cognição.


Eis a apresentação.

Henry David Thoreau (1817-1862) faz parte de um grupo seleto de autores, junto com Ralph Waldo Emerson , Amos Bronson Alcott , Orestes Brownson , George Ripley , Margaret Fuller , Elizabeth Palmer Peabody e Frederic Henry Hedge , que formataram o Transcendentalismo Americano na passagem da primeira para a segunda metade do século XIX. Partilharam não apenas uma localização geográfica e espiritual particular, como um ímpeto reformista que deixou marcas no peculiar cristianismo liberal da Igreja Unitarista, nos experimentos associativistas de Brook Farm e Fruitlands, na luta antiescravista, na crítica ao ímpeto expansionista anterior à Guerra Civil, e também na produção literária de autores fundamentais como Daniel Hawthorne, Herman Melville , Walt Whitman e Edgar Allan Poe .

Em razão da popularidade e aceitação crítica de Walden (Porto Alegre: LP&M, 2010), e da repercussão política do ensaio A Desobediência Civil (Porto Alegre: LP&M, 2010), Thoreau assegurou seu lugar ao sol no meio universitário do Grande Irmão do Norte, sendo presença garantida nos currículos de Literatura e Estudos Americanos. Aos poucos, e não sem resistência, Thoreau também tem despertado atenção nos departamentos de Filosofia, não apenas na América do Norte e Europa como também em outros quadrantes do continente americano.

Preparamos para esta edição cinco entrevistas exclusivas, com perguntas especialmente direcionadas aos interesses de cada um de nossos convidados. Três deles ilustram exemplarmente o interesse dos filósofos pelos textos de Thoreau. Começando por Stanley Bates, professor emérito do Middlebury College, que tem publicado generosamente nos últimos anos, amplificando temas descortinados originalmente por Stanley Cavell – um dos principais responsáveis pela divulgação de Thoreau na comunidade filosófica norte-americana. Nossas perguntas para o professor Bates procuraram captar alguns dos temas que Cavell identifica em Thoreau e Emerson, como a influência da poesia romântica e do Idealismo Alemão, o peculiar perfeccionismo moral que Cavell atribui a Emerson e Thoreau e também as semelhanças e diferenças com Nietzsche e Marx.

Ainda em território norte-americano, o professor Kelly Dean Jolley, da Universidade de Auburn, em uma longa e inspirada entrevista, nos falou, entre outros temas, sobre sua aproximação entre Thoreau e Wittgenstein , o impacto dos textos religiosos do Oriente no Transcendentalismo Americano e os contextos de desobediência civil nos Estados Unidos contemporâneo.

Mais perto de nós, conversamos com Paulo Francisco Estrella Faria, professor titular do departamento de Filosofia da UFRGS. Dentre os tópicos da entrevista, destaco a comparação entre Thoreau e Proust sobre o ato da leitura, sua avaliação do papel de Cavell na apropriação filosófica de Thoreau e a crítica de Thoreau à promessa nunca satisfeita da América como um novo Éden.

Aos leitores brasileiros e às leitoras brasileira de língua portuguesa é facultado o prazer de dispor de uma bem cuidada e primorosa tradução de Walden. E não poderíamos nos furtar de uma conversa com a responsável pela proeza. Denise Bottmann nos oferece uma série de elementos em suas respostas que enriquecem a leitura atenta dos textos de Thoreau. Para aqueles que querem uma primeira aproximação com Thoreau, aconselhamos a leitura do blog lendowalden.blogspot.com.br, que Denise disponibilizou enquanto traduzia a obra.

Por último, conversamos com um dos principais responsáveis pela divulgação e conservação do legado de Thoreau. Jeffrey Cramer, curador da coleção do Instituto Thoreau e editor de várias coletâneas dos seus textos, é um dos mais bem informados e atuantes divulgadores do nosso homenageado. As respostas oferecidas pelo professor Cramer em nossa entrevista são um bom exemplo destas qualidades.

Não poderia deixar de dizer que a presente edição da Revista IHU On-Line é, com toda certeza, um rico repositório de informações sobre Thoreau e servirá de incentivo e diretriz para que possamos aumentar e qualificar os seus leitores atentos em língua portuguesa. ■

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