Edição 499 | 19 Dezembro 2016

Retrospectiva: 2016 e os temas que pautaram a IHU On-Line

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João Vitor Santos

O conturbado e nebuloso ano de 2016 foi uma longa reverberação das inúmeras crises e sombras das nuvens que pairavam sobre nossas cabeças desde o segundo semestre de 2015. Por um lado, o cenário nacional teve a abertura de um processo de impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff, prenunciando a tramitação de muitos reveses políticos pautados por uma ideia de combate à corrupção com repercussões muito além do Palácio do Planalto. Por outro, em âmbito global, as crises – das ambientais às econômicas e sociais – não davam sequer sinal de arrefecimento. Nem a mais completa – e complexa – análise seria capaz minimamente de prever ou mesmo entender os movimentos de 2016. Ao longo de todo este ano, a IHU On-Line se dedicou a esse exercício de observação e reflexão sobre os movimentos contemporâneos, tarefa difícil e sempre incompleta, sobretudo diante da movediça conjuntura nacional e internacional.

A quebra do pacto constitucional de 1988

No último dia 6/12, o presidente Michel Temer encaminhou ao Congresso Nacional a proposta de reforma da Previdência. Mas o assunto já vinha sendo debatido há muito mais tempo, desde o governo petista. Tanto nas discussões no início de 2016 como na proposta consolidada agora em dezembro, o que está em xeque são os direitos constitucionais que asseguram qualidade de vida ao trabalhador. É diante desse cenário, e também em meio à crise política e institucional do país, que a IHU On-Line discute, na edição número 480, de 7-3-2016, os rumos da seguridade social e o futuro de milhões de brasileiros e brasileiras que são tratados nos balcões de negócio do Estado com o sistema financeiro. Sob o título 'Reforma da Previdência Social e o declínio da Ordem Social Constitucional', esse número traz pesquisadores que desmistificam o debate em torno da ideia de déficit previdenciário e a necessidade de uma reforma que ponha em risco direitos constitucionais.

O tema da Previdência tem relação direta com outro assunto tratado pela IHU On-Line em 2016: a precarização do trabalho. Por ocasião do Dia do Trabalhador e Trabalhadora, o número 484, de 2-5-2016, traz o tema de capa com o título A volta da barbárie? Desemprego, terceirização, precariedade e flexibilidade dos contratos e da jornada de trabalho. O tema do trabalho é retomado anualmente. No entanto, o atual panorama do mundo do trabalho é difícil, complexo e sombrio. Pesquisadores e pesquisadoras que participam desta edição, descrevem um cenário caracterizado pela imposição do princípio do negociado sobre o legislado, aprofundamento da flexibilização do trabalho, das jornadas, dos contratos, desmonte da política de valorização do salário mínimo e ataque à Previdência Social, com o aumento do tempo de contribuição e a diminuição dos benefícios.

Nessa mesma linha, tão logo o governo de Michel Temer toma o Planalto, o próximo direito a ser “revisto” é o acesso universal à saúde pública. O Sistema Único de Saúde – SUS passa a ser questionado, e o ministro da Saúde, Ricardo Barros, por sua vez, passa a pautar o debate sobre o tamanho do SUS. O IHU entrou nessa discussão através de notícias e entrevistas publicadas na seção Notícias do Dia de seu site, e em 22-8-2016 condensou as análises no número 491 da revista IHU On-Line, sob o título SUS por um fio. De sistema público e universal de saúde a simples negócio.

A financeirização orientando o debate

Tanto o desmonte do SUS, a precarização do trabalho como os ataques à Previdência Social têm um fundo comum. Na realidade, toda a discussão se dá numa perspectiva da lógica da financeirização, que não acomete só o Brasil, mas o mundo todo, que passa a ser atravessado por essa perspectiva. Para compreender mais essa lógica financeirista e analisar seus impactos, em setembro o IHU promoveu o IV Colóquio Internacional IHU. Políticas Públicas, Financeirização e Crise Sistêmica. O tema já vinha sendo tratado pelo Instituto, e como forma de preparação para o debate, o número 492, de 5-9-2016, Financeirização, Crise Sistêmica e Políticas Públicas reúne entrevistas com professores e pesquisadores do Brasil e do mundo, que analisam as políticas públicas atravessadas pela financeirização, bem como linhas de fuga para romper com essa lógica.

Judicialização da política, repressão e intolerância

2016 foi também o ano em que o Poder Judiciário ganhou notoriedade, em que a Operação Lava Jato foi destaque. Entretanto, a discussão que se coloca é de que o Judiciário acaba extrapolando suas instâncias e invadindo outras esferas, como a política. É para problematizar e refletir sobre essa perspectiva que a IHU On-Line número 494, de 3-10-2016, Judicialização da política e da vida dos cidadãos. A democracia e o Estado de Direito em tensão, retoma o tema com juristas que rompem com a ideia messiânica e salvacionista que transforma o Judiciário em um superpoder.

Na política nacional, em meio a todo esse contexto de Lava Jato e processo de impeachment de Dilma Rousseff, os discursos de golpe e não golpe, coxinhas e petralhas, vermelhos e verde-amarelos revelam um clima de intolerância política tão recrudescida que chega a flertar com o fascismo. No mundo, a recusa do outro se atualiza pelo flagelo do não acolhimento à vítima de imigração e que coloca esse outro como ameaça a si próprio. Todos esses e outros pontos foram o contexto para o debate na IHU On-Line intitulada A volta do fascismo e a intolerância como fundamento político, número 490, de 8-8-2016.

A repressão é filha dileta da intolerância. Quando os tempos são obscuros, as manifestações são o sopro de esperança utópica que surge. Além das passeatas, as ocupações de escolas por estudantes secundaristas inauguraram um outro momento de protestos no Brasil. Cortes de gastos e reforma no ensino propostos pelo governo de Michel Temer são alvo de críticas e, com o subterfúgio de manter a ordem, a força e a repressão policial entram em cena. Foram muitos os episódios de confronto entre manifestantes e polícia, do Rio Grande do Sul e do Paraná, ao Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Em meio a esse turbilhão de acontecimentos, a IHU On-Line retoma um velho – mas sempre atual – debate: a desmilitarização da polícia. Esse é o tema da revista número 497, de 14-11-2016, Desmilitarização. O Brasil precisa debater a herança da ditadura no sistema policial.

Olhar na história para iluminar o presente

Em um ano de tantas crises no Brasil, a volta ao passado pode oferecer chaves de leitura para tentar compreender o momento que vivemos. É com esse espírito que a IHU On-Line número 498, de 28-11-2016, retoma o clássico Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, neste ano em que se celebram os 80 anos da primeira publicação. Nesse número, pesquisadores retomam a obra e pensam o Brasil de hoje a partir de Raízes.

Autores inspiradores

A atualidade do pensamento de Lima Vaz foi recuperada a partir das celebrações dos 25 anos da publicação Antropologia Filosófica. Assim, o número 488, de 4-7-2016, traz como tema principal A memória do Ser em plena civilização científico-tecnológica. ‘Antropologia Filosófica’ de H.C. de Lima Vaz, 25 anos depois.

Outro autor que a revista recuperou este ano foi Georg Friedrich Hegel. O número 482, de 4-4-2016, Hegel. Lógica e Metafísica, parte do VIII Congresso Internacional da Sociedade Hegel Brasileira, intitulado Lógica e Metafísica em Hegel, realizado na Unisinos, e mobiliza pesquisadores e pesquisadoras, especialistas no estudo da obra do filósofo alemão, para debaterem o tema.

Ouse saber

Descobrir assuntos que ainda são novidade ou mesmo trazer abordagens diferentes para temas cotidianos é também um dos desafios da IHU On-Line. Dentre os temas curiosos em que nos detivemos, está a edição sobre Smart Drugs e o desbravamento das fronteiras do humano, número 487, de 13-6-2016. O número reúne pesquisadores nacionais e internacionais para refletir sobre medicamentos capazes de corrigir determinados níveis de deficiências motoras ou cognitivas, mas que também servem à busca pela superação da própria condição humana.

Moda é assunto tratado em diversas publicações. Entretanto, no número 486, de 30-5-2016, Moda. A segunda pele do self em movimento tenta observar o fenômeno desde outra perspectiva. A roupa, os adornos e demais aparatos que utilizamos para compor a aparência são a comunicação mais imediata que oferecemos a respeito do nosso modo de ser no mundo. Se pensarmos sobre os diversos processos que envolvem as etapas de concepção, produção, circulação e descarte dos produtos, a moda torna-se um espelho ainda mais profundo de nosso tempo, refletindo elementos que dão indícios de quem somos e em que tipo de sociedade vivemos.

Vigilância

O V Colóquio Internacional IHU e VII Colóquio da Cátedra Unesco – Unisinos de Direitos Humanos e Violência, Governo e Governança teve como tema este ano a vigilância. Os debates e reflexões acerca desse mundo que apreende qualquer movimento sob inúmeros olhos atentos inspiraram a edição 495, de 17-10-2016, intitulada Cidadania vigiada. A hipertrofia do medo e os dispositivos de controle.

Saneamento básico e agroecologia

A longa tradição do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em propor reflexões acerca da relação do ser humano com o planeta é frutífera em conteúdos que debatem questões relacionadas ao (des)equilíbrio ambiental. Neste ano, o Brasil testemunhou o drama da volta de doenças vetoriais como a dengue e até o surgimento de outras como zika e chikungunya. Na edição 481, de 21-3-2016, O fracasso do saneamento básico e a emergência de doenças vetoriais, a IHU On-Line entrou no debate, buscando compreender as questões de fundo do tema.

E muito desse desequilíbrio entre ser humano e ambiente se dá pelo vértice da produção agrícola, baseada na grande propriedade e de uma ideia da necessidade de produzir alimentos em larga escala. O resultado, além de desmatamentos de áreas nativas, é uma degradação do solo, pois vai se esterilizando pelo uso contínuo de agrotóxicos e fertilizantes químicos. Com o intuito de pensar noutro tipo de agricultura, a IHU On-Line publica Agroecossistemas e a ecologia da vida do solo. Por uma outra forma de agricultura, número 485, de 16-5-2016.

Teologia pública

A IHU On-Line observa, também, os movimentos das diferentes confissões religiosas desde uma perspectiva sociológica. Além disso, busca nas reflexões, principalmente a partir do cristianismo, uma vivência mais pulsante da religião como chave de leitura para compreender a si e ao mundo. Em 2016, dentro da perspectiva teológica, a revista publicou o número 483, de 18-4-2016, intitulado Amoris Laetitia e a ‘ética do possível’. Limites e possibilidades de um documento sobre ‘a família’, hoje. A partir do documento apostólico assinado pelo Papa Francisco, o número quer inspirar a pensar sobre as configurações das famílias no nosso tempo.

Pensar a figura feminina nos dias de hoje é a questão de fundo que embasa outro número no mesmo viés da IHU On-Line, o 489, de 18-7-2016, Maria de Magdala. Apóstola dos Apóstolos. Através dessa figura feminina na vida de Cristo, pesquisadores do mundo todo refletem sobre o espaço da mulher na religião e na própria História do Cristianismo.

Outros olhares sobre a morte

Neste ano, a IHU On-Line retomou o que fazia há alguns anos: dedicar a primeira edição de novembro a reflexões sobre a morte, em função das celebrações de 2 de novembro, Dia de Finados. O debate gira em torno dos desafios de pensar a morte para além de seu caráter mais contemporâneo que é o de ser asséptica, abordando-a como uma experiência de vida. O tema reuniu entrevistas no número 496, de 30-10-2016, com o título Morte. Uma experiência cada vez mais hermética e pasteurizada. 

Gauchismo

Tradicionalmente, em setembro, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU promove palestras que procuram pensar mais sobre a figura do gaúcho, por alusão ao 20 de setembro, conhecido como o Dia do Gaúcho. Neste ano, a IHU On-Line também fez esse movimento, com o objetivo de tentar compreender o que está por trás da construção mítica dessa figura que vive ao sul do Brasil. A edição número 493, de 19-9-2016, tem como título Gauchismo - A tradição inventada e as disputas pela memória.

Confira mais detalhes das edições de 2016 e de outros anos da IHU On-Line.

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