Edição 479 | 21 Dezembro 2015

A presença de Deus nas obras de Dostoiévski

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Márcia Junges

Autor russo traz na essência de seus escritos uma mescla da figura divina e do Mal em enredos que perscrutam a alma humana. Por outro lado, Elena Vássina acentua que Dostoiévski ensina a responsabilidade pessoal e a liberdade, não aceitando a vitimização

Ao analisar as quatro obras fundamentais de Fiódor Dostoiévski, Crime e castigo (1866), O idiota (1869), Os demônios (1872) e Os irmãos Karamázov (1879), a professora de Literatura Russa da Universidade de São Paulo, Elena Vássina, frisa em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line que todas elas abordam a relação do homem com Deus. Pode-se falar, inclusive, de uma intensificação da presença de Cristo na obra do autor russo a partir dos anos 1850, após sua experiência de comutação da pena de morte em trabalhos forçados na Sibéria. Para personagens como Raskólnikov, de Crime e castigo, a punição se dá como “um processo interno, uma catástrofe espiritual e na necessidade de uma purificação interna, de contrição”, observa Vássina. Já em O Idiota, a figura paradoxal do Príncipe Míchkin, que metaforiza Cristo, é a “personificação do sentimento de ilimitada compaixão e de incondicional amor ao próximo”. De acordo com a pesquisadora, “Dostoiévski sabe que não há como prevenir o desencadear catastrófico dos acontecimentos: apesar do amor ao próximo ser nutrido pelo Príncipe Míchkin com tanta abnegação, nem ele consegue impedir as forças do caos que, no final de contas, triunfam, levando a narrativa ao desfecho trágico”.

Russa nascida em Moscou, Elena Vássina é professora nos cursos de graduação e pós-graduação em Letras Russas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - USP. Aprendeu a falar português em Moscou, e o faz com fluência e um elegante sotaque, como na ocasião em que falou com a Revista IHU On-Line em 2006, na edição intitulada Dostoiévski: nas profundezas da alma humana e da literatura. É graduada e mestra em Letras pela Universidade Estatal de Moscou; doutora em Artes pelo Instituto Estatal de Pesquisa da Arte (Rússia), com a tese Principais tendências de desenvolvimento do teatro brasileiro dos anos 70; e pós-doutora também pelo Instituto Estatal de Pesquisa da Arte. É uma das organizadoras das obras Cadernos de Literatura e Cultura Russa (São Paulo: Ateliê Editorial, 2004); Tipologia do simbolismo nas culturas russa e ocidental (São Paulo: Humanitas, 2005); O cadáver vivo (São Paulo: Peixoto Neto, 2007); e Teatro russo: literatura e espetáculo (Cotia/São Paulo: Ateliê Editorial, 2011).

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Em entrevista  concedida à IHU On-Line em 2006, a senhora afirmou que Dostoiévski  liga o Ser a Deus, e que toda sua obra projeta a eternidade. A partir disso, qual é o lugar de Deus na obra de Dostoiévski?

Elena Vássina - No que diz respeito aos quatro principais romances de Dostoiévski — Crime e castigo (1866), O idiota (1869), Os demônios (1872) e Os irmãos Karamázov (1879) —, todos eles tratam da relação do homem com Deus. Raskólnikov,  de Crime e castigo, desce ao inferno dos sofrimentos de consciência para depois encontrar um caminho iluminado pelo amor ao próximo que o leva à ressurreição. No romance O idiota, Dostoiévski tenta criar uma imagem do homem “absolutamente belo” como uma manifestação da beleza crística. Em Os demônios, ao contrário, o escritor mostra a situação quando os homens se associam às forças demoníacas de destruição. E no romance Os irmãos Karamázov, no romance-síntese, Dostoiévski faz suas personagens e seus leitores refletirem sobre uma das questões cruciais de toda a sua obra: “se Deus não existe, tudo é permitido”.

Certamente, a fé de Dostoiévski passou pela prova de fogo quando, em 1849, ele foi preso e condenado à pena de morte por causa de sua participação no Círculo Petrashevski . E o momento decisivo era quando o escritor estava esperando o momento da execução e sentiu que logo em seguida “estaria com Cristo”. No último minuto foi lida a ordem do czar Nikolau I,  que comutava a pena capital para prisão e exílio. Logo depois de ter cumprido a pena de quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria, no início de 1854, Dostoiévski escreve a carta à sua amiga e “correspondente espiritual” Natália Fonvízinam, confessando que, apesar de ser “um filho do século da falta de fé e de dúvidas”, ele compôs para si “o símbolo da fé no qual tudo está claro e sagrado. Esse símbolo é muito simples: acreditar que não há nada mais belo, mais profundo, mais simpático, mais racional, mais corajoso e perfeito do que Cristo, e não só não há, como eu ainda afirmo com um amor cioso que não pode haver. Além disso, se alguém provasse que Cristo está fora da verdade e se realmente a verdade estivesse fora de Cristo, eu gostaria mais de ficar com Cristo do que com a verdade.”  Por isso, a presença de Cristo se torna tão importante na obra de Dostoiévski a partir da década dos anos 1850. Mas não se deve esquecer, como Dostoiévski anota já no final de sua vida, no seu caderno de 1881: “... não é como menino que eu creio em Cristo e o confesso, mas minha Hosana passou pelo crisol das dúvidas.” 

 

IHU On-Line - Em linhas gerais, como o sagrado e o Mal se expressam na literatura de Dostoiévski?

Elena Vássina - Por meio de suas personagens (Raskólnikov, Kiríllov , Verkhovénski , Ivan Karamázov ), personagens que sempre personificam as ideias, Dostoiévski analisa o mecanismo moral do nascimento do mal que abrange diferentes esferas da vida humana. Mas, ao mesmo tempo, no universo artístico do escritor, que é marcado pelas oposições polares, sempre existe a possibilidade de caminho que poderia levar à luz e ao amor divinos (Sônia Marmeládova , Príncipe Míchkin , Aliocha Karamázov , starets  Zózima).

Raskólnikov mata, derrama o sangue violando o mandamento “não matarás”, pondo em dúvida o caráter incondicional, absoluto do mandamento. Do ponto de vista da razão comum, ele matou uma pessoa e o castigo veio de fora. Mas no romance não existe castigo de fora. Rodion Raskólnikov poderia perfeitamente se livrar da responsabilidade pelo crime cometido e livrou-se de fato, porque no final de contas ninguém conseguiu provar sua conivência com o assassinato da velha agiota. Mas Dostoiévski faz a sua personagem sentir toda a dimensão trágica do crime: “Não foi a velha que eu matei, eu matei a mim mesmo. Sim, acabei comigo para o fim dos séculos.” Resulta que o assassinato é um tiro no seu próprio corpo. O mandamento “não matarás” não é uma proteção mecânica, mas a profunda estrutura moral interna, dada ao ser humano. O castigo chega a Raskólnikov na forma de um processo interno, uma catástrofe espiritual e na necessidade de uma purificação interna, de contrição. 

Dostoiévski ensina a responsabilidade pessoal. Ele não aceitava a justificativa comum de pessoas serem vítimas do meio. Pondo a culpa de nossos dramas e fracassos no mundo mal feito, abre-se mão voluntariamente do nosso dom principal — a liberdade. 

 

IHU On-Line - Em específico, como a figura de Jesus aparece em suas obras, de forma direta ou figurada?

Elena Vássina - A figura de Jesus está presente em muitas obras de Dostoiévski: na maioria das vezes, é um intenso diálogo das personagens com os mandamentos de Cristo, as citações e referências ao Novo Testamento, mas, por exemplo, na Lenda do Grande Inquisidor (Os irmãos Karamázov) Jesus aparece como um interlocutor silencioso do Inquisidor. Já no romance O Idiota (em seguida, vou falar deste livro mais detalhadamente) encontramos o outro olhar paradoxal de Dostoiévski de Jesus: Ele aparece no quadro de Hans Holbein  “Cristo morto”, uma imagem tão impressionantemente forte que até faz o príncipe Míchkin confessar a Rogójin: “Por causa desse quadro outra pessoa ainda pode perder a fé.”

 

IHU On-Line - No caso do Príncipe Míchkin, protagonista de O Idiota, em que aspectos ele é uma metáfora de Jesus Cristo?

Elena Vássina - O romance O Idiota, de Dostoiévski, apresenta-se como um amplo campo artístico de intensa batalha entre duas forças polares: de um lado, estão os geradores de caos, representados pelas personagens atormentadas pelas paixões, quase sempre egocêntricas, e pelos desejos orgulhosos; do outro lado, a ação se movimenta pela força do amor que visa unir tudo e todos em harmonia, igual àquela que transparece na forma do romance, ou seja, na concepção e tessitura artística da narrativa. O princípio harmônico (que sempre transcende nas obras de Dostoiévski), além de definir a composição do romance, realiza-se, par excellence, na criação da personagem principal: o Príncipe Lev Nikoláievitch Míchkin, o Idiota.

Paradoxalmente, é na imagem artística do próprio IDIOTA que, ao se tornar uma personificação do sentimento de ilimitada compaixão e de incondicional amor ao próximo, está concebida a ideia central e a mais valiosa dessa obra de Dostoiévski. O escritor definiu o conceito de seu romance logo no início do trabalho, em janeiro de 1868; na carta a sua sobrinha, Sofia Ivánova, ele escreve: “A ideia do romance é aquela minha velha e cara, mas a tal ponto difícil, que durante longo tempo não tive coragem de tocá-la... A ideia central do romance é representar um homem absolutamente belo. No mundo não há nada mais difícil do que isso, especialmente agora. Todos os escritores, não somente nossos, mas até os estrangeiros, que se propuseram a criar uma imagem do absolutamente belo, sempre se deram por vencidos. Porque esse objetivo é imenso. O belo é um ideal, mas o ideal, seja o nosso, seja o da Europa civilizada, ainda está longe de ser elaborado. No mundo há somente uma personalidade absolutamente bela: Cristo, e a existência dessa personalidade infinita e imensamente bela certamente já é um milagre absoluto”.

Uma criatura “absolutamente bela”

Logo as primeiras páginas do romance fazem-nos mergulhar, junto com o Príncipe Míchkin (essa criatura “absolutamente bela”), no caos do mundo dominado pelo mal, pelo espírito de separação e pela trágica dualidade entre material e celestial, o que fica apresentado por toda uma série de personagens. Mas no percurso da via dolorosa do mundo criado no universo artístico dostoievskiano, descobrimos, como Rogójin, Nastássia Filíppovna, Agláia, entre muitos outros, a imensa sede de amor e de compaixão — aqueles que transbordam do coração do Idiota e que são percebidos por todos, queiram eles ou não, em sua presença. Além de profunda compaixão, o Príncipe é dotado de profunda liberdade interior (seria difícil não se lembrar: “Eu não sou deste mundo” — João, 8: 23) e apresenta-se como uma irresistível força de atração para todos, revelando a sede espontânea do ser humano para o ideal. Mas, ao mesmo tempo, quase todos que se aproximam do Príncipe o humilham, machucam e fazem sofrer o tempo todo.

Dostoiévski sabe que não há como prevenir o desencadear catastrófico dos acontecimentos: apesar do amor ao próximo ser nutrido pelo Príncipe Míchkin com tanta abnegação, nem ele consegue impedir as forças do caos que, no final de contas, triunfam, levando a narrativa ao desfecho trágico.

O romance O Idiota eleva-se às alturas da verdadeira tragédia ao apresentar a inevitável “predestinação” do ser humano quando ele começa a se alinhar com o Mal e perde sua liberdade, afundando-se no caos... Mas Dostoiévski não seria um grande gênio se a sua obra não resultasse em uma fortíssima catarse que nos transforma e nos eleva à transcendência, ao deslumbramento pela luz Divina que ilumina as trevas da materialidade humana.

 

IHU On-Line - Em que medida o Discurso do Inquisidor, uma das partes mais famosas de Os Irmãos Karamázov, expressa os tensionamentos religiosos que perpassam seus enredos?

Elena Vássina - Do Diário de um escritor, de 1873, Dostoiévski escreve: “É bem possível que as ideias de todos os líderes do pensamento progressivo sejam filantropos e magnânimos. Mas parece-me indubitável que se a todos esses grandes ensinadores de hoje for dada a possibilidade de destruir totalmente a velha sociedade e construir uma nova, surgirão trevas, um tamanho caos, tão grosseiro, cego e desumano, que toda essa estrutura do mundo vai ruir sob as maldições da humanidade antes de ser terminada. Uma vez repudiado Cristo, a mente humana pode chegar a resultados surpreendentes. Isso é um axioma.”

No seu livro A visão do mundo de Dostoiévski, o filósofo russo Nikolai Berdiáev  apontou que “todos os pensamentos de Dostoiévski sobre o ser humano levavam ao problema da liberdade, às vias de sua realização no mundo, à questão da liberdade do homem de fazer sua escolha e das consequências dessa escolha. Na criação de Dostoiévski existe um único tema — o trágico destino do homem, a liberdade do destino do homem. O amor é somente um dos momentos nesse destino.” E nesse sentido, a “Lenda sobre o Grande Inquisidor” é o resultado do desenvolvimento desse tema na obra do escritor.

Na opinião do Grande Inquisidor, assumir a responsabilidade e usar da liberdade dada por Deus está acima das forças humanas. Então, para fazer os homens se sentirem felizes, o Inquisidor “renova” o Cristianismo: ele substitui a liberdade por “autoridade”, o Espírito por “milagre”, a verdade pelo “mistério”. Agora as personalidades eleitas, inteligentes e fortes resolvem os problemas dos homens. “Para que Você veio nos incomodar? Pois Você veio justamente para incomodar e Você mesmo sabe disso” — diz o Inquisidor a Cristo que novamente veio ao mundo. Em resposta, Cristo dá um beijo no ancião nonagenário, vestido de batina de monge. O Inquisidor liberta Cristo, que fora encarcerado e Lhe diz na despedida: “Vá embora e não volte mais... não volte mesmo... jamais, jamais!”

“Somente agora, quando conseguimos vencer a liberdade, pela primeira vez tornou-se possível pensar na felicidade do homem” — diz o Inquisidor de Dostoiévski. “E as pessoas ficaram alegres por novamente serem levadas como rebanho e porque de seus corações fora tirado o terrível dom que lhes causava tantos sofrimentos...”

Cristo continua calado, ele permanece na sombra. A positiva ideia religiosa não encontra sua expressão verbal. Facilmente pode ser expressa somente a ideia sobre a imposição. Assim, na Legenda encontram-se temas que sempre estiveram no centro da obra de Dostoiévski: a liberdade e a imposição. O potencial destrutivo dos protagonistas que “raciocinam” e a força daqueles que vivem obedecendo às leis do coração, e não do “raciocínio”.

 

IHU On-Line - Por outro lado, como personagens como Piotr Verkhovénski (Os Demônios) e Ivan Karamázov e Smierdiákov  (Os Irmãos Karamázov) expressam o contraponto ao sujeito temente a Deus?

Elena Vássina - Talvez a melhor explicação do caminho contrário aos princípios do amor divino ao próximo, nós encontramos no seguinte episódio de Os irmãos Karamázov quando Dostoiévski descreve como Ivan “declarou em tom solene que em toda a face da terra não existe absolutamente nada que obrigue os homens a amarem seus semelhantes, que essa lei da natureza, que reza que o homem ame a humanidade, não existe em absoluto e que, se até hoje existiu o amor na Terra, este não se deveu à lei natural, mas tão só ao fato de que os homens acreditavam na própria imortalidade”. Ivan Fiódorovitch acrescentou, entre parênteses, que é nisso que consiste toda a lei natural, de sorte que, destruindo-se nos homens a fé em sua imortalidade, neles se exaure de imediato não só o amor como também toda e qualquer força para que continue a vida no mundo. E mais: então não haverá mais nada amoral, tudo será permitido, até a antropofagia. Mas isso ainda é pouco, ele concluiu afirmando que, “para cada indivíduo particular, por exemplo, como nós aqui, que não acredita em Deus nem na própria imortalidade, a lei moral da natureza deve ser imediatamente convertida no oposto total da lei religiosa anterior, e que o egoísmo, chegando até ao crime, não só deve ser permitido ao homem, mas até mesmo reconhecido como a saída indispensável, a mais racional e quase a mais nobre para a situação”.

 

IHU On-Line - No caso de Raskólnikov, de Crime e Castigo, até que ponto se pode falar em sua “ressurreição” espiritual em função do amor que nutria pela prostituta Sônia?

Elena Vássina - Certamente, a prostituta Sônia desempenha um papel importantíssimo no processo da salvação de Raskólnikov, é ela que lhe fala sobre a necessidade de confissão: “Vai agora, neste instante, para em um cruzamento, inclina-te, beija primeiro a terra, que tu profanaste, e depois faz uma reverência a todo este mundo, em todas as direções que quiseres, e diz a todos, em voz alta: ‘Eu matei’. Então Deus te mandará vida mais uma vez”. É a partir daqui que começa o caminho da ressurreição de Raskólnikov, igual a de Lázaro. E o epílogo do romance quando Raskólnikov se lança aos pés de Sônia e começa a chorar e abraçar os joelhos dela celebra a culminância epifânica da salvação espiritual da personagem a quem neste momento é dado o dom divino de sentir o amor não apenas para Sônia, mas para todo o próximo. 

 

IHU On-Line - Em que aspectos a questão da culpa é recorrente nas obras desse escritor e qual é o peso do Cristianismo por trás dessa concepção?

Elena Vássina - Dostoiévski não fala da culpa, porque no universo religioso russo, em geral, e na religiosidade de Dostoiévski, em particular, não existe o conceito da culpa (que, eu creio, é um conceito muito mais difundido na cultura ocidental), mas existe a noção básica do pecado. O mais importante para Dostoiévski é que o pecado está dentro da própria natureza humana e não vem de fora, como ele escreve em seu Diário de um escritor, de 1877: “Está claro e evidente que o mal se esconde mais profundamente no homem do que imaginam os curandeiros-socialistas; que em nenhum sistema social é possível eliminar o mal, que a alma humana fica a mesma e que a anormalidade e o pecado provém dela mesma...” ■

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