Edição 205 | 20 Novembro 2006

Sobre ensaios clínicos em países de terceiro mundo

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CINEMA E SAÚDE COLETIVA – O JARDINEIRO FIEL

No último dia do ciclo Cinema e Saúde Coletiva o filme que servirá de pano de fundo é o fabuloso O Jardineiro Fiel (2005), de Fernando Meirelles. É o 1º filme em língua inglesa dirigido por Fernando Meirelles de Cidade de Deus (2002). Uma ativista (Rachel Weisz, Oscar de melhor atriz coadjuvante) é encontrada assassinada em uma área remota do Quênia. O principal suspeito do crime é seu sócio, um médico que se encontra atualmente foragido. Perturbado pelas infidelidades da esposa, Justin Quayle (Ralph Fiennes) decide partir para descobrir o que realmente aconteceu com sua esposa, iniciando uma viagem que o levará por três continentes. No filme, há uma forte crítica à indústria farmacêutica. O evento acontecerá no dia 21 de novembro na Sala 1G119. O palestrante será José Roberto Goldim do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – HCPA. Sobre a temática do evento, Goldim concedeu uma entrevista por e-mail à IHU On-Line.

A saúde como um negócio

IHU On-Line - Considerando o filme de Meirelles, como o senhor vê a atuação da indústria farmacêutica no terceiro mundo?

José Roberto Goldim
- Eu não generalizaria a questão para todas as indústrias farmacêuticas. Existem sempre as instituições que trabalham bem e outras mal. Algumas atuam de modo muito inadequado em todo o mundo, especialmente na África onde a vulnerabilidade das populações é muito grande.

IHU On-Line - Quais as questões acerca da saúde que podemos levantar segundo o filme O Jardineiro Fiel ?

José Roberto Goldim
– A principal é a fragilidade do sistema mundial em auxiliar populações muito pobres e vulneráveis. Várias outras podem ser levantadas como o abuso desta situação não só por empresas, mas por governos, organizações não-governamentais, profissionais e outros grupos. Uma questão fundamental é reconhecer que para muitas pessoas a saúde é uma oportunidade de negócio e não uma questão humanitária.

IHU On-Line - A que o senhor atribui tamanho descaso com a saúde pública brasileira? Quais são os maiores desafios do governo nesta questão?

José Roberto Goldim
– Eu discordo que haja um "tamanho descaso" com a saúde brasileira. O Brasil possui um dos melhores sistemas de saúde pública do mundo na atualidade. Poucos países têm oferecido à possibilidade de tratamento que temos no Brasil. Basta ver a questão dos programas de AIDS e de transplantes. O grande problema é a resolutividade na ponta do sistema, isto é, no atendimento primário realizado nos postos de saúde.

IHU On-Line - Como a saúde retratada no cinema pode ajudar ou influenciar a humanidade?

José Roberto Goldim
– O filme fez uma denúncia muito contundente sobre o abuso de populações. O problema é que, muitas vezes, a repercussão é grande, porém passageira. A espetacularização dos noticiários e da própria vida tem amortecido o impacto e feito com que grandes causas tenham sido esquecidas logo após terem causado grande comoção. A instantaneidade do mundo contemporâneo reduziu a capacidade das pessoas se indignarem com a injustiça, que para ser conseqüente necessita de tempo de reflexão.

IHU On-Line - Se o senhor pudesse resolver um dos problemas da saúde pública brasileira qual seria?

José Roberto Goldim
– Articulação e regionalização das instituições de saúde, com hierarquização dos atendimentos por níveis de complexidade. Isso daria credibilidade para população.

IHU On-Line - Qual seria um projeto clínico ideal para o Brasil?

José Roberto Goldim
- O projeto de pesquisa clínica ideal para o Brasil é aquele que tem adequação ética e metodológica, que seja capaz de ser efetivamente realizado e que aborde uma questão relevante para a comunidade.

 

 

 

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