Edição 466 | 01 Junho 2015

Uma relação obscura. Política, ciência e economia no universo Jesuíta

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Andriolli Costa | Tradução: Ivan Pedro Lazzarotto

Ugo Baldini revela os nexos que unem estes eixos centrais a partir de uma recuperação histórica da relação da Companhia de Jesus com as monarquias bourbônicas iluministas

Diversas são as versões levantadas para explicar os motivos que levaram à expulsão dos jesuítas de diversos países europeus, bem como da posterior supressão da Companhia de Jesus, em 1773. Uma das mais comentadas foca no protagonismo do Marquês de Pombal, em Portugal, e de outros ministros de Estado num embate da racionalidade iluminista contra a escolástica medieval. Outros levantam o desejo maior de centralização das monarquias absolutistas e que, portanto, buscam minimizar a influência do poder eclesial frente ao seu poder político. Por fim, existe a hipótese do desejo de tomar posse das possíveis riquezas da Companhia nos territórios da Coroa.

Pesquisador da Companhia desde os anos 1980, Ugo Baldini encara estas hipóteses com desconfiança. “Todas essas explicações contêm algum elemento real, mas nenhuma é totalmente convincente”, aponta, em entrevista por e-mail à revista IHU On-Line. Baldini questiona a adoção acima de qualquer suspeita do Iluminismo pelos ministros dos Estados bourbônicos, já que este poderia “colocar limites ao poder absoluto dos governos e ameaçar as justificativas tradicionais da base do poder monárquico”. 

Por outro lado, trazendo o argumento do controle, por que perseguir sistematicamente os jesuítas, em vez de utilizá-los como um instrumento do governo, “como acontece no Império de Habsburgo durante os reinos de Maria Teresa e de José II, que usaram os Jesuítas como principais especialistas em muitas funções técnicas fundamentais”. Da mesma forma, “os bens da Companhia, acima de tudo nas colônias, não tinham valor relevante, como foi sustentado por várias vezes, tanto que as suas províncias missionárias tinham dificuldades financeiras graves e praticamente contínuas”. 

Ugo Baldini é graduado em Filosofia pela Universidade de Roma. Foi professor de História Moderna na Faculdade de Ciências Políticas da Università degli Studi di Padova e da Faculdade di Lettere dell’Università di Chieti. Foi Diretor do Departamento de Estudos Históricos e Políticos da mesma Universidade. O professor esteve em novembro de 2014 na Unisinos participando do XVI Simpósio Internacional IHU - Companhia de Jesus. Da Supressão à Restauração.

Confira a entrevista.

 

IHU On-Line - Em setembro de 1759, mais de 1.700 jesuítas foram expulsos de Portugal. Cinco anos depois, a França ordenou a dissolução da ordem no país — que contava com 3 mil membros. Por fim, em 1767, Carlos III decreta a expulsão de 5 mil jesuítas espalhados em todos os territórios espanhóis. O que levou a esta situação, que culminaria na supressão da Companhia, em 1773?

Ugo Baldini – Essa pergunta requer muitas respostas. Uma convencional, muito difundida, é que o Marquês de Pombal  e as monarquias bourbônicas (mais o pequeno ducado de Parma, também este preso a um ramo da família que expulsou os Jesuítas em 1767) agiram por inspiração de princípios iluministas, considerando a Companhia como a principal força de resistência contra a afirmação daqueles princípios. Essa explicação vê nas expulsões dos Jesuítas um episódio da luta dos “Lumi” contra uma junção de usos, papéis e crenças de origem medieval, identificados como um obstáculo à afirmação da “razão” na organização da vida associada. 

Uma segunda é que o Marquês de Pombal e os governos bourbônicos quiseram incrementar o controle absolutista sobre seus respectivos Reinos, como premissa para um incremento da efetividade do governo. Com isso, decidiram reduzir o tradicional espaço de autonomia e prerrogativas detido pelo clero, agindo não contra o clero secular (onde a alta administração era controlada de certa forma pela monarquia), mas contra a mais potente das ordens religiosas, que tinha uma base consistente de popularidade e, proporcionando a instrução de grande parte da nobreza e da alta burguesia, tinha uma grande influência sobre a parte mais representativa da população. Uma terceira (parcialmente ligada à precedente) é que o estado endêmico de dificuldades financeiras no qual se encontravam as monarquias dos países católicos sugeriram o incremento dos bens estatais através do confisco de propriedades relevantes da ordem inaciana. 

Todas essas explicações contêm algum elemento real, mas nenhuma é totalmente convincente. Nada prova que o Marquês de Pombal ou os ministros dos estados bourbônicos consideravam acima de qualquer suspeita as ideias do Iluminismo no campo social e político, porque aquelas ideias podiam colocar limites ao poder absoluto dos governos e ameaçar as justificativas tradicionais da base do poder monárquico. O controle absolutista do Estado podia atuar também sem uma perseguição sistemática aos Jesuítas e, mais do que isso, também os usando como um instrumento do governo (como acontece no Império de Habsburgo durante os reinos de Maria Teresa e de José II , que usaram os Jesuítas como principais especialistas em muitas funções técnicas fundamentais). Os bens da Companhia, acima de tudo nas colônias, não tinham valor relevante, como foi sustentado por várias vezes, tanto que as suas províncias missionárias tinham dificuldades financeiras graves e praticamente contínuas. 

Provavelmente a explicação não seja referida a outro fator, inteiramente diferente daqueles precedentes, mas acima de tudo uma junção, localmente variáveis, daqueles fatores. Um aspecto importante, até então não considerado, é que a expulsão da Companhia era útil também para o interesse pessoal de poder dos ministros. Deve-se então observar que, em todos os Estados, a pressão para a expulsão parece ter sido desejada primeiramente não na vontade pessoal dos soberanos, mas na obra de convencimento desenvolvida acima deles pelos ministros (Pombal, Campomanes , Choiseul , Du Tillot , Tanucci ): todos estes detinham um poder muito amplo, baseado no suporte de parte de determinados dirigentes distintos daqueles em relacionamento mais direto com a Companhia; assim, o fim da presença dos Jesuítas poderia parecer a eles como uma condição para a consolidação do poder (não necessariamente num sentido negativo e egoísta, mas também como premissa a uma maior liberdade de ação).

 

IHU On-Line – Por que os Jesuítas exilados tiveram dificuldade em buscar asilo em Roma? Como puderam se assentar na Itália?  

Ugo Baldini – A chegada de aproximadamente 7 mil pessoas à Itália criou objetivamente sérios problemas logísticos e financeiros, tanto ao Estado pontifício (cujas finanças na metade do século XVIII não eram muitas) quanto à Companhia, cujas sedes não tinham espaço para contê-los, nem recursos financeiros para mantê-los. De fato, foi nítido que o acolhimento mais cordial aos exilados nas portas em que chegaram veio dos religiosos de outras Ordens (também dos Dominicanos, antagonistas históricos da Companhia), e não dos seus irmãos Jesuítas. 

Em seguida, uma solução foi encontrada pela Cúria Papal (não daquela da Ordem), distribuindo os exilados em uma pequena parte de Roma e em localidades próximas, mas, na maioria, no lado centro-setentrional do Estado Pontifício — nas atuais regiões italianas da Umbria, Marche e Emilia-Romagna. Até a Supressão da Companhia, em 1773, os exilados pertenciam ainda formalmente às suas respectivas províncias, assim foram distribuídos marcando uma localidade àqueles provenientes de determinadas províncias (por exemplo, os mexicanos em Bolonha, os Catalãos em Rimini, etc.). 

Os Jesuítas da Assistência Espanhola recebiam uma pequena pensão de Carlos III , que, unida aos pequenos ganhos realizados com atividades culturais (ensino privado, atividades nas bibliotecas e nas paróquias, etc.), permitiu que eles vivessem modestamente, mas ao menos de forma decente. Os irmãos portugueses não tinham pensão, e muitos deles foram distribuídos em localidades menores e mais isoladas; isso produziu situações de sofrimento econômico e psicológico, que pareciam corresponder a uma taxa de mortalidade muito mais elevada do que com relação aos espanhóis (aproximadamente 50% de mortes nos primeiros 10-12 anos).

 

IHU On-Line – A Companhia, surgida na Europa, já havia se espalhado para o Oriente, bem como para o continente Americano, Africano e na Oceania. Com a expulsão e a vinda dos membros para a Europa, há relatos de certo preconceito diante dos recém-chegados dos países do Sul. Como eram vistos pelos outros jesuítas europeus? E pela comunidade eurocêntrica?

Ugo Baldini – A Espanha tinha ocupado por cerca de dois séculos quase metade da Itália, e por isso em geral os espanhóis não eram amados. Com relação aos portugueses, não existiam motivos específicos de ressentimento, mas é possível que a origem ibérica os fizesse se envolver, em parte, nos prejuízos contra os espanhóis. Também no interior da Companhia existiam prejuízos com o componente ibérico, devido às diversidades nacionais e também, em parte, ao fato de que o monopólio espanhol e português sobre todas as missões extraeuropeias (excetuadas as zonas do Mediterrâneo oriental) subordinava os missionários das outras Assistências a superiores quase sempre ibéricos, muito animados pelo orgulho nacional e também diferentes dos demais pela diversidade cultural.

 

IHU On-Line – Qual foi a importância deste retorno para promover o compartilhamento de saberes plurais adquiridos nestas localidades em um mundo predominantemente eurocêntrico? 

Ugo Baldini – Foi de grande importância com relação ao princípio; de fato, porém, foi notável, mas não muito ampla. Dada a situação econômica e o estado de isolamento dos exilados, suas narrações e descrições de eventos e contextos coloniais permanecem em grande parte inéditas (algumas foram publicadas somente no século XX, outras ainda são inéditas). Em geral, pode-se dizer que a influência dos Jesuítas exilados na Itália foi maior nos setores da teologia, da teoria política e da crítica e história literária, porque nestes setores existiam canais de publicações mais imediatos, e porque os mesmos setores estavam presentes nas atividades das Academias das quais muitos Jesuítas tornaram-se membros.

 

IHU On-Line – Quais foram as principais contribuições dos Jesuítas para a história natural das Américas? 

Ugo Baldini – Membros da Companhia detiveram as primeiras descrições de contextos territoriais na íntegra e, acima de tudo, muitos deles foram os primeiros a tentar descrever integralmente as regiões coloniais, unindo os elementos geográficos, cartográficos, naturalísticos, étnico-linguísticos. Para muitas regiões, a geografia, a história natural, a antropologia física e a etnologia foram, até o século XVII, um fato inteiramente “Jesuítico”. Para as exigências das suas viagens pelos territórios, as suas descrições foram particularmente importantes para a hidrografia fluvial e a orografia; fundamentais também as contribuições na descoberta e difusão dos valores medicinais de plantas locais (iniciando pela China), das quais aprenderam as propriedades com os indígenas.

 

IHU On-Line – E no caso do progresso científico, houve contribuições relevantes?

Ugo Baldini – No plano da pura teoria científica, a contribuição dos missionários (daqueles na América e África muito mais dos que na Ásia) pode se definir como insignificante, por uma série de motivos facilmente compreensíveis. As suas condições de vida e atividade não eram favoráveis à pesquisa pura, para a qual não havia nem livros ou instrumentos adequados. Além disso, a estratégia geral da Companhia destinava os missionários cientificamente mais preparados para o campo astronômico e físico-matemático em missões asiáticas (especialmente na China), onde existiam civilizações superiores as quais podiam ser atingidas de maneira maior pela evidência do nível científico da cultura dos Padres. Nas missões americanas foram enviadas poucas pessoas cientificamente qualificadas, e não antes do fim do século XVII.

 

IHU On-Line – Ao se pensar a relação entre igreja e ciência, é fácil remeter a uma posição intolerante e censora da primeira — tal como ocorreu a Nicolau Copérnico. No entanto, muitos jesuítas eram estudiosos das ciências naturais. De onde vinha esta relação mais intensa dos jesuítas com a ciência?  

Ugo Baldini – A imagem de intolerância e censura da Igreja com as ciências torna absolutistas e extremistas certo número de episódios reais. A nova ciência experimental e a astronomia heliocêntrica tiveram opositores também entre os acadêmicos não religiosos, geralmente fixados no aristotelismo  ortodoxo até a metade do século XVII, e a mesma oposição também foi em grande parte das Igrejas protestantes. Do contrário, uma parte não muito pequena dos cientistas mais significativos do século XVII e XVIII foi constituída por religiosos católicos, e em particular pelos Jesuítas. Uma razão pela qual a censura católica historicamente é muito mais conhecida, sendo identificada com o completo sistema de censura eclesiástica, é que a estrutura administrativa do catolicismo, e a instituição neste de órgãos centralizados para a censura (o Santo Ofício e a Congregação do Índice para a Cúria Romana, as Inquisições locais pela Espanha e Portugal), torna o trabalho deles mais “eficaz”, sistemático e acima de tudo reconhecido; do contrário, a censura dos protestantes e dos anglicanos foi mais fragmentada, e por isso não foi percebida de forma unitária.

As razões do desenvolvimento da atividade científica na Companhia são questões discutidas. Uma foi certamente o grande desenvolvimento vivido pelo sistema escolástico, que o coloca em competição com as escolas e universidades não religiosas e, então, impõe a criação de muitas cátedras de matemática, que renderam a formação de muitos especialistas e com isso criaram um componente científico permanente. Uma outra razão foi a exigência missionária (principalmente as da Ásia), onde a competência científica era um meio para obter respeito da classe dirigente local e era também um instrumento para as exigências práticas (a partir da necessidade de se orientar em viagens a regiões desconhecidas).

 

IHU On-Line – Havia limites impostos aos desenvolvimentos e projetos científicos propostos pelos jesuítas? 

Ugo Baldini – Existiram limites tanto institucionais como filosóficos e epistemológicos. Enquanto Ordem religiosa, a Companhia era vinculada ao Direito canônico, que proibia aos membros do clero o exercício da advocacia e da medicina. Por esta razão, nas Constituições, Santo Inácio proibia tanto o ensino como a prática pública destas duas áreas (nas universidades jesuítas o direito e a medicina sempre foram ensinados por pessoas fora do clero). Todavia, por exigências concretas, a Companhia sempre teve especialistas em direito canônico, e muitos missionários tiveram conhecimentos médicos, acima de tudo sobre as ervas usadas em terapias (os “simples”). Isso permitiu a alguns deles estudar as propriedades medicinais de novas plantas encontradas nas zonas de missão e usadas pelas populações locais. Todavia não foram os Jesuítas os autores da clínica médica, de anatomia ou fisiologia humana (se excluirmos as análises — feitas pelos matemáticos — das características mecânicas do corpo humano ou do olho como aparelho óptico). Os limites filosófico-epistemológicos foram mais graves e condicionantes.

Tendo adotado a teologia tomista, a Companhia estava vinculada à fidelidade a, pelo menos, alguns princípios da ontologia e da cosmologia aristotélica, que eram adotadas naquela teologia. A fidelidade ao aristotelismo era também uma delimitação das potencialidades da matemática, porque Aristóteles tinha demarcado nitidamente a sua diferença da física e a impossibilidade de usá-la para estudar os processos de formação e transformação dos corpos materiais. Essas razões de princípio, que diferenciavam a filosofia da ciência e a metodologia jesuíta daquelas que se afirmaram a partir de Galileu e Descartes, impediram que os Jesuítas tivessem um papel evolutivo em alguns dos pontos centrais da renovação. Naturalmente este pensamento tem valor sobre um plano estatístico e tendencioso, não estritamente sobre aquele individual (alguns Jesuítas foram abertos às novas ideias e as cultivaram). Por outro lado, os matemáticos e filósofos naturais da Companhia detiveram notáveis contribuições em setores da ciência independente da escolha conceitual ao fundo: a óptica física antes de Newton e a acústica no século XVI foram quase que totalmente “regiões jesuíticas”, e em grande parte o foi o estudo do magnetismo. No século XVII, para permanecer formalmente no interior das categorias tradicionais, R. Boskovic  se une a uma teoria de fenômenos físicos fundamentais que foi antes de tudo a mais moderna formulada até a metade do século XVIII. O mesmo vale para a matemática: os homens da Companhia foram contrários ao nascimento da geometria analítica e da análise infinitesimal, mas detiveram contribuições fundamentais nos setores mais tradicionais da geometria pura e da trigonometria, além da análise lógica dos processos matemáticos.

 

IHU On-Line – Estimativas apontam que, quando da expulsão de Portugal em 1759, 20 mil estudantes estudavam em instituições jesuítas — o que mostra a importância da Companhia no ensino do país. No entanto, com a reforma pombalina, muitas críticas surgiram ao ensino jesuíta, tido como “demasiado aristotélico”, ou ainda restritivo (valorizando principalmente os próprios membros da Companhia). Qual a pertinência destas críticas?

Ugo Baldini – Naturalmente o ensino dos Jesuítas, em geral e particularmente nos países ibéricos, tinha limitações e defeitos, devido a razões de princípios ou pela influência de tradições que restringiam escolhas possíveis para o ensino em algumas cátedras. Quanto ao fato de que as cátedras estavam confiadas somente a membros da Companhia, isso é verdade para essa como para todas as outras Ordens religiosas, e tem um paralelo em restrição ainda mais presente nas Universidades não religiosas (como a reserva de elevados percentuais de cátedras a pessoas nascidas na sede da Universidade).

Sobre o aristotelismo já respondi, mas observo que muitos críticos das instituições jesuíticas têm uma imagem muito estática, ignorando ou subavaliando os notáveis fatos de evoluções alcançados entre o final do século XVI e a metade do século XVIII (por exemplo, por volta de 1740, na maioria dos colégios italianos se ensinava — mesmo que de modo simplificado — a mecânica de Newton ). Por outro lado, os termos de uma discussão direta devem ser uniformes: o ensino nas escolas da Ordem não deve ser confrontado com o conteúdo da ciência acadêmica avançada, mas com aquele das cátedras correspondentes nas universidades. Se isso é feito, os elementos de atraso presentes no ensino jesuítico se atenuam muito.

 

IHU On-Line – O sentimento antijesuítico ainda persiste em alguns países, como Portugal? Existe dificuldade, a partir deste sentimento, de aceitar a colaboração da Companhia para o avanço histórico e científico? 

Ugo Baldini – O antijesuitismo foi, com a crítica à Inquisição e à censura literária, o elemento cultural mais forte na crítica “não religiosa” ao catolicismo por mais de dois séculos. Isso se explica considerando que se trata de um reconhecimento implícito: sendo (justamente) reconhecido como o principal órgão de defesa da doutrina católica — em áreas como a teologia, a exegese, o direito, a teoria política, a visão científica —, a Companhia sofreu o ataque principal que na guerra vem diretamente contra o baluarte de um forte identificado como essencial para sua defesa. Por outro lado, a propaganda e a polêmica jesuíta foram bastante unificadas, de todo sorrateiramente, com papel de censura, atribuindo à Companhia muitas das iniciativas de denúncia e das escolhas convictas sobre as Congregações da Inquisição e do Índice, embora essas não tivessem parte formal (o papel diretivo era dos cardeais da Cúria, e os funcionários eram sempre dominicanos ou franciscanos; os Jesuítas podiam ser somente consultores). Dada a grandiosidade da polêmica e a gravidade das acusações contra eles, certos julgamentos se basearam na generalidade da opinião pública (paradoxalmente, nos países católicos tanto e talvez mais que nos protestantes). A fundamentação foi tão profunda que a mudança acentuada dos julgamentos que estavam em curso há mais de 20 anos em nível superior dos estudos teve pouco impacto sobre ela. O processo, porém, está em desenvolvimento, e uma mudança no julgamento histórico, mesmo que junto ao grande público, é inevitável. ■

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