Edição 448 | 28 Julho 2014

Instituto Anchietano de Pesquisa – IAP - reinaugura dois museus na Unisinos

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Ricardo Machado

A história do mundo é muito maior do que aquilo que cabe em palavras, em imagens ou em memórias. De tudo o que a civilização humana espalhou ao longo do tempo, reunimos os cacos e disso recontamos e reconstruímos nosso passado, no esforço hercúleo de compreendermos a nós mesmos. Em síntese esse é o trabalho dos museus e, também, do Instituto Anchietano de Pesquisas - IAP, que inaugura sua nova sede no Campus da Unisinos, no dia 31 de julho, a partir das 18 horas, na Galeria Cultural da Biblioteca. O evento marca, também, os 45 anos da Unisinos na atual sede, no dia dedicado a Santo Inácio de Loyola.
A inauguração do museu será realizada no dia 31 de julho, na Galeria Cultural da Biblioteca da Unisinos.

Longe da pompa dos badalados museus, o IAP tem sua riqueza no valor histórico das peças e artefatos que datam de 12 mil anos — no museu arqueológico — e imagens de santos de aproximadamente 300 anos — no Museu Capela. Os ambientes ficam distribuídos em dois espaços no Campus da Unisinos. No Centro das Humanidades, localizado no Prédio 1E, está o museu arqueológico destinado à exposição de itens da pré-história do Brasil, de populações indígenas e peças arqueológicas andinas, além de um herbário com mais de 140 mil itens. No andar térreo do prédio da Biblioteca fica localizado o Museu Capela, onde estão expostas figuras de santos com cerca de 2 metros de altura, esculpidas em troncos de madeira por indígenas das Reduções Jesuíticas  do noroeste do Rio Grande do Sul.

Visitação

O público-alvo do IAP são grupos de estudantes do ensino fundamental e médio, que fazem visitações mediadas e agendadas previamente. Os museus — Arqueológico e Museu Capela — do IAP não têm pessoas para atender as visitações em tempo integral, entretanto, a equipe de pesquisadores, professores e alunos bolsistas da Unisinos se revezam no atendimento ao público. “Somos uma equipe pequena, de 14 pessoas, que nos dividimos no trabalho de catalogação dos materiais e atendimento ao público”, explica Pe. Pedro Ignacio Schmitz , Coordenador da Arqueologia do IAP e professor da Unisinos desde 1963.

Dos porões às galerias

Todo historiador é um pouco alquimista, transforma coisas velhas em antigas, “lixo” em luxo. Foi de um processo de transformação destes que algumas peças que integram os museus do IAP saíram dos porões do Colégio Anchieta, em Porto Alegre, e se transformaram em artigos de exposição. O Instituto Anchietano de Pesquisas foi fundado pelos padres Balduino Rambo  e Luiz Gonzaga Jaeger , em 1956, juntamente com outros jesuítas de áreas da Física, Química, Matemática, Botânica, Zoologia, Antropologia, entre outros.

Arqueologia

A sala onde ficam os materiais do acervo arqueológico do IAP reúne desde artefatos de populações que viveram na América Latina há 12 mil anos, até artesanatos indígenas contemporâneos que datam da década de 1960. No centro da sala, grandes panelas de barro chamam atenção de quem entra no ambiente. “Os homens indígenas quando voltavam para seus lares bebiam a ‘chicha’, uma espécie de bebida fermentada com milho, mandioca ou mel, similar às nossas cervejas”, explica Ignacio Schmitz. 

Ao redor do ambiente, uma série de cartazes e painéis com reproduções de imagens indígenas reproduzidas em cavernas, pintadas por diferentes tribos, compõe todo o espaço do museu. Há também toda a sorte de ferramentas e instrumentos de populações que viveram há 12 mil anos na região Sul do Brasil. Os testes sobre a datação do material recolhido e exposto são feitos por meio do Carbono 14 e realizados nos Estados Unidos.

O professor explica que a coleta do material é resultado de um trabalho de décadas em todas as regiões brasileiras e andinas. “Quando comecei os trabalhos arqueológicos, em 1972, fiz um programa de pesquisa que abarcava cinco áreas de 20 mil quilômetros quadrados cada uma, em diversas regiões. De lá para cá viemos fazendo esse trabalho de coleta e seleção de materiais que compõem nosso acervo arqueológico”, conta o professor.

Museu Capela

Mesmo quem passa pela porta do novo Museu Capela, ao olhar pela porta de vidro é capaz de ver os itens que compõem o acervo. São imagens em madeira — esculpidas por indígenas na época das Reduções Jesuíticas —, em gesso e um altar fabricado no ano de 1921. “O Museu Capela quer mostrar a memória do trabalho dos jesuítas. Ele fica junto [no mesmo prédio] do Memorial Jesuíta, da nossa biblioteca e da capela da Unisinos”, esclarece Ignacio Schmitz.

A opulência das Reduções Jesuíticas, entre 1610 e 1759, marcou o auge da territorialidade da Companhia de Jesus nos séculos coloniais da América Latina, momento em que se propuseram catequizar e civilizar os indígenas. A ordem foi fundada em 1534, em Paris, por um grupo de estudantes liderados por Inácio de Loyola. Em 1540 os jesuítas foram reconhecidos pelo Papa enquanto congregação e empreenderam a tarefa de construir escolas para os nobres e os filhos dos nobres europeus. “As escolas eram uma 'muralha' contra o protestantismo, pois os colégios serviam para fortalecer o catolicismo na Europa”, lembra o professor.

Algumas imagens que integram o acervo do Museu Capela foram esculpidas em troncos de madeira, manufaturadas por indígenas sob orientação de jesuítas com conhecimentos em arquitetura. De acordo com o coordenador de arqueologia do museu, os corpos das imagens eram fabricados nas Missões, mas muitas cabeças e mãos vinham da Europa, apenas para serem encaixadas às estátuas. “Algumas imagens têm feições indígenas, como é o caso das estátuas de santos que não possuem barba, sequer um fio de bigode. É clara a forma como os indígenas reproduziam a própria cultura nas imagens que fabricavam. No mundo todo existem mais ou menos 3 mil peças fabricadas nesse período, das quais 13 estão no nosso museu”, destaca. 

Supressão da Companhia de Jesus

A partir de 1750, com o Tratado de Madri e a Guerra Guaranítica, os indígenas que viviam nos Sete Povos das Missões tentaram resistir às tensões da Corte Portuguesa, que impunha aos povos originários a necessidade de viverem do outro lado do Rio Uruguai. Anos mais tarde, a situação tornou-se insustentável na Europa, por pressão dos Reis de Portugal, França e Espanha, e a Companhia de Jesus foi suprimida, em 1773, como Ordem Católica, mas seguiu seu trabalho em países não católicos, como a Prússia e a Rússia. “Eles precisavam dos jesuítas e por isso mantiveram o trabalho dos religiosos nessa região, que eram fundamentais para a educação local e seguiram com suas atividades”, conta Ignacio Schmitz.

Quem foi Santo Inácio de Loyola

Íñigo (Inácio) López nasceu na localidade de Loyola, atual município de Azpeitia, próximo a San Sebastian, no País Basco, na Espanha, em 1491. De família rica, o caçula de treze irmãos decidiu dedicar-se à espiritualidade aos 26 anos, quando abandonou a carreira militar, voltando a estudar para melhor abraçar a vocação descoberta de evangelizador. De 1522 a 1523 escreveu os Exercícios Espirituais, baseados em sua experiência de encontro com Deus, através de reflexões que levam em conta sua própria humanidade. Os Exercícios Espirituais se tornaram, mais tarde, um reconhecido método de evangelização para os católicos.

Em 1534, com mais seis companheiros, entre eles Francisco Xavier, funda a Companhia de Jesus, que recebe a aprovação do Papa Paulo III em 1540, quando Inácio é escolhido para o cargo de superior-geral da ordem. Santo Inácio morreu em Roma, em 31 de julho de 1556, aos 65 anos. Em 1922, o Papa Pio XI declarou Santo Inácio padroeiro de Retiros Espirituais.

Equipe

Diretor: Pe. Aloysio Bohnen

Coordenador da Arqueologia: Pe. Pedro Ignacio Schmitz

Pesquisadores/Funcionários: Denise Schnorr, Ivone Verardi, Jairo Henrique Rogge, Jandir Damo, Marcus Vinícius Beber, Maria Salete Marchioretto e Suliano Ferrasso

Bolsistas: Natália Machado Mergen, Marciele Fischer Parode, Vera Regina Schmitt Pires da Silva, Rafaela Nogueira, Fabiane Maria Rizzardo e Natália Mota

Entre em contato

Para obter mais informações sobre agendamento e horário de funcionamento dos museus, entre em contato pelo telefone (51) 3590-8409 ou pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

Leia mais...

- Pedro Ignácio Schmitz. Perfil publicado na editoria IHU Repórter da edição 385 da IHU On-Line, de 19-12-2011; 

- Uma história marcada por lutas e resistências. Entrevista com Pedro Ignácio Schmitz publicada na edição 331 da IHU On-Line, de 31-05-2010;

- Lição dos índios: sobrevivência é o princípio de qualquer cultura. Entrevista com Pedro Ignácio Schmitz publicada na edição 257 da IHU On-Line, de 05-05-2008. 

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