Edição 441 | 28 Abril 2014

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Redação

Entrevistas especiais feitas pela IHU On-Line no período de 14-04-2014 a 25-04-2014, disponíveis nas Entrevistas do Dia do sítio do IHU (www.ihu.unisinos.br).

Plano Nacional de Mineração e a nova versão do Programa Grande Carajás

Dário Bossi, missionário comboniano, membro da rede Justiça nos Trilhos e da Rede Brasileira de Justiça Ambiental

Publicada no dia 25-04-2014

“O Programa Grande Carajás alterou profundamente a história, a geografia e o ambiente da Amazônia oriental, e suas consequências continuam presentes na vida cotidiana das cidades”, diz padre Dário Bossi, que há sete anos atua como missionário comboniano no Pará e na região amazônica. Segundo ele, 21 dos 27 municípios dos estados do Pará, Maranhão e Tocantins, atravessados pela Estrada de Ferro Carajás, “possuem Índice de Desenvolvimento Humano - IDH menor que a média dos seus Estados”. O Programa, criado pela Vale do Rio Doce durante o governo João Figueiredo (1979 a 1985), surgiu com a promessa de proporcionar à região diversas oportunidades, desde projetos de industrialização do minério extraído, até beneficiamentos para a agroindústria e o reflorestamento. Contudo, 30 anos depois de sua implantação, “muito disso ficou no papel”, afirma em entrevista à IHU On-Line. 

 

Dos ultraprocessados aos alimentos: resgatando a boa nutrição? 

Entrevista com Signorá Konrad, professora do curso de Nutrição da Unisinos 

Publicada no dia 24-04-2014

“Há hoje uma pandemia, em que metade da população brasileira adulta tem excesso de peso e quase 15% é obesa”, alerta a nutricionista Signorá Konrad. “Devemos fazer do alimento a base da nossa alimentação.” Esta será a principal recomendação do novo Guia Alimentar para a População Brasileira, ainda em consulta pública, a ser lançado no próximo mês de agosto, informa ela em entrevista à IHU On-Line. Segundo Konrad, apesar de a frase parecer “redundante”, propõe justamente uma distinção entre o que são alimentos e o que são produtos ultraprocessados, tais como biscoitos, barras de cerais, sorvete, enlatados e os demais produtos industrializados, já que “durante muito tempo se tratou os produtos ultraprocessados como alimentos”.

 

“A política moderna não tem mais sentido”

Entrevista com o sociólogo Michel Maffesoli, professor da Universidade Sorbonne - Paris V e secretário geral do Centre de Recherche sur l'Imaginaire

Publicada no dia 23-04-2014

“A política tal como se caracterizava essencialmente em termos de projeto racional não existe mais. Ao contrário disso, há um ressurgimento do emocional”, diz Michel Maffesoli à IHU On-Line, em entrevista concedida pessoalmente. Para ele, as recentes manifestações dos jovens brasileiros e dos indignados de Madri “mostram que não se inserem mais na perspectiva política habitual e que neles há, ao contrário, uma invasão da dimensão emocional”, avalia. Partindo de uma interpretação sociológica fenomenológica, Maffesoli diz que desde os anos 1980 assiste-se ao fim da modernidade e ao início da pós-modernidade — não mais em um movimento circular, mas de pêndulo, onde as sociedades avançam ao mesmo tempo em que mantêm características ulteriores. “Por um movimento de pêndulo, que nos remete justamente aos ciclos, percebemos que o importante hoje é o ventre, isto é, o emocional, as emoções, e não o racional”.

 

A onipotência e a debilidade de Deus na teologia de Bonhoeffer

Entrevista com Harald Malschitzky, pastor e professor aposentado da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB 

Publicada no dia 22-04-2014

No dia 9 de abril de 1945, morre o teólogo e pastor luterano Dietrich Bonhoeffer. Enforcado em um campo de concentração ao lado de seus familiares semanas antes do fim da 2ª Guerra Mundial, o pensador alemão é considerado um dos poucos teólogos mártires do cristianismo. O fato explica-se considerando que a academia, muitas vezes, encerra-se em discussões herméticas. Por sua vez, Bonhoeffer, como aponta Harald Malschitzky, “se perguntava pela relação entre fé e vida como ela é e acontece, fato tantas vezes ignorado na teologia acadêmica”. Malschitzky, autor de um livro sobre o teólogo alemão, relata, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-line, um breve histórico da vida de Bonhoeffer, sua resistência a Hitler e a sua luta contra a nazificação da igreja.

 

A surdez humana e a voz infinita de Deus

Entrevista com Andrés Torres Queiruga, teólogo, professor da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha 

Publicada no dia 21-04-2014

Para o teólogo Andrés Tores Queiruga, não houve nenhum silêncio de Deus em Auschwitz, e a pergunta “Onde está Deus?”, que voltou a ser feita após o holocausto, deve ser “enterrada definitivamente”. Para ele, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, ele defende que o que houve foi “surdez humana”, porque Deus sempre está clamando com “voz infinita”. Na avaliação do teólogo, perguntas que apontam para o silêncio de Deus diante da maldade humana e sugerem o consentimento de Deus diante das atrocidades “levam diretamente ao ateísmo”, e uma “teologia não devidamente atualizada pode ter resultados catastróficos”. Para ele, é preciso compreender que os casos de brutalidade foram cometidos “identicamente contra as vítimas e contra Deus” e que o “mal é algo que Deus não quer e contra o qual, desde o começo da história, está do nosso lado, chamando-nos para que colaboremos com Ele, para remediá-lo ou diminuí-lo na medida do possível”.

 

O Deus que sofre e se revela na fraqueza não silencia

Entrevista com Carlos Arthur Dreher, graduado, mestre e doutor em Teologia, professor das Faculdades EST

Publicada no dia 19-04-2014

"O grito de Jesus na Cruz antes da morte: ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?’, relatado no Evangelho de Marcos (Mc 15 33,34), “nos apresenta o verdadeiro homem, de carne e osso, que sofre da mesma maneira que qualquer ser humano sofre”, afirma Carlos Arthur Dreher. As diversas passagens bíblicas revelam um Deus presente e não ausente, um Deus que se revela na sarça, no espinheiro insignificante, na brisa leve, no imperceptível, na manjedoura e até mesmo na cruz, assinala o teólogo e pastor luterano. “Não é à toa que Paulo afirma que essa Palavra da Cruz é ‘escândalo para os judeus e loucura para os gentios’. O mundo não consegue compreender que Deus se revele na fraqueza”, afirma. Para Dreher, “Deus não ‘silencia’ diante do sofrimento humano, tampouco se ausenta. Ele está, sempre, no meio de nós. (...) Ele estava nas câmaras de gás do holocausto, Ele estava em meio aos povos indígenas brutalmente assassinados pelos conquistadores, e ainda está no meio deles. Ele está em meio aos pobres do mundo inteiro. Ele estava nos porões da tortura. Afinal, Ele mesmo foi brutalmente torturado na Cruz. Como não estaria conosco sempre?”.

 

O grito de Jesus na cruz e a longa tradição de lamentos contra Deus

Entrevista com Alexander Nava, mestre e doutor em Teologia, professor da Universidade do Arizona

Publicada no dia 18-04-2014

O grito de Jesus na cruz antes da morte, “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”, narrado no Evangelho de Marcos (Mc 15, 34), “captura uma longa tradição de gritos de lamento e de protesto judeus. O exemplo mais óbvio disso é o livro de Jó, em que o principal protagonista, um homem justo que luta com um terrível destino, grita de angústia e dor contra Deus. Assim como no Salmo 22 e em Marcos 15, 34, Jó se sente completamente abandonado por Deus e, ainda pior, sente que Deus é responsável pelo seu sofrimento. No fim, o desespero que Jó sente é transformado em uma alegria e esperança surpreendentes, mas isso não diminui o audacioso desafio que Jó lançou contra Deus”. A reflexão é do teólogo estadunidense Alexander Nava. “Ouvir e conhecer Deus depende da nossa ‘capacidade de ver através dos olhos dos pobres e dos vulneráveis’”, diz, porque, “ao contrário das visões romanas da religião, em que o imperador romano era visto como divino, o cristianismo acredita que Deus veio na forma humilde e oprimida de um mendigo ou de um escravo. Em vez de se manifestar no poder político e no sucesso mundano, o Deus do Novo Testamento se revela na fraqueza e na impotência, no amor e no serviço aos outros”.

 

O grito de Jesus na cruz e seus ecos na contemporaneidade

Entrevista com Francine Bigaouette, doutora em Teologia, missionária no Peru pela Congregação das Dominicanas Missionárias Adoradoras, professora de Teologia

Publicada no dia 17-04-2014

“A escuta do grito de Jesus crucificado nos permite vivenciar a perturbadora descoberta de que, quando experimentamos de diversas maneiras o poder do mal e da morte, temos o direito de pensar que somos abandonados por Deus, de nos sentir entregues por Ele e de lhe perguntar por que, sem que isso viole a qualidade de nossa confiança e de nossa esperança Nele”, assinala Francine Bigaouette, teóloga canadense. Francine ressalta que, “ao mesmo tempo, porém, descobrimos que as situações existenciais de abandono que vivenciamos não podem mais ser interpretadas como a expressão da ausência de Deus, de sua indiferença, de seu recuo, de seu castigo”. Na interpretação da teóloga, é justamente no instante da morte de Jesus na cruz que “é desvelada a face de um Deus que luta contra a hostilidade dos adversários do Filho, mostrando-lhes o que é feito de seu amor quando eles o rejeitam: não a vingança, mas a misericórdia. (...) Ele, Deus, vem para suscitar nesse lugar a resposta que o ser humano, entregue a si mesmo, é incapaz de lhe dar: a resposta da fé. No clamor de Jesus na cruz, o silêncio de Deus diante da morte de seu Filho se faz ouvir como a palavra-ápice pela qual Ele nos revela a profundeza inaudita de seu respeito e de seu amor por nós”.

 

70% das comunidades são privadas da Eucaristia dominical. "A Igreja é a responsável por esta situação"

Entrevista com Paulo Suess, doutor em Teologia Fundamental, possui o título de Doutor honoris causa das universidades de Bamberg e Frankfurt, na Alemanha, assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário – Cimi

Publicada no dia 16-04-2014

“[O Papa] Francisco sabe que não pode ser autor, diretor, coreógrafo e ator na mesma peça. Ele sabe também que cada herói necessita seu vilão. Se o vilão fica mais forte que o herói, a peça torna-se tragédia”, observa o teólogo alemão Paulo Suess, que chama atenção para a responsabilidade da Igreja diante de sua comunidade eclesiástica. “A Igreja, que é sacramento de vida, pode e deve assumir coletivamente a carência de padres e saná-la coletivamente. Michel de Certeau, um jesuíta francês, muito estimado pelo Papa, fala de uma ‘ruptura inovadora’ (rupture instauratrice) de vida nova que nasce das ruínas. Podemos nos imaginar um grupo de viri probati que celebra em conjunto a Eucaristia”, sustenta. “A Igreja os convoca e encarrega para fazer comunitariamente o que nenhum deles pode fazer sozinho. O vínculo com a comunidade e para a comunidade, no interior de uma diocese e paróquia, pode fazer da Igreja local uma ‘comunidade de comunidades’”, complementa.

 

Denúncia feita ao Papa: “Grupos político-econômicos buscam desconstruir os direitos territoriais dos povos indígenas”

Entrevista com Dom Erwin Kräutler, Bispo do Xingu e presidente nacional do Conselho Indigenista Missionário – CIMI.

Publicada no dia 15-04-2014

“Denunciei ao Papa que, contrariando o que determina a Constituição Brasileira, o atual governo suspendeu os procedimentos administrativos de reconhecimento e demarcação de terras indígenas no país”, narra Dom Erwin Kräutler, Bispo do Xingu – considerada a maior diocese do Brasil, com aproximadamente 800 comunidades, mas com apenas 27 padres. Dom Erwin Kräutler se encontrou com o Papa Francisco em 04-04-2014. “Agradeci o privilégio de ser recebido em audiência como bispo do Xingu, que é a maior circunscrição eclesiástica do Brasil em extensão territorial. (...) Como em toda a Amazônia, também no Xingu as comunidades, em sua imensa maioria, só têm acesso à celebração eucarística dominical duas ou três vezes ao ano”, conta o sacerdote. “Denunciei que existem hoje grupos político-econômicos ligados ao agronegócio, a mineradoras e empreiteiras, com apoio e participação do governo brasileiro, que buscam desconstruir os direitos territoriais dos povos indígenas e, para conseguir tal objetivo, utilizam sistematicamente instrumentos político-administrativos, judiciais e legislativos”, argumenta Dom Erwin.

 

“As UPPs não alteram a essência do crime organizado”

Entrevista com José Cláudio Alves, mestre e doutor em Sociologia, professor na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Publicada no dia 14-04-2014

“A prática das Unidades de Polícia Pacificadora - UPPs deixa claro isso: são uma força de ocupação, e não uma força de alteração da lógica política, econômica, social, cultural daquela comunidade”, afirma o sociólogo José Cláudio Alves. Há pouco mais de cinco anos, foi instalada na Favela de Santa Marta, no Rio de Janeiro, a primeira UPP carioca. “Essa estrutura montada há cinco anos não consegue alterar a essência do crime organizado. Ela altera a forma dele funcionar, diminui a lucratividade, estabelece outras formas do tráfico de drogas, do tráfico de armas”, aponta Alves. “Inicialmente se teve uma visão — e isso se constitui politicamente — de que as UPPs são uma resposta política e midiática à estrutura da violência que existe no Rio de Janeiro há muito tempo, que funciona e sempre funcionou. Essa forma de operar, desde o início, já era capenga, não tinha de fato uma estrutura mais aprofundada de relacionamento com a comunidade”, explica o professor. “O tráfico funciona dentro de uma estrutura social na qual o aparato institucional funciona espoliando e arrancando dinheiro e recurso dessa população mais pobre. Ela é espoliada pelo tráfico e pelo aparato policial”, complementa.

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