Edição 438 | 24 Março 2014

A Banalidade do Mal

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Da Redação

“A experiência de Auschwitz representa um limiar ético absolutamente inaudito; uma espécie de falência ou perempção da ética nas sociedades ocidentais contemporâneas”, afirma Oswaldo Giacoia, filósofo, em entrevista na IHU On-Line desta semana. A edição vem no contexto do Ciclo de Estudos 50 anos do Golpe Civil-Militar. Impactos, (des)caminhos, processos e da programação da 11ª Páscoa IHU, que este ano debate o tema do mal na contemporaneidade, à luz da obra de Hannah Arendt – especialmente As Origens do Totalitarismo e Eichmann em Jerusalém. Um relato sobre a banalidade do mal.

“Não é o Holocausto que achamos difícil de entender em toda a sua monstruosidade. É nossa Civilização Ocidental que o Holocausto tornou quase incompreensível”, assinala Zygmunt Bauman em Modernidade e Holocausto. Para ele, a geração que viveu essa experiência direta praticamente já desapareceu, “mas — e este é um terrível e sinistro ‘mas’ — aqueles aspectos de nossa civilização outrora familiares e que o Holocausto tornou de novo misteriosos ainda fazem bem parte de nossa vida. Não foram eliminados. Também não o foi, portanto, a possibilidade do Holocausto”. Observando os fatos históricos na contemporaneidade, permanece válida a constatação de Primo Levi: "Aconteceu e pode acontecer de novo”. 

Nesta edição, o filósofo Miroslav Milovic, do Departamento de Direito da Universidade de Brasília, afirma que é preciso contemplar o seu tempo para compreendê-lo, e só a partir desta compreensão é possível fazer o bem. Andrej Angrick, historiador alemão, trata dos Einsatzgruppen, as forças-tarefa de extermínio nazistas, e destaca a contrariedade com que membros da tropa encaravam o genocídio.

Adriano Correia Silva, professor de Filosofia na Universidade Federal de Goiás, chama atenção para a barbárie instituída por meio da banalidade do mal na modernidade, que pode levar a um passo do totalitarismo. Saul Kirschbaum, pesquisador da cultura hebraica, ressalta que para a irrupção de barbáries como o Holocausto não é preciso agentes demoníacos, apenas simples funcionários de carreira. Professor da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, o filósofo Oswaldo Giacoia Junior esclarece que a maldade que conhecemos é resultado de uma dinâmica de interiorização e espiritualização da crueldade. 

O psicanalista Robson de Freitas Pereira trata da importância do documentário Shoah (1985), de Claude Lanzmann, considerado o registro definitivo da crueldade nos Campos de Concentração e Extermínio. O documentário, nas partes 1, 2 e 4, será exibido e debatido nesta semana no Instituto Humanitas Unisinos - IHU. Reyes Mate, professor de Filosofia do Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha, propõe que parte da nossa humanidade — como conquista de homo sapiens, e não como conjunto de indivíduos — morreu depois de Auschwitz. 

O teólogo Karl-Josef Kuschel, professor da Universidade de Tübingen, afirma que a experiência do Holocausto ou de outros crimes contra a humanidade mostra a nós “pessoas esclarecidas” que nenhum padrão civilizado está garantido. Segundo ele, “tanto a literatura quanto a teologia se empenham por respostas para a experiência do "abismo Deus" e do "enigma pessoa humana". O psicanalista Abrão Slavutzky, por sua vez, aborda as relações entre o humor e a crueldade e explora os modos como os próprios judeus utilizavam do riso para sobreviver ao horror do nazismo. 

Complementam ainda esta edição entrevistas com a jornalista Daniela Arbex, sobre seu livro Holocausto Brasileiro - Vida, genocídio e 60 mil mortes no maior hospício do Brasil, e com o professor da Universidade de Emory, Atlanta, Estados Unidos, Emmanuel Lartey, sobre experiência de um Deus único e multifacetado no contexto pós-colonial.

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