Edição 202 | 30 Outubro 2006

Um festival de horror

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IHU Online

Para o jornalista Luis Nassif, a cobertura da política brasileira nas revistas nacionais se configura num “festival de ficções de lado a lado, sem precedentes na história recente do País”.

Nesta breve entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, Nassif avaliou a cobertura política pelos meios de comunicação e do “leque de opiniões” oferecido pelos blogs.

Nassif é introdutor do jornalismo de serviços e do jornalismo eletrônico no País. Comentarista econômico da TV Cultura. Vencedor do Prêmio de Melhor Jornalista de Economia da Imprensa Escrita do site Comunique-se em 2003 e 2005, em eleição direta da categoria. Membro do Conselho do Instituto de Estudos Avançados da USP e do Conselho de Economia da FIESP. Autor de O Jornalismo dos anos 90. São Paulo: Futura, 2003 e Menino do São Benedito e outras crônicas. São Paulo: Editora Senac-São Paulo, 2002. Finalista do Prêmio Jabuti de 2003 na Categoria Contos/Crônica. Em 1995, lançou o CD Roda de Choro, solando bandolim, semifinalista do Prêmio Sharp de Música Instrumental.

IHU On-Line - Como o senhor vê o comportamento do jornalismo eletrônico no Brasil nesta campanha presidencial? Como os portais se "portaram" na polarização Lula X Alckmin?

Luis Nassif
- Os portais desempenharam um papel de contrapeso à mídia convencional. Ainda existe muita torcida, muita posição passional nos blogs, mas pelo menos os leitores tiveram acesso a um leque de opiniões e informações muito mais amplo do que o oferecido pela mídia convencional.

IHU On-Line - A ética no jornalismo político é comandada por quem? Como isso é trabalhado pelo senhor, por exemplo?

Luis Nassif
- Nessas eleições, houve um claro interesse das grandes empresas jornalísticas em direcionar as reportagens e os colunistas contra o governo Lula. É evidente que há uma coleção enorme de escândalos a serem investigados. Mas, no afã de derrubar o presidente, a grande imprensa perdeu o senso de limite, forçou a barra, aceitou a armação da fotomontagem do dinheiro pelo delegado da PF. Em suma, fez uma aposta de alto risco. Se Lula perdesse, a imprensa seria responsabilizada por tudo de mal que viesse a ocorrer; se Lula vencesse, como parece ser o caso, acabaria o mito dos superpoderes da mídia. Houve enorme falta de sensibilidade dos diversos diretores de redação em embarcar em um jogo em que não poderia vencer, fosse qual fosse o resultado das eleições.

IHU On-Line - Como o senhor trabalha na edição de um comentário econômico? Existe a possibilidade de ser imparcial?

Luis Nassif
- Nos blogs é mais fácil, desde que se tenha a humildade de entender o recado dos leitores. Às vezes, coloca-se um post que provoca quarenta elogios de leitores. Mas uma crítica bem fundamentada obriga o blogueiro a repensar e a rever excesso que venha a cometer. Muitos blogs limitam-se a colocar passivamente a opinião dos leitores, sem absorver a riqueza do feedback que eles nos passam.

IHU On-Line - O senhor vê diferenças de coberturas nessas eleições? Como essas diferenças se configuram?

Luis Nassif
- Uma unanimidade inacreditável na grande mídia. Digo inacreditável porque, em toda competição, os veículos criativos buscam diferenciar-se uns dos outros. Nessa, todos lutam em uma mesma direção, com as mesmas armas, e com uma adjetivação incompatível com o papel de mediação que se exige da mídia. Nos blogs, ainda há muita parcialidade e torcida. Mas, repito, há a diversidade proporcionada pela blogosfera.

IHU On-Line - Qual a sua avaliação da cobertura política brasileira nas revistas nacionais?

Luis Nassif
- Um horror! Um festival de ficções, de lado a lado, sem precedentes na história recente do País.

IHU On-Line - Como se configura a relação entre política e mídia?

Luis Nassif
- Em geral, órgãos maiores tentam se prevalecer de momentos de catarse para conquistarem público, como foi o caso do impeachment de Collor. Nessas eleições, forçou demais a barra, porque há algum tempo a imprensa escrita vem registrando queda de tiragem. Então se forçou demasiadamente a barra nessa campanha, tentando recuperar a credibilidade perdida. Acho que apenas agravou a situação da mídia.

 

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