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IHU Online
IHU On-Line - Quais os principais desafios éticos na relação entre a mídia e a política?
Toni Vieira - O principal deles é tornar a produção da mídia mais aberta, ampliar as oportunidades de voz e vez das camadas mais marginalizadas da sociedade. Não há como exigir ética sem discutir e eleger padrões mínimos para cobrar essa ética. Eu falo padrões mínimos porque a sociedade que tem informação pode exigir e a que não tem, não pode. Quando não existia o Código de Defesa do Consumidor ninguém tinha o hábito de exigir seus direitos. Hoje qualquer cidadão abre a boca e reivindica. O processo judicial que obrigou a Rede TV a retirar do ar o programa do João Kleber poderia multiplicar-se se a população fosse educada para consumir os meios de comunicação, quase que da mesma forma como foi informada e educada a consumir alimentos e outros produtos, com base nos seus direitos de consumidor e cidadão.
IHU On-Line - Qual sua avaliação da cobertura política dos jornais e TV nas eleições entre Lula e Alckmin?
Toni Vieira - Em geral, foi boa. Houve pecadilhos que denunciaram a predileção dos grandes meios pela vitória de Alckmin. No geral, percebeu-se que a mídia não estava bem preparada para “forçar” uma vitória da oposição. Talvez porque, no Governo Lula, muitas empresas de comunicação receberam aportes financeiros do BNDES e foram contempladas com o sistema de televisão digital mais próximo do desejo delas. Não há como negar que o processo foi bem mais democrático, isento e profissional que nos últimos pleitos.
IHU On-Line - Quais os caminhos para uma imprensa mais crítica, mais objetiva e distanciada do poder político?
Toni Vieira - Ampliar a discussão sobre os padrões de uma mídia que contribua para a cidadania com a sociedade. As iniciativas de criação de conselhos municipais, estaduais e nacional de comunicação é uma boa alternativa. Também é possível discutir mais o assunto dentro das instituições de ensino, não só superior e de formação de comunicadores, mas em todos os níveis de ensino.
IHU On-Line - Quem hoje no Brasil se aproxima e quem mais se distancia de um modelo de imprensa crítica e séria?
Toni Vieira - Quem mais se aproxima é a revista CartaCapital. A Veja, e a IstoÉ são as que mais deixam claras as suas opções por produzirem manchetes de vendas e compra de conteúdos. Também os jornalões, como a Folha de S. Paulo, o Estadão e o Globo (da mesma forma as principais redes de televisão e rádio!) se distanciam de qualquer ideal de imprensa saudável pela vaidade com que se apresentam. Parece que aquilo que não foi publicado nas páginas ou telas e ondas sonoras delas não existe, nunca existiu. Falta, sobretudo, humildade e disposição para um trabalho polifônico.
IHU On-Line - O que é ensinado nos cursos de Jornalismo sobre as relações entre a mídia e a política? Quais as principais questões apontadas pelos alunos? Qual deveria ser a orientação nesse sentido?
Toni Vieira - Há ainda pouco trabalho para fazer uma relação mais profunda entre mídia e política. A academia precisa amadurecer mais as formas de tratar esse assunto sem proselitismo e sem discussão puramente ideológica.
IHU On-Line - Na sua opinião, a mídia foi ou não foi usada para o embate eleitoral nacional, principalmente no caso do dossiê?
Toni Vieira - Não há inocentes ou instituições “usadas” nesse caso. A mídia aproveitou o tema para trabalhar o que queria. Na revista CartaCapital, há um dossiê sobre o dossiê. O Brasil segue o rumo perigoso e condenável do denuncismo e da imprensa de talão de cheque, muito difundida nos Estados Unidos.
IHU On-Line - Como o senhor avalia a cobertura que a imprensa gaúcha tem feito das eleições para governador do Estado, principalmente no segundo turno?
Toni Vieira - A RBS, todo mundo sabe, é contra o PT e Olívio. As outras empresas seguem quase no mesmo diapasão. A cobertura realizada é bem melhor que em anos anteriores. Os fiascos com pesquisa em anos anteriores determinaram isso. Menos a questão da partidarização, do apoio da imprensa a esse ou aquele candidato/partido, eu penso que deveríamos refletir sobre o trabalho da imprensa no sentido de mobilizar a cidadania para o exercício do voto. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) faz serviço mais elogiável nas suas propagandas e chamadas para o voto do que os meios de comunicação, embora tenha havido uma melhora significativa se compararmos com os anos anteriores.