Edição 200 | 16 Outubro 2006

Resiliência: um novo paradigma em saúde

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IHU Online

Encontros de Ética

Resiliência: Um novo paradigma em saúde é o tema que o Prof. Dr. argentino Elbio Néstor Suárez Ojeda apresentará no Encontros de Ética de segunda-feira, 16-10-2006. A atividade, aberta a toda a comunidade acadêmica, tem entrada franca e vai das 19h30min ás 21h30min horas, na sala 1G119 do IHU. Ojeda é médico especialista em Saúde Pública, Pediatria e Saúde Materno-Infantil, além de Consultor da Organização Mundial da Saúde. Também é autor e co-autor de diversos livros e artigos, como Resiliência: descobrindo as próprias fortalezas (Editora Artmed). Confira abaixo a entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. 

IHU On-Line - O que significa o conceito de resiliência? Em que sentido ele é um novo paradigma?

Elbio Ojeda
– Resiliência se define como a capacidade humana para se sobrepor às adversidades, construir sobre elas e se projetar no futuro. Entre os muitos exemplos de personagens resilientes, citamos Albert Camus, prêmio Nobel de Literatura que emergiu da extrema pobreza na Argélia, órfão de pai, encontrou apoio em seu professor (adulto significativo) que lhe deu esse amor incondicional que está na base de todo resiliente. É importante reconhecer a resiliência como um processo dinâmico que vai se construindo gradualmente em função de relações com outros seres humanos. A pessoa está resiliente mais do que é resiliente. A aparição deste conceito implicou, especialmente para as ciências da saúde, um novo paradigma que enfatiza as forças e não as debilidades. Diante do modelo “enfermizador" se erige este paradigma que parte das forças e interpreta em cada adversidade um desafio ao qual há que se superar, com lucros para a personalidade. É por isso que este conceito é considerado como gerador das estratégias de promoção da saúde.

IHU On-Line - Que características podem ser observadas em uma pessoa que está enfrentando uma adversidade de maneira resiliente?

Elbio Ojeda
– Tem-se descrito os chamados “pilares da resiliência", que caracterizam as pessoas resilientes:

- Empatia: capacidade de perceber o estado emocional do interlocutor. “Colocar-se nos sapatos do outro";
- Autonomia: ser capaz de isolar-se do patológico e gerar um oásis de reflexão e paz em meio à tormenta;
- Humor: ver a comédia na própria tragédia;
- Religiosidade: fé na existência de um Ser superior e na transcendência do próprio trânsito pela vida;
- Criatividade: atitude para gerar beleza mesmo no meio do caos.

A lista é extensa, mas todos estes atributos têm como eixo a auto-estima, essa consciência do próprio valor intrínseco e permanente, que está enraizado na identidade própria de cada um. Falamos, então, de um narcisismo positivo. Há o consenso de que, na base de todo resiliente, está o amor incondicional ou a aceitação fundamental da pessoa brindado por um "adulto significativo" (mãe, pai, professor etc.). Hoje se aceita que é chave o "apego" entendido como a relação emocional especial que se estabelece entre a criança e sua mãe durante o período fetal intra-uterino e as primeiras horas da vida. Um apego seguro parece garantir essa estabilidade emocional que se observa nos resilientes.

IHU On-Line - De que forma pode ser estimulada a resiliência nas pessoas que sofrem? E como isso pode acontecer através das instituições e na comunidade?

Elbio Ojeda
– Estamos convencidos de que a resiliência pode ser construída, edificada, como se expressa na concepção de Vanistendael: "a casinha da resiliência". Para estimulá-la é importante esse rol de apoio de outro ser humano significativo (tutor de resiliência) que pode ser um familiar, um amigo, um sacerdote, um professor. As instituições deveriam criar um clima apropriado favorecendo a comunicação, o humor, as lideranças autênticas, a participação de todos os membros, a capacitação permanente, a tolerância racional do erro e a correção não punitiva. As comunidades, no sentido amplo, têm mostrado fortalecer sua resiliência grupal mediante a promoção da auto-estima coletiva, identidade grupal, sentido de pertencimento, solidariedade social, entre outras.

IHU On-Line - Que tipo de projetos comunitários existem hoje no mundo que trabalham com esta perspectiva?

Elbio Ojeda
– Os projetos em desenvolvimento são numerosos e abarcam os cinco continentes. Entre eles destaco o Projeto Yachay, em Jujuy, Argentina, que trabalha com crianças pobres de origem indígena, nas comunidades da Quebrada de Humahuaca. Também os do Peru são conhecidos e têm recebido avaliações positivas. No Chile, vários projetos têm sido conduzidos pelo CEANIM (Centro de Atenção da Criança e da Mãe) e têm gerado importante produção intelectual. Na Argentina, o CIER (Centro de Investigação e Estudo da Resiliência) o qual eu dirijo, tem propiciado oito projetos em distintas comunidades e com base nessas experiências publicou seis livros de ampla difusão.

 

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