Edição 408 | 12 Novembro 2012

O conflito entre Israel e a Palestina

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Thamiris Magalhães

Quando se fala do conflito no mundo árabe, que assola a população de ambos os lados há mais de 50 anos, busca-se entender o que de fato está em jogo. Quais as origens do conflito? Trata-se de uma questão econômica e geopolítica, ou religiosa e cultural? Ou todas elas estão mutuamente implicadas? Os entrevistados desta edição buscam responder à questão.

Quais as origens do conflito entre israelenses e palestinos? Seriam elas de natureza econômica e geopolítica, ou religiosa e cultural?

"Com certeza econômica e geopolítica, pois a Palestina sempre foi um território estratégico para os impérios e potências da região. Sua localização fez dela uma importante rota comercial terrestre e marítima. Ela está próxima da Europa, banhada pelo mar Mediterrâneo, e está na porta de entrada para a Ásia fazendo fronteira com a África. Pelo seu litoral sempre entraram e saíram pessoas e mercadorias, e também exércitos. A Palestina era para ser uma nação livre, soberana e independente, com judeus, cristãos e muçulmanos compartilhando o território em paz. No século XIX, época de dominação da Palestina pelo Império Turco-Otomano, surge, na Europa, o movimento sionista"
Marcelo Buzetto, do Setor de Relações Internacionais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST e professor de Geopolítica do Mundo Contemporâneo no curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Fundação Santo André

"O conflito entre israelenses e palestinos é político e, exatamente por ocorrer no espaço do político, é que engloba a economia, a geopolítica, a religião e a cultura. O espaço do político é o espaço das relações de poder e são essas relações - complexas, múltiplas e em constante mutação – que explicam a realidade (em si uma construção que se manifesta no campo do político) do conflito israelense-palestino"
Silvia Ferabolli, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS e doutoranda em Política e Estudos Internacionais pela Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres – SOAS, University of London.

"Precisamos ver o conflito em seu contexto histórico. O movimento sionista, que fazia parte do movimento colonial global, queria desempenhar certo papel e se beneficiar da atitude mental colonial que estava disseminada na Europa. O resultado disso foi a ocupação e colonização de muitos países africanos e asiáticos. Os sionistas queriam ter seu próprio Estado a fim de ter seu próprio mercado para cuidar de seus interesses. Eles acharam a Palestina um alvo fácil, devido ao fato de que muitos judeus têm uma ligação emocional com a Terra Santa e era fácil convencê-los a fugir da perseguição na Europa indo para a Palestina, onde estabeleceram seu próprio Estado a partir da destruição das esperanças e aspirações palestinas. Em suma, o conflito é fundamentalmente político e gira em torno de terra e recursos, mas ele tem algumas outras facetas (religião, cultura, etc.). As causas básicas do conflito se encontram na natureza do movimento sionista, que é excludente e racista e estava (e ainda está) disposto a implementar seu próprio projeto político às custas dos palestinos – os proprietários e habitantes dessa terra"
Rifat Odeh Kassis, força motriz e um dos coautores do documento Kairós Palestina . Foi coordenador geral do Grupo Kairós Palestina desde seu início. Em 2006, publicou seu primeiro livro, intitulado “Palestina: Uma ferida sangrenta na consciência do mundo”, e, em 2008, foi coautor de um livro intitulado “Cristãos palestinos: fatos, números e tendências”. Em 2011, publicou seu terceiro livro, “Kairós para a Palestina”.

"A questão é política em geral, mas com o tempo tornou-se econômica, cultural e religiosa também. A origem do problema foi exportada do Ocidente depois do Holocausto, onde uma nação teve de ser encontrada para os judeus e eles escolheram a minha nação"
Yusef Daher, Secretário Executivo do Jerusalém Inter-Church Center of the Heads of Churches of Jerusalém, em associação com o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e com o Conselho de Igrejas do Oriente Médio.

"As origens do conflito israelense-palestino são principalmente políticas e econômicas. O conflito tem a ver com a terra, o acesso e controle dela, e com os recursos da terra. Tem a ver com direitos nacionais, incluindo o direito à autodeterminação nacional. Por isso, é importante lembrar que esse conflito não iniciou com a guerra de 1948, que é, para os palestinos, o “Nakba” (Dia da Catástrofe) e, para os israelenses, o Dia da Independência, mas tem raízes históricas que são de natureza geopolítica e econômica"
Viola Raheb, membro de numerosas organizações e comitês de diálogo intercultural e inter-religioso. Publicou numerosos livros e artigos e realizou vários projetos de pesquisa. Começou sua carreira no campo da educação formal e informal em 1995, sendo vice-diretora das Escolas Evangélicas Luteranas da Jordânia e Palestina de 1995 a 1998 e, ao mesmo tempo, chefe do Departamento de Relações Públicas do Centro Internacional de Belém

"Neste caso, não há “ou”. Trata-se de um conflito complexo, que teve início no século XIX, quando judeus começaram a imigrar em massa para a Palestina como parte de um nascente movimento nacional judaico. Os palestinos viram isso como parte do colonialismo europeu. Os judeus que adotaram a ideologia sionista sustentavam que estavam “indo para casa”. Quando o mundo ocidental se deu conta do que tinha acontecido durante a Segunda Guerra Mundial, quando seis milhões de judeus foram assassinados pelos nazistas, ele reconheceu as reivindicações judaicas à Palestina, e as Nações Unidas decidiram por uma partição da terra entre palestinos e judeus. Isso colocou os alicerces para o estabelecimento do Estado de Israel, embora o plano de partição jamais tenha sido implementado.
A realidade atualmente é que os judeus e os palestinos chamam essa terra de seu país. Hoje, o conflito se expressa em termos nacionais, étnicos, culturais e religiosos, e também há muitas questões econômicas em jogo. Atualmente, Israel controla toda a Palestina histórica, com bolsões de autonomia palestina cercados por postos israelenses de controle militar fronteiriço. Os israelenses judaicos realizaram seu sonho de um Estado nacional, mas não alcançaram a segurança que desejam. Os palestinos continuam não tendo qualquer independência real e também vivem em grande insegurança. Alguns palestinos vivem em Israel como cidadãos, mas sofrem discriminação. Alguns palestinos vivem nos Territórios Palestinos, ocupados por Israel em 1967, e suportam as dificuldades e sofrimentos da ocupação, do sítio e da estagnação. Muitos outros palestinos vivem no exílio, sonhando com um retorno à terra de seus ancestrais"
David M. Neuhaus nasceu em Joanesburgo, na África do Sul. Em 2000, foi ordenado sacerdote católico romano. Em 2009, foi nomeado vigário patriarcal para os católicos de língua hebraica de Israel. E em 2011 passou a ser coordenador da Pastoral entre Migrantes em Israel

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