Edição 395 | 04 Junho 2012

“O modernismo ainda não atingiu plenamente seu intuito”

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Thamiris Magalhães

Creio que, infelizmente, ainda hoje a sociedade brasileira em geral é bastante conservadora no que diz respeito à questão estética, lamenta Márcia Lopes Duarte

O principal objetivo da Semana de Arte Moderna, de acordo com a professora Márcia Lopes Duarte, foi chamar a atenção do público brasileiro, representado, naquele momento, pela burguesia paulista, para os novos ventos que estavam soprando no sentido da reconfiguração da arte ocidental. “A Semana, por mais que se passa criticá-la, visto que sua origem é justamente a recém-enriquecida burguesia cafeeira de São Paulo, foi um marco no sentido de apregoar um novo pensamento estético, que culminou nos mais bem elaborados artistas brasileiros, como Tarsila do Amaral, Di Cavalcantii, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Oscar Nyemeier, entre outros”, explica.

Márcia Lopes Duarte possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, mestrado e doutorado em Letras pela mesma instituição. Atualmente é professora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos e coordenadora de especialização desta Universidade. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa, atuando principalmente nos seguintes temas: literatura brasileira, literatura gaúcha, identidade feminina, autoritarismo e subversão.

Confira a entrevista. 

IHU On-Line – Como a senhora avalia a Semana de Arte Moderna de 1922? 

Márcia Lopes Duarte – A Semana de Arte Moderna foi um movimento que se preocupou com a desconstrução de algumas características culturais brasileiras que estavam arraigadas na intelectualidade do país naquele momento e que eram extremamente tradicionais. O valor da Semana está justamente em sua veia vanguardista, pois serviu para “sacudir a poeira” do legado colonial brasileiro, que ainda era muito presente na cultura do país.

IHU On-Line – Que mudanças o movimento trouxe para a poesia?

Márcia Lopes Duarte – No que se refere à poesia brasileira, a contribuição do movimento modernista é evidente, visto que seus principais autores, como Mario e Oswald de Andrade e Manuel Bandeira, foram aqueles que introduziram uma série de novos postulados estéticos na construção poética, que, naquele momento, era cultivada grandemente pelos parnasianos, grupo que adorava o equilíbrio clássico, mas prescindia de brasilidade e musicalidade.

IHU On-Line – Qual era o principal objetivo da Semana? Ele foi alcançado? 

Márcia Lopes Duarte – O principal objetivo da Semana foi chamar a atenção do público brasileiro, representado, naquele momento, pela burguesia paulista, para os novos ventos que estavam soprando no sentido da reconfiguração da arte ocidental. Creio que, infelizmente, ainda hoje a sociedade brasileira em geral é bastante conservadora no que diz respeito à questão estética. Portanto, o modernismo ainda não atingiu plenamente seu intuito.

IHU On-Line – Em que sentido o movimento foi o ponto alto da insatisfação com a cultura vigente?

Márcia Lopes Duarte – O movimento foi ápice de uma insatisfação gerada pela parca construção estética vanguardista que havia no Brasil. Os artistas que, como a pintora Anita Malfatti, tentaram romper estas barreiras foram duramente criticados, pois o gosto brasileiro sempre foi baseado em um tradicionalismo aferrado ao modelo colonialista, com um influxo europeizante. Ainda que o movimento modernista também estivesse embasado em preceitos vindos do continente europeu, havia uma preocupação nacionalista evidente entre os precursores do modernismo brasileiro, que se evidencia em uma obra como Macunaíma, de Mário de Andrade.

IHU On-Line – Gostaria de acrescentar algum aspecto não questionado?

Márcia Lopes Duarte – A Semana de Arte Moderna, por mais que se passa criticá-la, visto que sua origem é justamente a recém-enriquecida burguesia cafeeira de São Paulo, foi um marco no sentido de apregoar um novo pensamento estético, que culminou nos mais bem elaborados artistas brasileiros, como Tarsila do Amaral, Di Cavalcantii, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Oscar Nyemeier, entre outros.

Leia mais...

>> Márcia Lopes Duarte já concedeu outras entrevistas à IHU On-Line. Confira: 

A amplitude da identidade gaúcha. Entrevista publicada na IHU On-Line número 264, de 30-06-2008, disponível em http://migre.me/9jGvX; 

Amar verbo intransitivo. Entrevista publicada na IHU On-Line número 206, de 27-11-2006, disponível em http://migre.me/9jGDS; 

Simões Lopes Neto e a Invenção do Gaúcho. Entrevista publicada nos Cadernos IHU ideias, ano 1, n° 8, de 2003, disponível em http://migre.me/9jGNa.

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