Edição 394 | 28 Mai 2012

As contribuições da espiritualidade e da pastoral católicas no desenvolvimento da resiliência

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Thamiris Magalhães

Para superar situações traumáticas, é preciso algumas condições do entorno, pois a resiliência se tece na interação do contexto social e das aptidões, das competências, das características e das posturas pessoais, explica Susana Rocca


Em primeiro lugar, o estudo da resiliência está baseado na perspectiva psicológica desta, entendendo-a como o processo comportamental ou psíquico de superação de situações adversas e traumáticas, conforme explica Susana Rocca, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Baseada em estudos da Sociologia da Religião, Rocca pontuará algumas características da espiritualidade contemporânea. “E, aprofundando em publicações atuais sobre Pastoral Juvenil (latino-americanos, do Brasil, da França), discutiremos se a espiritualidade e a contribuição da Igreja são significativas ou não para que o jovem supere situações adversas ou traumáticas no contexto atual”, escreve.

Além disso, a psicóloga apresentará os resultados de uma pesquisa social quantitativa que concluiu em 2010, na qual participaram 13 jovens, de 21 a 29 anos de idade, católicos, com alta resiliência, residentes em São Leopoldo-RS. “A maioria passou por uma constelação de fatores de risco e traumáticos significativos. A investigação mostra que as condições adversas e as situações traumáticas não determinam necessariamente um destino negativo. Por outro lado, reafirma-se que, para superar situações traumáticas, é preciso algumas condições do entorno, pois a resiliência se tece na interação do contexto social e das aptidões, das competências, das características e das posturas pessoais”. Ela concluirá apresentando os “fatores de proteção” (externos) e os “pilares de resiliência” (internos, próprios do jovem) que podem ser fomentados para promover a resiliência de pessoas ou grupos, tendo em conta especialmente o contexto brasileiro.

A palestra “Resiliência: o papel da espiritualidade e dos fatores de proteção na juventude”, com Susana Rocca, ocorre no dia 31 de maio, das 17h30 às 19h, na sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU. Para saber mais, acesse: http://migre.me/9aESJ.

Susana María Rocca Larrosa possui graduação em Psicologia pela Universidad Catolica del Uruguay (1983), especialização em Aconselhamento e Psicologia Pastoral pelas Faculdades EST (2004) e doutorado em Teologia Prática pela EST (2011). Realizou seis meses de Doutorado Sanduíche como bolsista do governo francês, na Université de Théologie Catholique, da Université de Strasbourg (2010-1). Integra a equipe de coordenação do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, trabalhando no Programa Teologia Pública e nos Serviços de Atendimento Espiritual. É membro do Conselho editorial dos Cadernos Teologia Pública, Cadernos IHU, Cadernos IHU em formação e Cadernos IHU ideias (IHU-Unisinos). Tendo aprofundado o tema da resiliência, desde 2005 participa e coordena eventos nacionais e internacionais assim como assessora grupos interessados no assunto. É professora convidada na Universidade Católica del Uruguay, na Unisinos e em outras Universidades brasileiras. O tema da pesquisa do doutorado foi: As contribuições da espiritualidade e da pastoral católicas no desenvolvimento da resiliência, em jovens de 18 a 29 anos. É organizadora do livro Sofrimento, resiliência e fé: implicações para as relações de cuidado (São Leopoldo, Sinodal, 2007) e de várias publicações sobre resiliência. Tem experiência em aconselhamento, assessoria e trabalho pastoral no Uruguai (1976-1987), na Argentina (1988-2000) e no Brasil (2001-2012).

Confira a entrevista.


IHU On-Line – De que maneira será abordado o tema “Resiliência: o papel da espiritualidade e dos fatores de proteção na juventude”?

Susana Rocca –
A discussão pretende abordar alguns pontos da minha pesquisa de doutorado intitulada As contribuições da espiritualidade e da pastoral católicas no desenvolvimento da resiliência, em jovens de 18 a 29 anos.


IHU On-Line – Quais são os pontos fundamentais do debate?

Susana Rocca –
Em primeiro lugar, estudo está baseado na perspectiva psicológica da resiliência, entendendo-a como o processo comportamental ou psíquico de superação de situações adversas e traumáticas. Baseada em estudos da Sociologia da Religião, pontuarei algumas características da espiritualidade contemporânea. E, aprofundando em publicações atuais sobre Pastoral Juvenil (latino-americanos, do Brasil, da França), discutiremos se a espiritualidade e a contribuição da Igreja são significativas ou não para que o jovem supere situações adversas ou traumáticas no contexto atual.


Resultados

Além dos principais tópicos da pesquisa bibliográfica, apresentarei os resultados de uma pesquisa social quantitativa que conclui em 2010, na qual participaram 13 jovens, de 21 a 29 anos de idade, católicos, com alta resiliência, residentes em São Leopoldo-RS. A maioria passou por uma constelação de fatores de risco e traumáticos significativos. A investigação mostra que as condições adversas e as situações traumáticas não determinam necessariamente um destino negativo. Por outro lado, reafirma-se que para superar situações traumáticas é preciso algumas condições do entorno, pois a resiliência se tece na interação do contexto social e das aptidões, das competências, das características e das posturas pessoais. Concluirei apresentando os “fatores de proteção” (externos) e os “pilares de resiliência” (internos, próprios do jovem) que podem ser fomentados para promover a resiliência de pessoas ou grupos, tendo em conta especialmente o contexto brasileiro.


IHU On-Line – De que forma as instituições podem contribuir para a resiliência?

Susana Rocca –
Considerando que estamos numa época de mudança de paradigmas e de valores, e num contexto latino-americano onde há diversas situações adversas que afetam de forma especial a juventude, precisa-se entender os novos desafios e descobrir as possibilidades e as perspectivas que as instituições (religiosas ou não) têm para contribuir na promoção da resiliência. Essa contribuição abrange tanto o trabalho de prevenção, potencializando os recursos para promover a resiliência, como a superação de situações adversas ou traumáticas já existentes. Além disso, tendo investigado uma ampla literatura em língua francesa, espanhola e portuguesa, creio interessante analisar e discutir como concretamente a resiliência dos jovens pode ser promovida através do trabalho das comunidades e das instituições, e através da presença e das atitudes de integrantes dos determinados grupos organizados.


IHU On-Line – Como surgiu este tema?

Susana Rocca –
A escolha da temática está profundamente ligada a minha trajetória pessoal. Sempre me perguntei a respeito de como ajudar as pessoas a superar os sofrimentos. Sendo nova, me formei como psicóloga e consagrei minha vida numa comunidade missionária católica. Dediquei mais de 25 anos ao acompanhamento de jovens e adultos, tendo morado em quatro países (Uruguai, Argentina, Brasil, França). O contato com a diversidade de culturas, de ambientes, e de mentalidades, me levou a me aproximar de diferentes experiências de sofrimento, assim como das tentativas das pessoas e das instituições para superá-las.


Contexto atual

O contexto atual de grandes mudanças desafiou-me ainda mais. Como contribuir com as instituições, as associações, os ambientes de formação e com os próprios jovens para ajudá-los a serem mais capazes de resolver os conflitos, superar as adversidades e se reconstruírem positivamente depois das dificuldades e situações traumáticas? O interesse de encarar uma pesquisa de mestrado e doutorado nasceu da exigência de atualização nos conhecimentos acadêmicos e de aprofundamento na prática pastoral. A ideia de pesquisar resiliência surgiu em 2004, ao tomar contato com algumas obras sobre resiliência de Boris Cyrulnik (psicanalista, neurologista, psiquiatra e etólogo francês); de Stefan Vanistendael, (do BICE-Bureau International Catholique pour l’Enfance); e das publicações do CIER (Centro Internacional de Información y Estudios de Resiliencia, da Universidad de Lanús, na Argentina).


IHU On-Line – Que resultados foram obtidos empiricamente?

Susana Rocca –
Na pesquisa de campo há dados interessantes. Situada num contexto de novos paradigmas, as características da espiritualidade juvenil também suscitam novos desafios. Por exemplo: os jovens se definem como católicos e salientam que a ajuda de Deus e da família é essencial para poderem superar situações adversas e traumáticas. Porém, a maioria dos entrevistados não tem prática institucional coletiva na Igreja Católica nem mencionam como significativas nem autoridades, nem lideranças católicas, e sim alguns grupos de Igreja. A oração pessoal, espontânea, nas suas casas é uma prática privilegiada e frequente, sendo a dimensão pessoal, subjetiva e emocional um traço característico da sua espiritualidade. O que significam esses dados para as pessoas e as instituições que trabalham em favor da juventude, especialmente aqueles jovens expostos a maiores situações de risco? São desafios que merecem ser debatidos.


Leia mais

 “Resiliência. Elo e sentido”. Revista IHU On-Line, Nº 241 de 29-10-2007

•  “A fé parece ser uma chave no desenvolvimento das capacidades de resiliência”, Entrevista com Susana Rocca, publicada na revista IHU On-Line, Nº 241, de 29-10-2007

• “Sofrimento, resiliência e espiritualidade”. Entrevista especial com Susana Rocca, publicada nas Notícias do Dia de 27-10-2007, no sítio do Instituto Humanitas Unisinos - IHU

 Resiliência: um novo paradigma. Que desafia as religiões. Artigo de Susana Rocca, publicado no Caderno IHU Ideias, Nº 98

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