Edição 389 | 23 Abril 2012

Plantas com potencial alimentício em evidência

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Thamiris Magalhães

Muitas espécies arbóreas da Caatinga são utilizadas no setor domiciliar para o cozimento de alimentos, pontua Ulysses Paulino de Albuquerque

“A Caatinga apresenta uma grande diversidade de plantas medicinais”. A afirmação é do professor associado da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE Ulysses Paulino de Albuquerque, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Segundo ele, estima-se que hoje mais de 500 espécies, entre nativas e exóticas, são usadas para fins medicinais por comunidades tradicionais e locais. “No que tange aos recursos madeireiros, o bioma tem uma forte vocação no fornecimento de plantas para fins energéticos: carvão e lenha. Além disso, muitas espécies arbóreas da Caatinga são utilizadas no setor domiciliar para o cozimento de alimentos”. Albuquerque avalia, ainda, que o aspecto mais fascinante da Caatinga é a chamada sazonalidade climática. Ao ser questionado a respeito de o bioma ser associado à imagem de seca, ao gado magro e à fome, responde o seguinte: “as chuvas apresentam uma distribuição irregular ao longo do ano, concentrando-se em poucos meses. Como a estação seca é a mais duradoura, a imagem de seca persiste fortemente no imaginário”. E diz contente: “na estação chuvosa, a Caatinga é exuberante!”


Ulysses Paulino de Albuquerque concluiu o doutorado em Biologia Vegetal pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, com realização de estágio no laboratório de etnobotânica da Universidade Nacional Autônoma do México sob a supervisão do Dr. Javier Caballero. É professor associado da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE onde coordena o Laboratório de Etnobotânica Aplicada. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (2005-2008), sendo atualmente vice-presidente. Ainda foi vocal internacional da Sociedade Latino-Americana de Etnobiologia. Publicou vários artigos em periódicos especializados e trabalhos em anais de eventos. Atua na área de botânica e antropologia ecológica, com ênfase em etnobotânica. Tem interesse especial voltado para a compreensão dos fatores que modulam a relação entre pessoas e plantas na interface ecologia e processos evolutivos.


Confira a entrevista.


IHU On-Line – Quais as contribuições medicinais e madeireiras que a Caatinga oferece?
Ulysses Paulino de Albuquerque –
A Caatinga apresenta uma grande diversidade de plantas medicinais. Hoje estimamos que mais de 500 espécies, entre nativas e exóticas, são usadas para fins medicinais por comunidades tradicionais e locais. No que tange aos recursos madeireiros, o bioma tem uma forte vocação no fornecimento de plantas para fins energéticos: carvão e lenha. Além disso, muitas espécies arbóreas da Caatinga são utilizadas no setor domiciliar para o cozimento de alimentos.



IHU On-Line – Por que o bioma é associado à imagem de seca, ao gado magro e à fome?
Ulysses Paulino de Albuquerque –
Na verdade, o aspecto mais fascinante da Caatinga é a chamada sazonalidade climática. As chuvas apresentam uma distribuição irregular ao longo do ano, concentrando-se em poucos meses. Como a estação seca é a mais duradoura, a imagem de seca persiste fortemente no imaginário. É claro que existem dificuldades e pobreza na região, mas as populações humanas que habitam a Caatinga estão adaptadas a esta sazonalidade e têm desenvolvido várias estratégias para contornar as adversidades ambientais. Na estação chuvosa, a Caatinga é exuberante!

IHU On-Line – Quais as diversidades de plantas e animais que a Caatinga oferece?
Ulysses Paulino de Albuquerque –
Antigamente, acreditava-se que a Caatinga era muito pobre em termos de biodiversidade. Hoje esse conceito mudou completamente, pois foi construído com base em um banco de dados pobre, oriundo de poucos estudos. Na verdade, o bioma é rico em endemismos e com um grande potencial econômico que precisa ser explorado em uma base sustentável.
IHU On-Line – Quais as contribuições que as plantas nativas da Caatinga podem oferecer à população que reside no bioma? Que produtos elas nos fornecem?
Ulysses Paulino de Albuquerque – Plantas medicinais, combustíveis para construções rurais, entre outros. Mas a Caatinga tem um grande potencial no fornecimento de plantas alimentícias. Infelizmente, são poucos os estudos a respeito. A Dra. Viviany Nascimento, da Universidade Estadual da Bahia, em parceria com o nosso grupo de pesquisa, catalogou uma boa diversidade de plantas com potencial alimentício, algumas das quais com interessantes qualidades nutricionais.


IHU On-Line – Quais são as atividades econômicas mais importantes na Caatinga?
Ulysses Paulino de Albuquerque
– De modo geral, a agricultura e a pecuária. Todavia, os usos dos recursos naturais do bioma estão fortemente ameaçados por outras atividades, como as indústrias de curtume de couro e o consumo de lenha para calcinação, por exemplo.


IHU On-Line – Como percebe o futuro do bioma? O que podemos fazer para conservar a Caatinga?
Ulysses Paulino de Albuquerque –
Apesar do aumento no número de estudos, infelizmente os cientistas de diferentes áreas do conhecimento pouco dialogam entre si. Não será possível conservar a Caatinga sem considerar todas as dimensões associadas à sua conservação e uso sustentável: biológica, social e econômica.

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