Edição 387 | 26 Março 2012

Mulher e nutrição: questão de saúde pública

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Thamiris Magalhães

“O grande desafio hoje é integrar ações de saúde que incentivem, apoiem e protejam as escolhas saudáveis”, avaliam Gilberto Kac e Marcella Martins Alves Teofilo

“Existe uma série de políticas públicas de alimentação e nutrição que foram implantadas no Brasil, algumas ainda vigentes, dentre as quais podemos citar: o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno; a Prevenção e Controle das Deficiências de Ferro, Iodo e Vitamina A; o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional; o Programa de Transferência de Renda Bolsa Família; o Incentivo à Alimentação Saudável e à Educação Alimentar”, é o que constatam o pesquisador Gilberto Kac e a mestranda Marcella Martins Alves Teofilo, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.

Para ambos, o nosso país é marcado pela presença das doenças crônicas, tais como diabetes, obesidade, hipertensão arterial e síndrome metabólica, “juntamente com casos ainda presentes de desnutrição e doenças carenciais ligadas à má alimentação”, afirmam.

Gilberto Kac concluiu o doutorado em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo – USP. Fez doutorado sanduiche na University of California, em Davis, e em 2011 completou o pós-doutorado na Universidade de Oxford. Atualmente é professor titular do Instituto de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e coordenador do Observatório de Epidemiologia Nutricional dessa mesma instituição. Publicou mais de 75 artigos em periódicos nacionais e internacionais. Atua na área de epidemiologia nutricional do grupo materno e infantil. É editor associado dos Cadernos de Saúde Pública e também revisor de publicações especializadas, como a Revista Brasileira de Saúde Materno-Infantil, Revista de Nutrição, Nutrition, Maternal and Child Nutrtition, British Journal Nutrition, entre outras. Recentemente passou a integrar o conselho de diretores da Fundação Panamericana de Saúde e Educação – PAHEF (sigla em inglês).

Marcella Martins Alves Teofilo é nutricionista e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Nutrição do Instituto de Nutrição Josué de Castro da UFRJ. 

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Quais são as políticas públicas nutricionais existentes para a população feminina? O que falta ainda ser feito? E quais os principais desafios?

Gilberto Kac e Marcella Martins Alves Teofilo – Existe uma série de políticas públicas de alimentação e nutrição que foram implantadas no Brasil, algumas ainda vigentes, dentre as quais podemos citar: o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno; a Prevenção e Controle das Deficiências de Ferro, Iodo e Vitamina A; o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional; o Programa de Transferência de Renda Bolsa Família; o Incentivo à Alimentação Saudável e à Educação Alimentar.

O nosso país é marcado pela presença das doenças crônicas, tais como diabetes, obesidade, hipertensão arterial e síndrome metabólica, juntamente com casos ainda presentes de desnutrição e doenças carenciais ligadas à má alimentação. O grande desafio hoje é integrar ações de saúde que incentivem, apoiem e protejam as escolhas saudáveis.

IHU On-Line – Quais foram os resultados obtidos em seus trabalhos sobre televisão, tabaco e obesidade com as mulheres brasileiras?

Gilberto Kac e Marcella Martins Alves Teofilo – Os resultados obtidos mostraram que assistir televisão com frequência igual ou maior que cinco vezes por semana pode aumentar a prevalência de obesidade abdominal entre as mulheres que fumam.

IHU On-Line – De que maneira as mulheres podem ter uma alimentação saudável e como as políticas públicas femininas podem auxiliar nesse sentido?

Gilberto Kac e Marcella Martins Alves Teofilo – Ter uma alimentação saudável não se restringe apenas a consumir alimentos in natura, mas tem relação com um acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.

As políticas devem trabalhar no sentido de promover ações de saúde que respeitem a diversidade cultural e social, facilitando o acesso aos alimentos de qualidade nutricional. Devem também possibilitar que as mulheres do século XXI, que trabalham fora e cuidam da casa e da família, consigam se alimentar bem, independentemente da classe social ou da cultura a que pertençam. Um último aspecto, não menos importante, é a promoção da educação nutricional para a população, utilizando instrumentos e medidas que facilitem esse aprendizado e conhecimento.

IHU On-Line – Quais os principais desafios que as mulheres brasileiras enfrentam no que compete à saúde?

Gilberto Kac e Marcella Martins Alves Teofilo – Os principais desafios enfrentados atualmente pela população feminina são a falta de tempo para produzir refeições saudáveis, o aumento no consumo de refeições prontas ou pré-prontas, lanches rápidos, elevado consumo de alimentos ricos em sódio, açúcar e farinha refinada e a diminuição da prática de atividades físicas. Esses e outros fatores têm contribuído para o aumento da incidência de doenças crônicas, tais como: hipertensão arterial, diabetes tipo 2 e também para o aumento da obesidade.

IHU On-Line – Qual a relação existente entre saúde mental e estado nutricional?

Gilberto Kac e Marcella Martins Alves Teofilo – Ainda há bastante controvérsia sobre o impacto do estado nutricional na saúde mental. Nos últimos anos, alguns estudos têm procurado encontrar explicações para a relação do estado nutricional, mais especificamente a obesidade, com a saúde mental, particularmente a depressão. Essa relação abrange tanto fatores psicológicos como sociológicos e biológicos. Não é tão fácil compreender essa relação, uma vez que tanto indivíduos com obesidade podem apresentar risco aumentado para depressão como indivíduos deprimidos podem apresentar um maior risco para ocorrência de obesidade.

Dessa forma, podemos dizer que não existe ainda uma resposta objetiva e clara para essa pergunta, sendo necessário desenvolver mais estudos longitudinais para investigar a direção de tal associação.

IHU On-Line – O nível de escolaridade e a classe econômica são fatores que influenciam a saúde e a educação alimentar das mulheres brasileiras?

Gilberto Kac e Marcella Martins Alves Teofilo – Sim. Estudos envolvendo Segurança Alimentar e Nutricional – realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais (Consea, 2004) – têm mostrado que menor renda familiar e menor escolaridade, entre outros aspectos, são fatores associados ao aumento significativo na frequência de algum grau de insegurança alimentar na família. Mulheres com maior poder aquisitivo e maior escolaridade têm maior acesso a uma alimentação de qualidade e a informações sobre alimentação saudável. Os resultados que revelaram, pela primeira vez, uma diminuição da obesidade feminina evidenciaram que isso acontece nas mulheres da região sudeste e das que possuem renda mais alta.

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