Edição 370 | 22 Agosto 2011

Nem diplomacia, nem cordialidade: um mandato apostólico fundamental

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Moisés Sbardelotto

Para o teólogo e assessor do moderador do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas, Marcelo Schneider, é preciso superar uma certa redução da agenda ecumênica ao nível das relações institucionais ou de canais de diplomacia e cordialidade entre iguais

Um ponto de conflito. Assim é que a questão do ecumenismo tem sido reconhecida por alguns grupos dentro das igrejas ditas históricas. Para o teólogo Marcelo Schneider, esse fenômeno tem a ver com “uma certa redução da agenda ecumênica ao nível das relações institucionais, como se as relações ecumênicas existissem apenas como canais de diplomacia e cordialidade entre iguais”.

Mas, para Schneider, assessor do moderador do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas – CMI e correspondente para América Latina do departamento de Comunicação do CMI, “o ecumenismo é mais do que um departamento de relações diplomáticas de uma igreja. Trata-se do cumprimento de um mandato apostólico fundamental da Igreja de Jesus Cristo e, por isso, deveria ser considerado como uma das marcas constitutivas de qualquer eclesiologia”.

Por isso, critica, em entrevista por e-mail à IHU On-Line, “as manifestações fundamentalistas que constatamos hoje no seio de diversas igrejas não são uma expressão de defesa dos valores essenciais do Evangelho, como apregoam alguns, mas uma clara demonstração de incapacidade de compreensão e adaptação às novas realidades do mundo”. “As igrejas têm um papel fundamental quando falam e quando calam”, sintetiza.

Marcelo Schneider é doutor em Teologia pela Escola Superior de Teologia – EST, São Leopoldo, com tese intitulada Em busca de uma ética social ecumênica. A discussão no Conselho Mundial de Igrejas em perspectiva e práxis Latino-Americanas (2005). Também é assessor do moderador do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas e correspondente para América Latina do departamento de Comunicação do CMI. Além de membro da coordenação do Fórum Ecumênico Brasil e do grupo de comunicadores de ACT Aliança (Acting by Churches Together), já atuou como coordenador de comunicação e logística do escritório local da 9ª Assembleia do CMI (2005-2006).

Confira a entrevista.


IHU On-Line – Como correspondente de comunicações do Conselho Mundial de Igrejas para a América Latina, qual a sua análise do atual momento do movimento ecumênico nessa região? Quais são os marcos históricos mais importantes dos últimos tempos?

Marcelo Schneider –
O momento atual é bastante peculiar. Ao mesmo tempo em que não há, a rigor, nenhum fato novo determinante e visível capaz de justificar um recuo desta ou daquela igreja no movimento ecumênico, este afastamento está acontecendo, sim.

Na maioria dos casos, a questão do ecumenismo tem sido reconhecida por alguns grupos dentro das igrejas ditas históricas como um ponto de conflito. Acho que esse fenômeno tem a ver com a baixa apropriação dos temas atuais do ecumenismo por parte de esferas mais amplas e inclusivas das igrejas e, por outro lado, com uma certa redução da agenda ecumênica ao nível das relações institucionais, como se as relações ecumênicas existissem apenas como canais de diplomacia e cordialidade entre iguais.

No entanto, há muitos sinais positivos que têm o potencial de despertar o interesse e encorajar o engajamento mais contundente das igrejas hoje em dia. Destaco, a seguir, dois destes sinais. O primeiro deles é a realização da 9ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas, em 2006, em Porto Alegre. Esta foi a primeira vez que nosso país e região (América Latina) acolheram um evento ecumênico desta envergadura. O sucesso do evento, desde o seu ponto de vista prático até o da visibilidade de tantas agendas e temas simultâneos, só foi possível graças a um processo extremamente participativo e enriquecedor que contou, além dos parceiros já engajados diretamente no trabalho do CMI, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – Conic e do Conselho Latino-Americano de Igrejas – CLAI, com diversos setores da Igreja Católica. Esta última, vale lembrar, apesar de não ser membro do CMI, exerce, há muito tempo, sua participação em diversas esferas de debate e articulação na vida do Conselho. A assembleia ocorrida em Porto Alegre mostrou (e ainda mostra) sinais muito claros de convergência de nosso diálogo e busca por unidade.

O segundo aspecto novo que gostaria de destacar é a criação e consolidação do Fórum Ecumênico Brasil, um espaço que surgiu a partir do trabalho dos organismos ecumênicos e agências de apoio a projetos de desenvolvimento, mas que logo ampliou seu espectro de participação e impacto e conta, hoje, como uma representatividade que vai das igrejas filiadas ao CONIC, à Associação de Seminários Teológicos do Brasil – Aste, passando por esferas dos movimentos sociais e agências europeias que apoiam projetos no país. Gostamos de chamar o FE Brasil de “laboratório de novas metodologias ecumênicas”; quer dizer, um espaço onde a partilha de experiências leva à articulação e colaboração em torno de temas comuns muito concretos, como é o caso da juventude e, mais especificamente neste ano, os preparativos para uma coalizão ecumênica em torno da Rio+20, em 2012.


IHU On-Line – Qual o papel específico do CMI nesse contexto?

Marcelo Schneider –
A Assembleia de 2006 teve um significado importante para a vida do CMI. Tanto as suas linhas de programas como suas estruturas de liderança e coordenação passaram por transformações contundentes a partir do que foi decidido em Porto Alegre.

No que tange o Brasil e a América Latina, mais especificamente, além da eleição do primeiro brasileiro como moderador do Comitê Central, o pastor Dr. Walter Altmann, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB, os últimos anos têm sido marcados por uma participação muito contundente de brasileiros em diversos comitês e grupos de trabalho.

Além disso, o CMI tem procurado estar em constante relação com o Conic, muitas vezes em temas bem específicos, como é o caso da Rede Ecumênica da Água, e, em outras instâncias, através de triangulações com o Clai, como é o caso da representação no FE Brasil e nas coalizões ecumênicas nas edições do Fórum Social Mundial.

A própria criação do cargo de correspondente para América Latina, que exerço em tempo parcial a partir do início deste ano, creio ser um sinal contundente da busca de uma nova dinâmica. Além de colocar-se ao lado e colaborar com as estruturas eclesiais e ecumênicas de comunicação já existentes, uma de minhas principais tarefas é identificar temas na vida das igrejas que possam ter paralelos na experiência de cristãos em outros contextos.

Um exemplo disso é o esforço em torno da criação de um programa de acompanhamento e vigilância de violações de direitos humanos na Colômbia. O CMI está engajado com o Clai na criação de um programa inspirado numa experiência similar bem-sucedida que já acontece, há alguns anos, na Palestina/Israel.

Apesar da contundência de uma realidade marcada pela limitação de recursos, o CMI tem tentando estar mais próximo das experiências ecumênicas também além daquelas protagonizadas diretamente pelas igrejas, enviando representantes a reuniões anuais de parceiros importantes, como, por exemplo, o Centro Regional Ecumênico de Assessoria e Serviço – Creas, em Buenos Aires, Argentina, e a Coordenadoria Ecumênica de Serviço – Cese, em Salvador.


IHU On-Line – Em uma sociedade como a atual, marcada paradoxalmente por sincretismos e fundamentalismos de todos os tipos, o que significa ser ecumênico? Como equilibrar “identidade” com “unidade”?

Marcelo Schneider –
O ecumenismo é mais do que um departamento de relações diplomáticas de uma igreja. Trata-se do cumprimento de um mandato apostólico fundamental da Igreja de Jesus Cristo e, por isso, deveria ser considerado como uma das marcas constitutivas de qualquer eclesiologia. O Evangelho não é de exclusão ou discriminação. Ele fala de amor e acolhida – inclusive daqueles que são diferentes de nós.
Inspirados, entre outros, pelo texto de João 17.21, milhões de cristãos e cristãs ao redor do mundo acreditam e trabalham para que as diferenças entre as igrejas não sejam motivos para isolamento, mas sinais da riqueza da diversidade do legado de Jesus Cristo para o mundo e, principalmente, para que sejamos agentes de transformação desta realidade escandalosa de segregação cristã.
As manifestações fundamentalistas que constatamos hoje no seio de diversas igrejas não são uma expressão de defesa dos valores essenciais do Evangelho, como apregoam alguns, mas uma clara demonstração de incapacidade de compreensão e adaptação às novas realidades do mundo.

Mas a busca pela unidade da Igreja não exige a renúncia da identidade das igrejas. Isto seria anacrônico. Mas há muitas igrejas que, diante de desafios contemporâneos, escolhem um caminho de introspecção, tentando sinalizar uma alegada valorização de suas próprias raízes e defesa de sua própria tradição. O curioso é que tal movimento não necessariamente parte das lideranças das igrejas, mas, em muitos casos, de membros, que formam grupos e exigem da instituição o zelo pela supremacia de sua verdade e a “impermeabilização” da igreja.


IHU On-Line – Em sua opinião, quais são os principais desafios/obstáculos eclesiais, sociais ou culturais para o ecumenismo no contexto brasileiro? Por outro lado, quais são os aspectos positivos do cenário brasileiro que ajudam a animar a caminhada ecumênica?

Marcelo Schneider –
O grande obstáculo é – e sempre foi – qualquer forma de fundamentalismo que gere exclusão. A convivência ecumênica mais ampla nos ensina, principalmente no convívio com nossos irmãos ortodoxos, que uma igreja ou religião não precisa diminuir ou desqualificar outras expressões de fé e/ou outras igrejas para transmitir a seus membros uma imagem sólida acerca de sua identidade.
O Brasil é um contexto no qual existe uma gama muito variada de igrejas. As igrejas históricas, em algum momento ou outro, e com maior ou menor intensidade, fizeram com que a busca pela unidade fizesse parte de suas agendas. O mesmo não acontece com as igrejas neopentecostais, por exemplo, em que o próprio sentido de comunidade cristã é bastante distinto daquele empregado tradicionalmente nas outras igrejas.
Há, contudo, uma aproximação gradual ao movimento ecumênico por parte de algumas igrejas pentecostais. Não são poucos os exemplos de bonitas iniciativas ecumênicas em pequenas localidades, reunindo cristãos e cristãs de muitas igrejas.

Outro aspecto positivo é, sem dúvida, a matriz multicultural e étnica sobre a qual se constituiu o povo brasileiro. Nascemos da diversidade, com ela aprendemos e ensinamos e, não por último, nela vivemos. Este aspecto, por si só, acaba moldando uma das características mais bonitas dos/das brasileiros/as: saber conviver pacificamente com o outro e, a partir desta convivência, moldar novas formas de cooperação.
Acredito, também, que o FE Brasil e a Rede Ecumênica da Juventude - Reju são sinais muito claros de que há algo de novo e muito bom acontecendo no ecumenismo brasileiro.


IHU On-Line – Com relação aos fundamentos teológicos, que pontos mais críticos impedem a promoção do ecumenismo entre as igrejas cristãs, em sua opinião? E, de outro lado, em que pontos é possível encontrar consensos e parâmetros básicos?

Marcelo Schneider –
As questões de autoridade apostólica e do episcopado permeiam silenciosamente a maioria dos diálogos ecumênicos, mesmo aqueles que não lidam diretamente com estes assuntos, como é o caso do diálogo acerca do mútuo reconhecimento dos sacramentos, que, por si só, gera caloroso debate e certo afastamento.

Levando em conta esta realidade, a Comissão de Fé e Ordem, do CMI, estabeleceu como um dos eixos de estudo e debate para os próximos anos a questão das “fontes de autoridade” da Igreja.
Se, por um lado, não se pode negar o aspecto histórico e apostólico das igrejas mais antigas, fiéis portadoras da própria história da Igreja e da doutrina apostólica, por outro lado, não se pode ignorar a presença e a contribuição de igrejas mais novas que fazem parte desta comunhão justamente por partilharem os mesmos princípios fundamentais básicos que a constituíram.

Algumas igrejas acreditam que esta é uma questão fundamental e, mais ainda, uma espécie de critério eclesiológico capaz de definir quem “é” e quem “não é” igreja. Se uma igreja acredita que somente ela é portadora do legado de Cristo, a tendência é que acabe diminuindo o testemunho das outras e, por consequência, criando mais barreiras conceituais e práticas.

O objetivo do trabalho da Comissão é esclarecer quais as fontes essenciais comuns que a maioria das igrejas partilha, reconhecendo nelas marcas da autoridade que reveste as igrejas estabelecidas há mais tempo e, ao mesmo tempo, valorizando o papel fundamental exercido por aquelas igrejas portadoras da tradição e da forma da experiência cristã ao longo dos séculos.


IHU On-Line – Um dos objetivos específicos do mutirão aborda o incentivo à “unidade, o testemunho e a diaconia”. Como esses três aspectos se inter-relacionam e podem ser compreendidos nos dias de hoje?

Marcelo Schneider –
O artigo I da Constituição do CMI diz que este organismo é uma comunhão de igrejas que confessa Jesus Cristo como Senhor e Salvador, de acordo com as Escrituras, e, por isso, procura responder conjuntamente ao chamado à glória de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Esta é uma boa e sucinta formulação que nos ajuda a abordar a pergunta.

Diante da constatação de que nossa fé nos une, passamos a testemunhá-la juntos. Nosso testemunho não se restringe à nossa espiritualidade e liturgia, mas leva em consideração o papel que as igrejas têm na transformação das realidades injustas do mundo. A esta dimensão do serviço da igreja é dada o nome de diakonia.

Atualmente, esta dimensão da missão da igreja é responsável por uma grande fatia da visibilidade cristã ao redor do mundo. Sob o guarda-chuva do CMI, por exemplo, foi criada, em 2010, a ACT Aliança, um grupo de mais de 100 organizações de ajuda humanitária ligadas a igrejas que, juntas, representam um impacto de cerca de 1,2 bilhão de dólares em termos de orçamentos combinados em projetos de ajuda humanitária, desenvolvimento e defesa de causas.

Deste modo, vai se tornando cada vez mais visível a necessidade de uma relação harmoniosa entre estas três esferas (unidade, testemunho e serviço), sob pena de uma excluir a outra.


IHU On-Line – Qual é a principal inspiração do tema do Mutirão Ecumênico deste ano, “Unidos em Cristo na defesa da Criação”? Que papel e responsabilidade tem o ecumenismo perante a questão ambiental?

Marcelo Schneider –
É impossível estar engajado na defesa da justiça e da paz e ignorar o aspecto ecológico. O cuidado com a criação de Deus tornou-se ainda mais importante na agenda do movimento ecumênico diante dos claros sinais de que a humanidade está esgotando os recursos naturais existentes e administrando-os sem qualquer critério que não seja a ganância e o imediatismo.
A Bíblia nos ensina acerca da complexidade da criação e mostra que os humanos são os responsáveis por cuidar do Jardim do Éden (Gênesis 2.15). O Deus que se revela nas Escrituras é um deus justo que protege, ama e cuida das mais fracas entre Suas criaturas.

O tema das mudanças climáticas é atualmente o foco principal do esforço ecumênico em torno de questões ambientais. Através do movimento ecumênico, igrejas que tradicionalmente não estavam envolvidas na defesa do meio ambiente passaram a trabalhar por esta causa em seus países e engrossaram as fileiras da cooperação internacional. Da mesma forma, igrejas que isoladamente não teriam tanta penetração em esferas internacionais de debate e defesa do meio ambiente encontram, no movimento ecumênico, ferramentas e canais que ajudam a amplificar sua voz e ter maior incidência.


IHU On-Line – O lema do encontro é o versículo de Romanos 8, 19: “A criação espera com impaciência a manifestação dos filhos de Deus”. Como podemos compreender hoje o significado mais profundo dessa afirmação de Paulo aos cristãos de Roma, diante da crise ecológica?

Marcelo Schneider –
Creio que o texto fala, entre outros aspectos, da responsabilidade daqueles que enxergam injustiças e destruição e têm o dever de se manifestar. Várias perguntas desta entrevista, por exemplo, ofereceram a oportunidade para que se mostrassem alguns dos pilares do movimento ecumênico e, por isso, o recado de Paulo torna-se ainda mais apropriado.
Precisamos falar e agir. Fomos criados à imagem e à semelhança de Deus e recebemos Dele uma responsabilidade intransferível e inadiável, que é cuidar de sua criação. O tema e o lema do Mutirão apontam para esta responsabilidade e tenho certeza de que entre todas as pessoas que estão envolvidas há esperança de que este encontro ofereça caminhos claros de como cada uma pode unir os seus esforços individuais nesta empreitada global.


IHU On-Line – Como o senhor vê a relação entre democracia e ecumenismo? Qual a sua avaliação do compromisso político das igrejas cristãs diante do cenário brasileiro atual?

Marcelo Schneider –
As igrejas têm um papel fundamental quando falam e quando calam. Não são poucos os exemplos em que igrejas assumiram uma destas alternativas ao longo da história. No que tange a primeira opção, as igrejas têm, através do movimento ecumênico, ampliado sua voz e expressado solidariedade mútua em contextos e temas relevantes na caminhada da humanidade.
O Conic, por exemplo, nasceu a partir deste compromisso com o testemunho público e sempre esteve atento e pronto a expressar sua voz profética, tanto nos tempos dos abusos da ditadura militar como diante das injustiças e desigualdades geradas pela globalização econômica.

Recentemente, tivemos, aqui no Brasil, uma amostra muito contundente do papel decisivo das igrejas e do movimento ecumênico na defesa dos Direitos Humanos e na preservação da verdade.
No início da década de 1980, D. Paulo Evaristo Arns , o Rev. presbiteriano Jaime Wright  e a advogada Eny Raimundo Moreira  foram alguns dos protagonistas de um projeto chamado “Brasil: Nunca Mais”, que garantiu que cópias de registros de abusos perpetrados contra cidadãos e cidadãs brasileiros pelo regime militar pudessem ser colocadas a salvo a fim de se preservar a memória histórica e pavimentar o caminho da verdade e da justiça.

Em 14 de junho passado, o secretário geral, Rev. Olav Fykse Tveit , da Noruega, e o pastor luterano brasileiro Walter Altmann , moderador do Comitê Central do CMI entregaram, durante um ato público realizado em São Paulo, ao Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, mais de 4000 páginas daqueles documentos que estavam salvaguardados nos arquivos do CMI, em Genebra.
A pergunta acerca dos motivos que levaram cristãos/ãs brasileiros/as a recorrerem ao CMI para manter estes documentos a salvo e a razão do apoio imediato do Conselho a esta iniciativa (mesmo em tempos em que operações como esta eram extremamente arriscadas) nos leva a entender a amplitude e influência direta do movimento ecumênico neste tipo de cenário.

O movimento ecumênico é a favor da democracia porque parte-se do pressuposto de que este é o modelo que melhor preserva e respeita os direitos humanos.


IHU On-Line – Em nível local e latino-americano, que avanços ainda são necessários na caminhada ecumênica e que pontos ainda precisam ser mais trabalhados?

Marcelo Schneider –
É uma questão metodológica. Creio que ainda carecemos de articulação mais eficaz, que nos afaste da duplicação de agendas e iniciativas, que aponte para os temas em torno dos quais somos realmente fortes e que temos como fazer diferença. Entender o movimento ecumênico como algo puramente institucional e que, por isso, nada que existe fora das instituições tem validade é um gesto ingênuo. É preciso saber reconhecer por onde flui o grande rio ecumênico, sob pena de acabarmos sozinhos e inócuos. Felizmente, tudo indica que, pouco a pouco, as mais diversas esferas do movimento ecumênico estão se dando conta do novo leito deste velho rio.

A comunicação tem um papel importante a desempenhar também. Quanto mais informações partilharmos, mais os membros de nossas igrejas vão entender o que fazemos. Quanto mais visibilidade dermos ao que é feito por nossos membros (também ecumenicamente), mais cultivaremos o sentido de apropriação da Igreja e mais construiremos comunidades participativas e, não por último, um movimento ecumênico forte e renovado.

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