Edição 357 | 11 Abril 2011

Oscar Kronmeyer

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Márcia Junges

Nascido e criado no interior de Novo Hamburgo, o Prof. Dr. Oscar Kronmeyer preserva o gosto pela vida simples, rural, que levava com sua família. Coordenador do curso de MBA em Gestão da Tecnologia da Informação, da Unisinos, e executivo da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica – ABINEE, dedica-se a manter paralelas a atividade acadêmica e o mundo dos negócios. Oscar é pai de duas meninas: Steffany e Luíza. Uma terceira garotinha está a caminho, com nascimento previsto para junho. Conheça mais sobre a trajetória desse professor na entrevista a seguir.
Em viagem

Origens e estudos - Nasci em Novo Hamburgo, em 1953, em uma região onde ainda havia área rural. Tenho então origens no campo, e orgulho-me disso. Havia um colégio próximo da minha casa que ia até o quarto ano do primário, e lá eu estudei. Lembro-me que fiz o primeiro ano e a professora convidou-me para cursar o terceiro direto, sem fazer a segunda série. Isso foi um episódio interessante. Depois, fui para uma escola estadual mais afastada. Levava uma hora caminhando para chegar até lá diariamente. A seguir, fiz o ginásio no Ginásio Estadual de Campo Bom.

Como muitas famílias do campo, tínhamos algumas posses, mas o dinheiro era muito escasso. Vivíamos no campo. Eu ordenhava cinco vacas antes de ir para a escola. Acordava bem cedo e tinha uma vida boa, ligada à natureza. Naquele tempo se andava de calça remendada, coisa que hoje é praticamente impensável. Mais tarde, tornei-me aluno do Colégio 25 de Julho, em Novo Hamburgo, no curso científico.

Serviço militar - Aos 16 anos eu era office boy numa indústria de calçados em Novo Hamburgo. Corria para todo lado. Na seleção para o serviço militar, fui selecionado para o Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva – NPOR, de São Leopoldo. Dediquei-me muito a essa atividade, onde me identifiquei bastante, tendo sido distinguido com a medalha Correia Lima, oferecida pelo Exército a seus melhores alunos nas  Escolas de Formação de Oficiais da Reserva.

Agronomia - Prestei vestibular para Agronomia, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, pois era um destino natural para quem, como eu, tinha origem no campo. Fiz um concurso de pobreza, e fui morar na casa do estudante universitário da UFRGS. Eu era bem discreto, meio “bicho do mato”, mas me adaptei bem. Naquele momento, não trabalhava, já que a faculdade era diurna. Quando iniciei o curso, coincidiu a necessidade de realizar o estágio militar no Exército. Quando voltei para o segundo semestre da Agronomia, cheguei 15 dias atrasado para as aulas em função desse estágio. Entrei direto numa aula de botânica, na qual meus colegas estavam todos diante de lupas classificando espécies vegetais pelo exame das suas flores, no que se chama de botânica sistemática. Eu não entendia nada, e perguntava tudo. Isto causou-me um embaraço significativo, que relato a seguir, mas recomendo a todos, pois afinal, para crescer é preciso perguntar o que  não se sabe. O embaraço ocorreu numa aula sobre gramíneas, com o professor Quintas, então presidente do CREA. Ele fez uma afirmação, eu levantei a mão e disse-lhe que não havia entendido. Fleumaticamente, ele voltou-se para mim e disse: “Bem, em se tratando do senhor, não me surpreende”. Ele seguramente achou isto muito engraçado, mas naquele momento eu não percebi graça nenhuma. Hoje, todavia, divirto-me recordando isto.

Engenharia - O Exército chamou-me para assumir a condição de ser Oficial na Ativa, eu considerei o convite interessante e aceitei imediatamente. Fui servir no 19º Batalhão de Infantaria Motorizada, em São Leopoldo. Lá fiquei por 4 anos. Em meados de 1976, o exército estava implantando seu Centro de Informática na terceira Região Militar. Uma seleção foi realizada no âmbito do 3º Exército e fui classificado para fazer parte da equipe de implantação deste Centro. Fui transferido para Porto Alegre por esse motivo, e abandonei as atividades da Infantaria. Hoje, eventualmente recordo aqueles tempos, e, a par de outros méritos que vivenciei nesta atividade, recordo com prazer as atividades físicas. Afinal, o bom militar era julgado também pelo seu condicionamento físico, e tínhamos provas anuais de capacitação física, e tempo para preparar-se para tanto. O esporte era uma virtude, e penso que boa parte da saúde que tenho hoje também se deve a boa prática desportiva que regularmente praticávamos.

Minha vida mudou bastante em função desta nova atividade. Tive que abandonar a Agronomia e entrei na escola de Engenharia da UFRGS. A situação continuava complicada porque muitas aulas eram diurnas e eu só tinha turno livre nas quartas-feiras à tarde, e boa parte das aulas na Escola de Engenharia da UFRGS eram durante o dia.

Em 1979 concluí a Escola de Engenharia, quando também foi necessário afastar-me do Exército. Na sequencia, fui selecionado para cursar o mestrado em ciências da computação na UFRGS. Não consegui concluir o curso porque me foi feita uma oferta de trabalho na indústria, em 1980. Fui gerente e diretor de sistemas durante uns 15 anos. Neste período, senti necessidade de obter conhecimentos mais aprofundados na área de gestão, que minha atividade executiva exigia. Por isso, cursei um pós em gestão empresarial na UFRGS e, a seguir, fui selecionado para o Mestrado em Administração, no PPGA-UFRGS. Já trabalha com treinamentos “in company” e lecionava na Feevale, onde durante dois anos atuei como diretor do Centro de Ciências da Computação.

Em 1996, a Unisinos chamou-me para lecionar, por convite do então coordenador do Curso de Administração, Prof. Gustavo Martins. Tornei-me então professor do curso de Administração enquanto cursava o PPGA, onde leciono até hoje. Paralelamente, atuava como Gerente Regional da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica – ABINEE. Assim, sempre tive essa vida “paralela”, com outras atividades concomitantes à academia, em permanente contato com a indústria, quer como executivo de Entidade ligada ao setor, como por trabalhos de consultoria empresarial na área de Gestão Estratégica.
Em 2002 fui selecionado para o Doutorado em Engenharia de Produção, na UFRGS (que concluí em 2006). Nesta época, estava sendo construído o MBA em Gestão da Tecnologia da Informação, que ajudei a implantar, e onde atuo como coordenador.

Filhos e casamentos - Casei-me pela primeira vez em 1994, e deste casamento tenho uma filha, Steffany, hoje com 14 anos. É uma menina maravilhosa, uma excelente aluna. Infelizmente, durante o período do mestrado, nosso casamento não foi bem não soubemos administrar algumas situações e nos separamos. Foi um período muito difícil para mim. Todavia, recuperei-me, e após ter perdido a minha esposa durante o Mestrado, durante o Doutorado tive mais sucesso, e encontrei uma nova companheira, a Giovana, que hoje é minha esposa. Com ela, tenho a Luísa, minha filha de 6 anos, que está sendo alfabetizada em português e em alemão, e estamos esperando outra menina para o mês de junho. Estamos decidindo o seu nome. Blanka é uma das opções. E combinamos que sou eu que escolho o nome, pois nas duas filhas que tenho, foi combinado que o nome das meninas seria escolhido pela mãe, e o nome do menino pelo pai. Pois é: tive que renegociar o contrato !!!

Lazer - Venho do campo, e gosto do que diz respeito a esse mundo. Sempre achei que poderia ganhar dinheiro com a “lida”, e sou muito cuidadoso com preservação do meio ambiente e sustentabilidade. Isto levou-me a ter uma propriedade rural, situada nas margens do Rio dos Sinos, em Santo Antonio da Patrulha, onde crio gado e fazemos plantio de arroz. Trata-se de uma atividade que busca unir lazer e negócios. Outra coisa que gosto é de mergulhar e praticar esportes. Infelizmente não tenho tido o tempo que gostaria para praticar atividades físicas. Meu desafio é restabelecer essas práticas para garantir uma boa saúde e continuidade de uma vida com qualidade. Afinal, em junho, fazendo 58 anos, terei uma filha recém-nascida!

Unisinos - O que mais me impressiona nessa universidade é a sua postura ética. Esse é o ponto que faz com que eu me sinta tão bem e me identifique com a instituição. A transparência e a qualidade no tratamento humano são diferenciais importantes da Unisinos. Outro aspecto que destaco é o reconhecimento que a universidade vem recebendo e a decisão de se expandir territorialmente, abrindo campi em outros locais, e a adoção de tecnologias de ensino a distancia é importante para consolidar este crescimento. A qualidade do parque tecnológico da Unisinos também é um fator alavancador essencial na inserção da Universidade na comunidade produtiva. Entendo que este é um movimento virtuoso, que se consolida.

IHU - O IHU tem tudo a ver com o desenvolvimento e formação integral da pessoa. Não basta a qualidade técnica na formação dos profissionais, mas sólidas bases humanísticas, pois sem humanidade o castelo desmorona. E nisso o IHU tem um papel de reflexão fundamental, realizando a adequação composição de uma universidade que se preocupa com tecnologia, desenvolvimento e formação humanística.

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