Edição 339 | 16 Agosto 2010

Os fenômenos midiáticos mundiais produzidos por espectadores: a inversão de papéis

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Maíra Bittencourt

Não se pode afirmar que já se foi o tempo das indústrias culturais, e portanto, é um equívoco afirmar que este conceito está ultrapassado. Leia o artigo de Maíra Bittencourt.

Não se pode afirmar que já se foi o tempo das indústrias culturais, e portanto, é um equívoco afirmar que este conceito está ultrapassado. O que não é precipitado, porém, é perceber que há mudanças significativas no sistema de produção e de consumo de informações e bens culturais. Com o advento da internet e a dimensão mundial da rede, aqueles que até então eram meros espectadores, passam a produzir materiais e podem vir a pautar o planeta. Com a rede mundial de computadores, o poder de criar e passar informações para os mais diversos públicos foi concedido também aos cidadãos comuns. E, é claro, que não de forma igualitária.
Isso não significa o extremo de pensar que as questões referentes à massificação foram superadas e que se vive uma democracia da comunicação, longe disso. O que se precisa perceber é que o mundo deu passos para outro rumo, antes não existente, e que nesse novo espaço há coexistência de produtos. A forma não igualitária, citada no parágrafo anterior, é que um cidadão comum tem condições muito desiguais para produzir conteúdo. Muitas vezes possui sua internet com pouca velocidade e utiliza materiais como câmeras fotográficas e de vídeo amadoras. Enquanto isso, os conglomerados de empresas seguem com todo o potencial de profissionalização e ainda aproveitam-se do entorno de criatividade original que circula na rede. Além disso, trata-se de uma questão de nome, da reputação do selo e da marca da empresa jornalística, além de um poder de divulgação e patrocínio (como forma de financiamento) que são incomparáveis diante da escassez da mídia produzida apenas pela cidadania.
Contudo, a rede possibilita hoje, dar voz a quem antes nem ao menos tinha como pensar em fazer uso dela. As possibilidades advindas da internet são várias, como: publicação de conteúdos sendo permitido criar seu próprio espaço de produção significativa; comunicar-se com sua rede social; expandir-se além dela; visualizar conteúdos de grandes conglomerados de mídia, mas também procurar aqueles materiais diferentes, oriundos de locais mais distantes. O usuário já consegue prever que haja decisões de quando será assistido a um vídeo, a um filme, novela ou seriado, a forma que se dará o tempo diante da tela e o local onde o assistirá (no caso de computadores portáteis).

Com isso abrem-se possibilidades não somente para criação, como também possibilidades de escolhas. E assim surge outra problemática. Quando não há delimitações, o público assiste e produz o que melhor lhe convém, o que nem sempre implica bons conteúdos. Se for feita uma análise somente no ramo audiovisual contido na internet dos últimos meses, percebe-se uma expansão célere de vídeos com baixo teor de elaboração (narrativa pobre e estética comum) e que, mesmo assim, fazem grande sucesso. Por vezes, da mesmice decorrem boas ideias.
Vídeos como o elaborado para a campanha “Cala Boca Galvão” dão um exemplo muito nítido do que vem acontecendo.  No universo cibernético do micro-blog, o mundo se perguntou o que seria o tão “twitado” “Cala boca Galvão”. É óbvio que entre os brasileiros, principalmente torcedores, todos sabiam relacionar o conteúdo da campanha que exprime a impaciência com o estilo de narração do locutor esportivo, Galvão Bueno. Porém, para os estrangeiros, foi criada uma história afirmando tratar-se de uma campanha para salvar uma espécie de pássaros denominada galvão, da ameaça de extinção (Galvao bird, em inglês), cujas penas seriam utilizadas nos desfiles de carnaval para compor as fantasias.

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