Edição 338 | 11 Agosto 2010

IHU Repórter

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Graziela Wolfart e Patricia Fachin

Um homem de trajetória simples, que procura fazer seu trabalho e viver de forma honesta e o mais agradável possível, causando o mínimo de problema possível para os outros. Este é Alfredo Veiga Neto, professor no curso de Gestão Cultural da Unisinos. Na entrevista que concedeu à IHU On-Line, ele conta alguns aspectos da sua história de vida, seus sonhos e opiniões. Confira.

Origens – Nasci em Porto Alegre, em 1945. Eu tinha três irmãos do primeiro casamento do meu pai. Em seguida faleceu uma irmã, de modo que eles eram mais velhos do que eu e então me criei sozinho, junto com sobrinhos e primos que freqüentavam muito a minha casa e eu a casa deles.

Formação - Estudei num grupo escolar estadual, chamado Ildefonso Gomes, que era localizado na Cidade Baixa, em Porto Alegre. Depois, estudei dois anos no IPA. E a partir da segunda série do então ginásio passei a estudar no Colégio Estadual Julio de Castilhos, que estava inaugurando sua sede onde é até hoje, no entroncamento da João Pessoa com o início da Azenha. Ali terminei o ginásio e conclui o ensino médio. Então, fiz vestibular na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para o curso de História Natural. Concluí o curso em quatro anos, praticamente desde o início como bolsista de iniciação científica. Depois fiz uma especialização e fui morar em Criciúma, Santa Catarina. Me mudei para lá e fui trabalhar inicialmente em três hospitais, fazendo análises clínicas e aplicando um pouco da Biologia, que eu estudara; permaneci três anos nessa atividade. Isso aconteceu no início da década de 1970. Abandonei a rotina estressante, e cansativa dos hospitais, que não se adaptava ao meu perfil, e meu engajei numa turma de pessoas da comunidade que estava criando um ensino superior. Então, fui um dos fundadores do que hoje é a Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina — UNESC — com sede em Criciúma. Fiquei nesta universidade, que então era um conglomerado de faculdades, durante sete anos. Lá tive várias funções administrativas, chegando a ser diretor geral deste conglomerado, que foi transformado em universidade alguns anos depois que saí de lá. Ao todo, fiquei dez anos em Santa Catarina. Nesse período aproveitei e fiz o mestrado em Genética na UFRGS. Isso era complicado porque as estradas na época eram muito ruins. Nessa época eu também era professor concursado na Universidade Federal de Santa Catarina. Trabalhava em Florianópolis — na UFSC e no Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina — e morava e também trabalhava em Criciúma.

Retorno – Em 1978 voltei para Porto Alegre, com o mestrado concluído. Então, me transferi UFSC para a UFRGS. Assim, ingressei como professor assistente nessa Universidade. Quando eu vim de lá já não me sentia mais como biólogo. Me sentia muito mais envolvido com a educação, com administração e políticas educacionais e um pouco também com o ensino da Biologia. Por isso vim para a Faculdade de Educação da Universidade Federal, onde permaneci durante muitos anos e me aposentei na virada para o século XXI. Aqui na UFRGS fiz meu doutorado, que eu considero um tanto tardio, pois me envolvi muito com questões também administrativas; terminei o curso em meados da década de 1990. Mesmo aposentado, continuo trabalhando voluntariamente no mestrado e doutorado em Educação na UFRGS. Também fui professor na Ulbra durante alguns anos, de onde saí há mais de um ano. 

Música – Ainda menino, comecei a estudar música. Continuei estudando quando me tornei jovem e depois me formei no curso de Música, do Instituto de Artes da UFRGS. Meu instrumento é o piano, instrumento ao qual dedicava muitas horas diárias. Posso dizer que tive uma excelente formação acadêmica em música. Mas chegou um momento em que eu senti que para a minha vida isso não seria uma profissão. Por isso decidi investir mais na minha formação de professor na área de Biologia e depois na Educação. Há mais de 20 anos, voltei a estudar e me dedicar (na medida do possível) à música, especificamente ao jazz; montei uma banda, composta na sua maior parte por pessoas amadoras, mas amantes do jazz. Ensaiávamos e nos apresentávamos semanalmente. Assim eu fiquei do início da década de 1980 até o início da década de 2000, quando a banda se desfez. O grupo ficou desfeito por três ou quatro anos e de um ano para cá retomamos os ensaios, mas agora sem maiores compromissos. Hoje somos quatro pessoas que se encontram e curtem juntas o jazz, sempre que podem.  

Ingresso na Unisinos – Faz dois anos que a professora Miriam Dazzi me convidou para lecionar no curso de graduação em Gestão Cultural. Me tornei professor na Unisinos a partir daí.

Família – Fui casado durante muitos anos com uma ex-colega que também era professora na UFRGS. Com ela tive dois filhos, um casal. O Eduardo é arquiteto, fez mestrado em Arquitetura e trabalha em seu próprio escritório de arquitetura. A Ana Beatriz fez mestrado e doutorado em Biologia e Biotecnologia, e é professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Meu segundo casamento é com a professora Maura Corcini Lopes, que atua no Centro de Ciências Humanas da Unisinos. Moramos em Porto Alegre e com ela não tenho filhos.    

Lazer – Vamos uma ou duas vezes por semana ao cinema. Aproveitamos lançamentos de filmes de arte e filmes menos comerciais. Lemos e viajamos muito. Quando há tempo e dinheiro viajamos a turismo. Temos um pequeno apartamento de um quarto na praia de Torres, para onde fugimos de vez em quando. É nosso refúgio, onde carregamos as baterias. Nem eu, nem a Maura praticamos esportes. Caminhamos sempre que dá, mas não é uma coisa religiosa. Meu hobby é a música: escutar e tocar piano sempre que sobra algum tempinho... coisa cada vez mais rara, infelizmente...  

Sonhos – Continuar a levar a vida como estou vivendo. Tenho conforto financeiro, dentro do meu horizonte, não desejo mais do que não posso ter, tenho saúde, e vivo com a Maura, o que foi uma escolha nossa, muito acertada, e para mim absolutamente perfeita. Outro sonho é ter tempo, energia e saúde para curtir os amigos e parentes mais próximos, bem como me aproximar mais dos livros que compro e não consigo ler em função da minha grande demanda de atividades. 

Unisinos – A Unisinos tem o perfil ideal para uma universidade não pública. Faço uma avaliação muito positiva da Unisinos, a partir da longa e variada experiência universitária que tenho. É uma universidade privada, que deve cuidar da sua sobrevivência e da sua saúde institucional e financeira. Então, ela tem esse corte de uma instituição privada e não podemos fugir disso. Por outro lado, isso funciona como um meio de sustentação de uma política de educação superior que me parece extremamente importante, para a frente, comprometida, atualizada e democrática.

IHU – Eu tenho uma ligação muito boa com o IHU por intermédio de vários colegas, na medida em que me convidam para proferir falas; sinto sempre que as minhas sugestões e participações são bem aceitas. Eu reconheço no IHU um grupo muito sólido e plural, de pessoas interessadas na produção e na circulação do conhecimento acadêmico. Vejo com muito respeito o IHU. É um ambiente muito saudável e rico. 

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