Edição 338 | 11 Agosto 2010

Internacionalização favorece industrialização

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Patrícia Fachin

Para o economista Fernando Sarti, o investimento é a variável fundamental para financiar a política econômica, além de ser a forma mais saudável de pensar o crescimento nacional

“A indústria assume, novamente, o dinamismo do crescimento brasileiro”, enfatiza o economista Fernando Sarti, na entrevista que segue, concedida, por telefone, à IHU On-Line. Segundo ele, a economia brasileira começou a dar sinais de melhora entre 2004 e 2008, motivada, num primeiro momento, pelo aumento do consumo e, no período seguinte, pelos investimentos feitos pelo governo. “O investimento, além de promover crescimento, também aumenta a capacidade produtiva, impossibilitando o desequilíbrio entre oferta e demanda”, explica.
Sarti mencionou ainda que o processo de internacionalização das empresas brasileiras é saudável e positivo para a economia nacional. Ele argumenta: “Empresas brasileiras atuam no exterior não para compensar a retração do mercado nacional, mas por que ele cresceu e as tornou mais fortes e competitivas para isso”. Seguindo esse raciocínio, o economista salientou que “o crescimento foi a variável chave para explicar a internacionalização de empresas nacionais e o fortalecimento delas no mercado interno”.
Sarti concorda com a estratégia política econômica do governo e argumenta que, ao invés de o Estado “utilizar uma política tacanha, conservadora, de tentar combater a inflação com retração de demanda, é mais desejável para o país combatê-la com aumento de oferta. Então, ao ampliar o investimento, se expande a capacidade produtiva, estimula a demanda e se tem mais produtos”.

Fernando Sarti é graduado e mestre em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp com a dissertação Evolução das estruturas de produção e de exportações da indústria brasileira nos anos 80. Ele também cursou doutorado na mesma instituição com a tese Internacionalização comercial e produtiva no Mercosul nos anos 90. Atualmente, é professor do Instituto de Economia da Unicamp.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – A economia brasileira vive um período de industrialização ou desindustrialização?

Fernando Sarti – Entendo industrialização como um processo onde a indústria coordena e lidera o crescimento e desenvolvimento econômico. Nesse sentido, não estamos vivendo uma desindustrialização. As pessoas tendem a definir desindustrialização de uma forma muito simplista em função do fechamento de empresas e da retração de alguns setores da atividade econômica na pauta de produção. O Brasil vivenciou um processo de desindustrialização interrompida. Mas hoje, a indústria assume novamente o dinamismo do crescimento brasileiro.

IHU On-Line – O senhor pontua dois momentos na economia brasileira: o período de 2004 a 2008, quando houve um ciclo de crescimento; e 2006 a 2008, quando se teve um ciclo de investimento. Pode nos explicar essa ideia? Como esses momentos refletiram na industrialização brasileira?

Fernando Sarti – De 1980 a 2005, o setor externo era o vetor que favorecia o crescimento. A partir de 2004, esse cenário começa a mudar, sobretudo, por meio do consumo, o qual foi beneficiado por diversos fatores, entre eles, a transferência de renda e o aumento do salário mínimo, os quais inseriram uma parcela da população no mercado de consumo. Além disso, há um aumento no nível de emprego e uma ampliação da formalização do mercado de trabalho. Com isso, as pessoas passaram a ter acesso a crédito.
De 2005 a 2006, o consumo puxou o crescimento brasileiro. Nesse contexto, surge a variável do investimento. Durante quase 20 trimestres, a formação por uso de capitais fixos, medida utilizada para avaliar o investimento, cresceu acima do PIB. Com isso, o Brasil entrou em um ciclo de investimento, o qual não é baseado apenas na indústria, mas também na infraestrura e no petróleo. Então, entre 2005 a 2008, o principal vetor do crescimento brasileiro passa a ser o mercado doméstico num primeiro momento, com o aumento do consumo e, num segundo período, com os investimentos.

IHU On-Line – Como o Brasil tem apoiado suas empresas nacionais?

Fernando Sarti – Existe um debate insano em torno desta questão. Um dos grandes problemas que a economia brasileira mostrava no período anterior era o fato de que o Brasil era um grande receptor de investimentos estrangeiros e, por outro lado, as empresas nacionais atuavam pouco no exterior.
Pela própria retomada do crescimento da economia, as empresas tiveram uma capacidade maior de acumular capital e passaram a buscar novos mercados para dar continuidade ao crescimento. Assim, identifico um processo de internacionalização sadio entre as multinacionais. Ou seja, as empresas brasileiras atuam no exterior não para compensar a retração do mercado nacional, mas por que ele cresceu e as tornou mais fortes e competitivas para isso. Desse ponto de vista, o crescimento foi a variável chave para explicar a internacionalização de empresas nacionais e o fortalecimento delas no mercado interno.
A iniciativa do governo, de tentar facilitar a atuação das empresas no exterior por meio do financiamento, foi importante. Estratégias de inovação, diversificação e de internacionalização pressupõem um volume de recursos consideráveis e, nem sempre, as empresas têm capital próprio para realizar essas iniciativas. Nesse sentido, as linhas de financiamento do BNDES são importantes para possibilitar essas estratégias. A atuação do BNDES foi decisiva para gerar grandes empresas nacionais seja para atuar no exterior, ou no mercado doméstico.
Uma empresa brasileira internacionalizada tende a ter sua rede de fornecedores formada por instituições nacionais. Por isso, é importante ter grandes empresas brasileiras fortalecidas, que permitem também o desenvolvimento da média e pequena indústria. Além do mais, isso fortalece a produção do mercado brasileiro, gera mais empregos e cria um ciclo virtuoso. Assim, a grande empresa, desde que, dentro de uma diretriz de política industrial, pode favorecer a industrialização do país. 

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