Edição 336 | 06 Julho 2010

“Religiões do Mundo”: a ética mundial ao alcance de todos

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Moisés Sbardelotto

Em 2010, o Escritório da Fundação Ética Mundial no Brasil, no IHU, em parceria com o  Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT, do Paraná, e o Centro Burnier Fé e Justiça, do Mato Grosso, realizou novas edições do programa “Religiões do Mundo”

Neste primeiro semestre de 2010, o Escritório da Fundação Ética Mundial no Brasil, no Instituto Humanitas Unisinos – IHU, levou o debate sobre as “Religiões do Mundo” para outras regiões do país. Em parceria com o Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT, do Paraná, e o Centro Burnier Fé e Justiça, de Mato Grosso, foram realizados encontros e debates a partir da série de documentários apresentados pelo teólogo suíço-alemão Hans Küng, presidente da Fundação Ética Mundial

O projeto “Religiões do Mundo” contempla as três maiores correntes religiosas presentes no Planeta: as religiões da sabedoria de origem chinesa (Confucionismo e Taoísmo), as religiões da mística de origem indiana (Hinduísmo e Budismo) e as religiões da profecia de origem no Oriente Médio (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), além das Religiões Tribais africanas e australianas. Os documentários foram gravados nas grandes capitais religiosas do mundo. A partir dos vídeos, especialistas convidados ajudaram a refletir sobre a ética comum, presente em todas as religiões.

Em Curitiba, a realização do ciclo “Religiões do Mundo” superou as expectativas de público. Os encontros ocorreram entre os dias 10 de abril e 29 de maio, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-PR, com o apoio da Pastoral da Universidade. A exibição dos documentários esteve praticamente com lotação esgotada em todas as sete sessões, atraindo mais de 250 pessoas em cada encontro. Segundo os organizadores, a composição do público foi diversificada, com a participação de muitos estudantes de filosofia e teologia. “Conhecer minimamente elementos de outras religiões que não a sua foi a motivação que levou a maioria das pessoas a participar do evento”, afirmou César Sanson, membro da equipe de organização do CEPAT.

Para ele, pôde-se perceber três situações ao longo dos encontros. “A primeira delas é o profundo desconhecimento sobre os princípios, características e elementos da história das religiões. Muitas das perguntas elaboradas para os assessores nos debates manifestavam interesse por curiosidades e aspectos específicos das religiões”, comentou. Além disso, ficou clara a existência de uma “cultura da intolerância religiosa”, mesmo que minoritária. “Em alguns debates, intervenções mais duras exprimiram a falta de tolerância para com outros grupos religiosos. Várias vezes, o debate ficou acalorado entre posições um pouco mais extremadas”, disse. Mas, principalmente, viu-se também “uma profunda abertura às outras religiões, uma grande vontade de conhecê-las e entendê-las”. 

Os palestrantes convidados foram o Prof. Ms. Ignacio Dotto Neto (Judaísmo); Prof. Dr. Jamil Skandar, da PUC-PR, e Gamal Oumairi, do Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos do Paraná (Islamismo); Prof. Dr. Cesar Kuzma, da PUC-PR (Cristianismo); Prof. Dr. Pe. Joachim Andrade, da Faculdade Vicentina do Paraná (Hinduísmo); Milton Eiti Sato, do Centro de Estudos Budistas Bodisatva do Paraná (Budismo); Profª. Ms. Marcilene Garcia de Souza (Religiões Tribais); e Prof. Ms Rodrigo Wolff Apolloni (Religiões Chinesas). 

Além dos vídeos, também foi montada a exposição “Religiões do Mundo”, composta por 15 banners que resumem, de forma didática e atrativa, os conteúdos dos vídeos. Os painéis foram expostos no saguão de acesso ao auditório da PUC-PR, e, nos intervalos, o público aproveitava para ver a exposição e também fazer anotações de seu conteúdo. Grande parte do público, posteriormente, entrou em contato com o Escritório da Fundação Ética Mundial no Brasil para adquirir cópias dos documentários, valorizando a qualidade e a clareza pedagógica do material.

Já no Mato Grosso, os encontros estão sendo realizados desde o dia 06 de maio, com encerramento no próximo dia 08 de julho, organizados pelo Centro Burnier Fé e Justiça, em Cuiabá. Todas as noites de quinta-feira, um grupo de pessoas interessadas tem se reunido para conhecer um pouco mais sobre como o ser humano busca o divino em diversos pontos do planeta. O videofórum tem o apoio do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil, no Mato Grosso (Conic-MT), o Centro de Estudos Bíblicos, em Mato Grosso (CEBI-MT), além dos movimentos Círculo da Paz e Um Grito pela Paz.

Em Cuiabá, também há uma novidade: além dos sete documentários da série “Religiões do Mundo”, os organizadores incluíram outros dois documentários sobre as religiões afro-brasileiras e as religiões indígenas do Mato Grosso. Mais de 300 pessoas já participaram do evento ecumênico, que ocorre no Colégio Isaac Newton (CIN).

Para o padre João Inácio Wenzel, coordenador do Centro Burnier Fé e Justiça, “a realização deste videofórum ajuda a estender as fronteiras do diálogo religioso e cultural para além de nossas fronteiras. Aproxima pessoas, abre os olhos para ver o que não se via e os ouvidos para escutar outras melodias que trazem tons de alegria e de paz”. Para ele, “o sentido da vida aparece como pano de fundo em todos os documentários”. Wenzel destaca ainda que “a janela da contribuição em processos de paz é o enfoque dos documentários, e a contribuição que podemos dar neste processo tem orientado os debates”.

As sessões começaram com o documentário sobre Judaísmo, no dia 6 de maio. O convidado foi o médico cirurgião judeu Jairo Lew. O padre espanhol José Cobo, mestre em Teologia, comentou o vídeo sobre Cristianismo. O encontro sobre Islamismo contou com a presença do xeique egípcio Amer Hikal, líder islamita no Mato Grosso, e do cirurgião dentista muçulmano Omar Hussein Hallak. As Religiões Chinesas foram comentadas pelo teólogo Luiz Augusto Passos, professor da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. Ivan Deus Ribas, da Associação Meditar de Cuiabá, participou do debate sobre Budismo. Já a Dra. Darcy Gomes Neto, professora aposentada da UFMT, falou sobre o Hinduísmo. As Religiões Tribais foram comentadas pelo pastor Teobaldo Witter, histórico militante pelos direitos humanos no Mato Grosso. Edézio Lima Fernandes, do Movimento Negro, abordou as Religiões Afro-Brasileiras. E na próxima quinta-feira, dia 08, a mestre Darlene Yaminalo Taukane comentará o documentário sobre as Religiões Indígenas do Mato Grosso.

Novas edições

O programa “Religiões do Mundo” foi organizado pela primeira vez entre agosto e outubro de 2009, tendo reunido líderes religiosos que comentaram os documentários apresentados por Hans Küng no IHU, em São Leopoldo, e na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre. Além da exibição dos vídeos, foram também organizados dois momentos gastronômicos no Bistrô da Gastronomia, no campus da Unisinos, em parceria com o curso de Gastronomia. Neles, os participantes puderam degustar pratos e belisquetes relacionados às tradições religiosas apresentadas.

Como indica César Sanson, do CEPAT, o programa “Religiões do Mundo” permite compreender “que as religiões são decisivas para a construção da paz entre as nações que são portadoras de padrões éticos universais. Para que isso de fato possa acontecer, um primeiro passo necessário é conhecer as religiões – caminho para o início do diálogo”.

O Escritório da Fundação Ética Mundial também já foi contatado pelo Centro Loyola de Fé e Cultura da PUC-Rio e pelas instituições maçônicas Grande Oriente do Brasil – Paraná, Grande Oriente do Paraná e Grande Loja do Paraná para organizar os encontros “Religiões do Mundo” em suas sedes, na segunda metade deste ano.

As Religiões do Mundo e a Ética Mundial

Para Hans Küng, existem traços comuns na ética de várias religiões e na filosofia. Um exemplo dessa constante nas religiões é a chamada “regra de ouro”, que perpassa os fundamentos das grandes tradições religiosas mundiais. Essa ideia está fundamentada na obra do teólogo “Projeto de ética mundial” (Paulinas, 2001), em que se desenvolve, de maneira programática, a ideia de que as religiões do mundo só podem contribuir com a paz da humanidade se tiverem presente o que já lhes é comum no âmbito da ética: se chegarem a um consenso básico com relação a valores obrigatórios subsistentes, parâmetros inamovíveis e atitudes pessoais básicas.

Em 1993, em Chicago, o Parlamento das Religiões Mundiais assinou a "Declaração de ética mundial", elaborada pelo teólogo, mediante um processo inter-religioso de consultas. Desde então, essa declaração é o documento fundamental para o desenvolvimento dessa concepção da ética mundial. Por meio da declaração, representantes de todas as religiões alcançaram um acordo sobre princípios para uma ética global e se comprometeram com quatro diretrizes irrevogáveis, que se concretizam através de:

- Compromisso com uma cultura da não-violência e do respeito à vida
- Compromisso com uma cultura da solidariedade e uma ordem econômica justa
- Compromisso com uma cultura da tolerância e uma vida de autenticidade
- Compromisso com uma cultura da igualdade de direitos e do companheirismo entre homens e mulheres.

O projeto de ética mundial apoia-se, por isso, em quatro convicções básicas: não há paz entre as nações, sem paz entre as religiões; não há paz entre as religiões, sem diálogo entre as religiões; não há diálogo entre as religiões, sem padrões éticos globais; não há chance de sobrevivência para nosso planeta, sem uma ética global, uma ética mundial, apoiada por pessoas religiosas e não-religiosas.
 
Subsídios didáticos

Ao rastrear as pegadas e as marcas das religiões mundiais em seus quatro milênios de história, o projeto "Religiões do Mundo" nos ajuda a compreender, por meio dos sete vídeos e dos 15 painéis didáticos, a fé dos diversos povos do mundo, para a construção de uma ética comum em busca da paz. Além desses materiais, o site do IHU contém diversos materiais referentes ao diálogo inter-religioso e à Ética Mundial, seja nas Notícias Diárias, nas edições das revistas IHU On-Line ou em suas demais publicações, todas disponíveis gratuitamente on-line.

O Escritório da Fundação Ética Mundial no Brasil disponibiliza esse material para o público interessado, colaborando com a formação cultural e religiosa. Ao longo de 2010, dezenas de pessoas de todo o Brasil entraram em contato com o Escritório para solicitar suas cópias, que poderão, assim, ser usadas em eventos religiosos, salas de aula e também como opção de material de formação para grupos e movimentos em geral.

Os materiais podem ser utilizados como opção didática no estudo das grandes tradições religiosas do mundo. Para os interessados que desejam solicitar o empréstimo ou a cópia dos subsídios, basta entrar em contato pelo e-mail <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>.

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