Edição 336 | 06 Julho 2010

Mídia e educação: a necessidade de refletir sobre sua regulamentação

close

FECHAR

Enviar o link deste por e-mail a um(a) amigo(a).

Paola Madeira Nazário

Coluna do CEPOS - Grupo de Pesquisa

Refletir sobre uma “Educação para a Mídia” e as suas diferentes abordagens é essencial em tempos de digitalização, onde a marginalização tecnológica toma uma dimensão abismal, intensificada pelo forte fluxo de inovações tecnológicas convergentes, fenômeno que se percebe em uma grande fatia de determinadas classes sociais brasileiras, as quais vivem à periferia de uma rotina inclusiva nas e com as novas tecnologias de comunicação.  Leia o artigo de Paola Madeira Nazário.

O sistema educacional brasileiro deve ampliar a noção de uma alfabetização digital, no espaço escolar, que integre análise e produção, bem como a crítica das relações entre os meios de comunicação, a informação e o poder. Atualmente, vive-se em uma sociedade complexa em constante transformação social e tecnológica, que altera os processos midiáticos e todos os sistemas de mediações das interações profissionais e pessoais, provocando e maximizado desigualdades. Numa perspectiva ampla, que considera as relações específicas entre os fenômenos comunicacionais e educativos, compreende-se a televisão como um meio de comunicação historicamente imbricado na trajetória da educação, tendo em vista sua grande força como produtora de sentidos e significados.

Nessa perspectiva, é importante um posicionamento governamental, como também dos movimentos sociais ligados à democratização da comunicação, no encaminhamento de proposta de leis educativas com o objetivo amplo de capacitar os alunos tanto para a apropriação dos avanços tecnológicos quanto dos conteúdos difundidos pela mídia; para, assim, favorecer e incentivar sua participação social, promovendo a democracia e a justiça social. Entende-se que tanto a comunicação quanto a educação são responsáveis por grande parte das aprendizagens que os indivíduos assimilam e adotam, assumindo papel decisivo na organização da atual sociedade. Imersa nesse cenário, em especial a televisão, presente em quase todos os lares brasileiros, constrói realidades, legitima valores e estimula comportamentos, através de seus conteúdos e modos de produção, atuando, especialmente, como agente de socialização.

Diante desse fato, a escola, como lugar específico de ação e reflexão, assume papel primordial na tarefa de proporcionar um espaço favorável a estes questionamentos. Isto se dá através do que se denomina uma “Educação para a Mídia”, que discute a mídia, especialmente a televisão, contribuindo no processo ensino-aprendizagem, no âmbito do ambiente escolar, para auxiliar na construção de novos conhecimentos, capazes de colaborar na formação de cidadãos mais conscientes.

Os fundamentos convergentes para uma política de responsabilidade social, que são encontrados tanto no campo da Comunicação quanto no campo da Educação, constituem-se nos termos legais da Carta Magna de 1988, na LDB de 1996; assim como no Decreto 4901/2003 sobre o Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre. Essa aproximação entre educação escolar e comunicação social se faz presente também nas diretrizes da Confecom de 2009, com propostas nessa direção, no entanto, ainda incipientes.

Observa-se que, sobre a digitalização, os objetivos primeiros do Decreto 4901/2003 do SBTVDT remetem a: I - promover a inclusão social, a diversidade cultural do país por meio do acesso à tecnologia digital, visando à democratização da informação; e II - propiciar a criação de rede universal de educação à distância. E, no seu Artigo 3, referente à abertura de novos canais, contempla o “Canal de Educação: para transmissão, destinado ao desenvolvimento e aprimoramento, entre outros, do ensino à distância de alunos e capacitação de professores.”

Considerando as políticas citadas e compreendendo a educação como base para uma formação qualificada para o trabalho, e a elevação do nível escolar como fator fundamental para o cidadão alcançar melhores chances no atual mercado de profissões, que se apresenta altamente competitivo, é relevante a reflexão do papel da mídia na sociedade. Tenha visto que, ela, mídia corporativa e oligopolista, forma opiniões, costumes, crenças, bem como legitima padrões, valores e ideologias, fato que merece uma atenção especial do campo da Educação.

Nessa direção, apropriar-se das mídias como recurso pedagógico na escola, passa, necessariamente, pela ampliação da consciência de todos os envolvidos no processo, especialmente porque as informações, disponíveis nos meios de comunicação, fazem parte do processo de construção dos conhecimentos dos cidadãos. Sendo assim, contemplar, em especial, a programação televisiva nos planos de estudos e propostas educativas das escolas, requer algumas reflexões por parte dos docentes. Estas apontariam para uma viabilidade dos processos de ensino e aprendizagem positivos, na dimensão de uma proposta de “Educação para a Mídia”, pois, com os constantes avanços tecnológicos, experimentamos um processo de mudança de tal ordem de grandeza, que noções tradicionais, sobre o papel e os modelos da educação, precisam ser fortemente questionadas.

 

*Publicitária e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Atualmente, é docente e coordenadora executiva no curso de especialização em Estratégias e Processos em TV digital e, como membro do Grupo Cepos, auxiliar de pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCC-UNISINOS). E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. 

Últimas edições

  • Edição 552

    Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

    Ver edição
  • Edição 551

    Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

    Ver edição
  • Edição 550

    Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

    Ver edição