Edição 328 | 10 Mai 2010

Vale do Sinos inova em tecnologia e sustentabilidade

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Patricia Fachin

Na avaliação de Susana Kakuta, diretora da Unidade de Inovação e Tecnologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unitec, e gestora executiva do Parque Tecnológico de São Leopoldo – Tecnosinos, o desenvolvimento sustentável do empreendimento está relacionado a três eixos: social, econômico e ambiental

Há pouco mais de dez anos, foi idealizado e concretizado o projeto que deu origem ao Parque Tecnológico de São Leopoldo - Tecnosinos. O empreendimento foi uma parceria entre Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, Prefeitura de São Leopoldo, Governo do Estado, Associação Comercial, Industrial e de Serviços de São Leopoldo - ACIS/SL, Associação das Empresas Brasileiras de Software e Serviços de Informática - Regional do RS - ASSESPRO/RS, Sindicato das Empresas de Informática do Estado do RS - SEPRORGS, e Sociedade Sul-Rio-Grandense de Apoio ao Desenvolvimento de Software - SOFTSUL. Para falar sobre essa iniciativa e as transformações que o parque está gerando no Vale do Sinos, a IHU On-Line conversou com Susana Kakuta. Segundo ela, o parque tecnológico nasce com o desafio de reconversão produtiva. “Tínhamos, na região, um problema concreto de economia, que era baseada no setor coureiro-calçadista e metal-mecânico, que viviam num processo de deslocamento para outros estados e países”. Para diversificar a matriz econômica da região, surge “um modelo parecido com o das tecnópoles francesas e a inserção de um grupo de empresas de base tecnológica”.

A atual estrutura do parque compreende 144.000 m², incluindo incubadora tecnológica e condomínios para as empresas. De acordo com Susana, no último ano, “o parque teve um crescimento marcado pela atração de grandes investimentos”. Entre os desafios propostos para o futuro, ela destaca a “importância de reforçar os elos do parque com a universidade, porque o principal atributo que une essas empresas é o conhecimento”.

Susana Kakuta é doutora em Relações Internacionais pela Universidade Complutense de Madrid, Espanha. Já foi presidente da Caixa RS, diretora de operações do Sebrae RS e coordenadora da Unidade de Competitividade Industrial da Confederação Nacional da Indústrias - CNI.

Confira a entrevista.

IHU On-Line- Como surgiu o Parque Tecnológico de São Leopoldo – Tecnosinos, instalado na Unisinos? Pode traçar um perfil desse projeto?

Susana Kakuta – O Parque nasceu há dez anos, com a formação da sua primeira especialidade, que era o polo de informática de São Leopoldo. Naquele momento, ele tinha um desafio de reconversão produtiva. Tínhamos, na região, um problema concreto de economia, que era baseada no setor coureiro-calçadista e metal-mecânico, que viviam num processo de deslocamento para outros estados e países. Então, a prefeitura municipal, a associação comercial e a universidade se uniram em busca de uma nova alternativa para a região. Essa alternativa se viabiliza, num primeiro momento, através da ida do ex-reitor, Aloysio Bohnen, à França, para visitar as tecnópoles. Inicia, a partir daí, o processo de implantação de um modelo parecido com o das tecnópoles francesas e a inserção de um grupo de empresas de base tecnológica. Naquele momento, criou-se a incubadora, instalaram-se algumas empresas e o parque evoluiu.

Por ocasião dos dez anos, reafirma-se o esquema de governança do parque, que é focado num sistema de trabalho em tríplice hélice . Nele, fica evidente que o parque se amplia em termos de especialidade. Antes eram duas: tecnologia da informação; e automação e engenharias. Agora, ele passa a ter mais três especialidades tecnológicas: comunicação e convergência digital; alimentos funcionais e nutracêutica; e tecnologias socioambientais e energia.  

IHU On-Line - De onde surgiu a necessidade de abrir esse espaço?

Susana Kakuta – Da própria especialidade de Tecnologia da Informação e Comunicação – TI, foram surgindo algumas aplicações associadas ao ramo da TI, como é o caso da automação e engenharias, e da área de comunicação e convergência digital. Todas elas, de certa maneira, têm a ver com TI, mas são especialidades.

O surgimento da nutracêutica  se explica por, no mínimo, três razões. A primeira é o fato de a universidade ter muito conhecimento e ser pioneira nesse campo, sendo uma das primeiras instituições de ensino a ter o curso de nutrição, além de muita pesquisa nessa área. Também tem os cursos de Engenharia de Alimentos e de Farmácia. Tudo isso constitui uma base para que possamos evoluir numa estratégia mais empresarial. Por outro lado, o mundo tem um limite concreto na questão da produção de alimentos. Esse limite está associado à disponibilidade de áreas agricultáveis. Ao mesmo tempo em que não se tem mais área para produzir, temos um crescimento crescente e continuado da população. Então, a questão alimentar passa a ser crucial para o mundo e irá passar por ajustes de produtividade interna, ou seja, cada área terá de produzir mais. Mas também há outra questão aqui: é preciso lembrar que o alimento tem funções nutricionais e de preservação da saúde das pessoas. Existe, no mundo, um movimento muito forte com relação a essa questão dos alimentos funcionais  e nutracêuticos porque eles são uma saída para os limites de produção de alimentos no mundo. A terceira razão disso é o fato de o Rio Grande do Sul ser um estado onde o setor agrícola sempre representou uma parcela importante do PIB. Agregar valor à produção agrícola primária do Estado é um desafio estratégico e uma oportunidade imensa para o Rio Grande do Sul se posicionar num outro jogo do setor de alimentos no mundo. Esses três aspectos fizeram com que se tomasse a decisão de ter, dentro do parque tecnológico, uma nova especialidade que estamos implantando.

E a especialidade em tecnologia ambiental e energia parte do princípio de que essa é uma área portadora de futuro. Esta questão representa uma nova economia global.

IHU On-Line – Quantas empresas integram o parque hoje e qual é o perfil dos funcionários?

Susana Kakuta – Existem 53 empresas no parque. Destas, 38 estão incubadas. Todos os funcionários têm um perfil tecnológico. O parque provoca um grande impacto no mercado de trabalho da região. Muitos funcionários das nossas empresas vêm de outras universidades, mas o centro é a Unisinos.
 
IHU On-Line – Como o parque se relaciona com a universidade?

Susana Kakuta – De diversas maneiras. A primeira delas é, sem dúvida, criando condições de geração de emprego para estudantes da Unisinos. Temos um sistema no qual as vagas que são abertas pelas empresas são anunciadas na universidade como uma forma de atrair alunos para o parque. A segunda forma é por meio da educação continuada. Temos um percentual muito grande de alunos da pós-graduação e da extensão da universidade que trabalham nas empresas. A terceira forma de relacionamento se dá por meio da pesquisa conjunta. Por exemplo, as empresas do parque, junto com a universidade, acessam editais de chamadas nacionais para desenvolvimento de tecnologias conjuntas . A quarta forma é por meio de posicionamento estratégico. O parque e a Unisinos formam uma ambiência extremamente importante, capaz de atrair empresas de classe internacional, como as que estão instaladas no local.

IHU On-Line - O parque tem uma preocupação com a sustentabilidade? Em que consiste?

Susana Kakuta – Primeiro, temos um requisito básico: como a universidade tem ISO 14000 , as boas práticas de gestão ambiental são exigidas em todas as áreas do parque. Existe também uma preocupação por parte das empresas com o destino do lixo tecnológico, por exemplo. Há também iniciativas mais específicas de algumas instituições, como é o caso da SAP , que além de ter prédio próprio, recentemente disponibilizou bicicletas para os funcionários realizarem percursos dentro da universidade. Todas as empresas têm licenças ambientais e prezam o fato de o câmpus ser um ambiente verde.

IHU On-Line – De que maneira o parque pode inovar e auxiliar no desenvolvimento sustentável da região?

Susana Kakuta – O desenvolvimento sustentável atinge os três eixos: social, econômico e ambiental. Existe um papel social extremamente relevante na geração de emprego; temos 2.300 postos de trabalho no parque. Na vertente econômica, nossa contribuição é ter empresas fortes e que tenham potencial de crescimento. Desde as empresas que estão na incubadora até as maiores, existe uma preocupação, em especial com as pequenas, para que cresçam com saúde e tenham uma boa gestão. No ano passado, o parque teve um faturamento aproximado de R$ 1 bilhão. Esse valor gera tributos que impactam na região, porque se revertem em saúde, segurança, estrada, etc. Por princípio, empresas de base tecnológica são instituições de baixíssimo impacto ambiental, porque não geram resíduos, efluentes. Então, por si, são chamadas indústrias limpas. Uma área que fatura R$ 1 bilhão, que gera 2.300 empregos, e, ao mesmo tempo, não é poluidora, faz desenvolvimento sustentável.     

IHU On-Line - Que avaliação a senhora faz do parque tecnológico nestes dez anos? Quais são os desafios para o futuro?

Susana Kakuta – No último ano, tivemos um crescimento exponencial marcado pela atração de grandes investimentos. Neste ano, atraímos a HT Mícron , uma empresa de semicondutores que vai gerar 1.500 empregos. É a primeira empresa, no Brasil, de encapsulamento e testes de semicondutores. Isso significa muito para o nosso parque. Entre os desafios, destaco a importância de reforçar os elos do parque com a universidade, porque o principal atributo que une essas empresas é o conhecimento. Portanto, a universidade tem um papel fundamental nisso. O segundo desafio é crescer com sustentabilidade, ou seja, atrair empresas que possam se desenvolver na região. Queremos ter uma significância maior na geração de emprego e renda, então, temos uma meta de ter, até 2019, 300 empresas na incubadora. 

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