Edição 311 | 19 Outubro 2009

Perfil - Ana Luisa Janeira

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Graziela Wolfart

Ela vive no campo, em uma fazenda a 100 quilômetros de Lisboa, Portugal. Seu nome é Ana Luisa Janeira, uma filósofa que se considera muito prática, com os pés no chão. “Semear ao vento a alegria de viver e muita energia” é seu lema. “Se bem que, às vezes, sinto que meu corpo está mais fraco que o espírito”, confessa. E a outra marca de sua identidade é uma mala na mão e o pé na estrada. “Não concebo a minha vida sem viagens. Sou profundamente nômade”, admite. Conheça alguns aspectos da trajetória de Ana Luisa Janeira, que é professora na Universidade de Lisboa, Portugal, doutora em Filosofia Contemporânea pela Université de Paris I, e autora de A Energética no Pensamento de Teilhard de Chardin (Livraria Cruz-Faculdade de Filosofia, 1978). Janeira esteve na Unisinos no último mês de setembro, participando do IX Simpósio internacional IHU: Ecos de Darwin, onde proferiu a conferência intitulada “A energética teilhardiana: missão evolutiva em terras cristãs”.

Ana Luisa Janeira nasceu no Porto, em Portugal, numa época em que a cidade era muito marcada por tradições de conservadorismo e onde havia uma clivagem muito grande entre a esquerda e a direita. Por parte da mãe, tem uma raiz inglesa. E percebeu, já aos seis ou sete anos, que seu mundo deveria ser maior do que o mundo da sua família e da sua cidade. “Tracei desde cedo um perfil de viajante”, conta. 
 
Optou, então, por estudar Filosofia em Paris. “Eu sempre tive apoio dos meus pais, mas penso que a partir de uma determinada altura eles se arrependeram de ter me dado tanto apoio e eu ter caminhado tão livremente do ponto de vista intelectual”, lembra Janeira.
 
A filósofa entende que uma marca pessoal sua são as viagens. “Eu não concebo a minha vida sem viagens. Sou profundamente nômade. Preparar uma mala ou andar com uma mala é muito importante para mim, porque é uma forma de sentir que não é preciso muito para ser feliz. Basta ter uma mala. Eu não paro”.
 
Como valores de vida, Janeira cita que aprendeu com os pais a importância do trabalho, da persistência, e a questão de que ninguém se salva sozinho. Do lado da mãe, identifica ter uma vertente mais estética, embora o pai fosse arquiteto e a mãe pintora aquarelista. “A curiosidade e a exigência, o rigor, também sempre foram marcas minhas”, se autodefine a filha mais velha entre quatro irmãos.
 
Ao lembrar da infância, Janeira conta que ela e os irmãos só podiam brincar depois de ter feito os trabalhos em casa. “Havia essa disciplina e isso era importante”.
 
Janeira foi casada durante vinte anos. Sobre o casamento, ela avalia como uma etapa importante em sua vida. “O divórcio foi muito doloroso, mas eu soube aproveitá-lo, no sentido de que, já que é para viver sozinha, então que seja da melhor forma possível, aproveitando ainda mais para viajar”, explica.
 
Sonhos e medos
 
“Já realizei quase todos meus sonhos”, reflete a filósofa portuguesa. Agora, neste momento da sua vida, o importante para ela é saber administrar bem a herança cultural que possui, pensando em como seus colaboradores, as pessoas que trabalham com ela, poderão usufruir, desenvolver e realizar algumas das ideias e projetos que lançou. 
 
Janeira vive isolada, no campo, sem medos físicos. Mas gostaria de não trair suas ideias e ser capaz de continuar vivendo segundo princípios e não segundo interesses. “É claro que nós todos temos medos, mas sinto dificuldade em dizer. Só o que eu gostaria é de manter a coerência dos princípios sobre os interesses. E tenho pautado minha vida por isso ultimamente. Evidentemente que ninguém tem as mãos limpas 100%. Kant disse, e muito bem, que só não tem as mãos sujas quem não tem mãos”.
 
Fé e relação com o transcendente
 
Nos momentos de oração, Janeira só reza para agradecer. Nunca para pedir. “Acredito em Deus e em uma coisa que muita gente não acredita, que é vida eterna. Não admito morrer, no sentido de desaparecer. É uma questão energética, natural, de transformação. Para mim, há a vida eterna. Por outro lado, sou exigente em relação à questão da Igreja ter arranjado uns mandamentos morais horrorosos, pelos quais ela perdeu – e com razão – muitos dos seus chamados fiéis. Sou crente, não praticante. Faz parte da minha estrutura ser crente. Nunca questionei muito essas coisas. Sou de fé”, define.

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