Edição 295 | 01 Junho 2009

Lucilda Selli (15/08/1955 – 25/05/2009)

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Graziela Wolfart

Faleceu na última segunda-feira, dia 25-05-2009, a professora Lucilda Selli, pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Unisinos. Há vários anos, ela lutava contra um câncer no intestino

 

Lucilda foi a primeira palestrante do evento IHU Ideias, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU sempre às quintas-feiras, com a exposição de sua tese de doutorado, em 2002.
Em função desta atividade, a professora publicou os Cadernos IHU Ideias nº 21, com o artigo Construindo novos caminhos para a intervenção societária, disponível aqui para download.

Lucilda possuía graduação em Enfermagem e Obstetrícia, pela Unisinos, mestrado em Enfermagem, pela Universidade Federal de Santa Catarina, e especialização em Bioética e doutorado em Ciências da Saúde - Bioética, pela Universidade de Brasília. Era membro do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Bioética, da Revista Psicologia e Sociedade, da Revista Bioética (Brasília) e da Revista Gaúcha de Enfermagem. Publicou o livro Bioética na enfermagem (2. ed. São Leopoldo: Unisinos, 2003).

A IHU On-Line ouviu algumas pessoas que tiveram a oportunidade de compartilhar com Lucilda alguns momentos de sua vida. Acompanhe os depoimentos:

“A professora Lucilda Selli era, antes de tudo, uma mulher cheia de vitalidade, alegria e coragem, sempre acolhedora para com todas as pessoas que a encontravam, principalmente alunos em busca orientação para seus estudos. Era uma pessoa entusiasmada com o que fazia, levando muito a sério todas as atividades que assumia. Tinha especial gosto pelo ensino e pela pesquisa na área da saúde e da bioética. Nessas áreas, construiu uma carreira acadêmica nacionalmente reconhecida e apreciada. O segredo dessa energia de vida era a sua espiritualidade movida por profundas convicções religiosas que se revelaram nos últimos dias de sua vida quando enfrentou a morte com muito sofrimento, mas com palavras confortadoras que revelavam uma fé arraigada em Cristo.”
José Roque Junges, jesuíta, professor no PPG em Saúde Coletiva da Unisinos

“Conheci Lucilda quando ela veio ao Sul para convidar uma professora da saúde coletiva para compor a sua banca de tese e a partir daí ficamos muito próximas. Lucilda manteve sempre uma postura crítica frente às convenções sociais e às hipocrisias mundanas. Expressava este sentimento por meio de histórias permeadas de ironia e senso de humor. Uma delas: certa vez em visita à família, grassava uma peste a dizimar os galináceos de toda à região. Ao chegar, sua mãe e um grupo de mulheres da comunidade, esperavam-na para benzer as aves. Lucilda protestou veementemente, afirmando que esta era uma atribuição dos padres, mas as mulheres retrucaram  que, por ser freira, ela possuía as prerrogativas para tal.  Assim, contava Lucilda divertindo-se muito com a lembrança, ‘só me restou benzer as galinhas, e lá fui eu com um ramo de salgueiro borrifando-as com água. E o mais incrível, é que a partir deste fato, a epidemia foi debelada’. Com este pequeno texto queria homenagear e guardar a memória da alegre contadora de histórias que foi Lucilda Selli.”
Stela Nazareth Meneghel, professora da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) e membro do Conselho Editorial dos Cadernos IHU e dos Cadernos IHU Ideias

“Irmã Lucilda Selli era uma pessoa de garra, sensível, firme, de muita fé, amante da vida, das pessoas, do belo, da natureza. Identificou-se na ética do cuidado e empenhou-se em passar os princípios éticos para os profissionais de saúde e para todos os acadêmicos que teve a oportunidade de tê-los como alunos ou orientandos. Era amante da leitura, do saber e estimulava a todos para que criassem gosto pela leitura e a pesquisa. Escreveu artigos em várias revistas e é autora do livro A bioética na enfermagem, deixando outro em andamento. Destacou-se também no entusiasmo, vivacidade e alegria de viver. Tinha facilidade em fazer amizades, gostava de criar momentos celebrativos. Acolheu serenamente e com fortaleza interior a situação de doença e fez tudo o que podia para superá-la. Até dias antes de falecer, tinha esperança de ficar curada.”
Ir. Rosa Lazzari, da Congregação das Irmãs Ministras dos Enfermos (Camilianas)

“Convivi pouco tempo com Lucilda, quando ela fez seu doutorado em Brasília e morava na casa das Irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo. Era uma pessoa muito amiga e companheira de todos os momentos, sabia escutar e entender as pessoas em seus processos, sempre disposta a colaborar e numa constante busca de construir este mundo novo, com relações novas e verdadeiras.”
Ir. Malgarete Spinelli, amiga de Lucilda Selli

“Conheci Lucilda na primeira palestra no IHU em 2002. A sua preocupação pela humanização e por uma ética do cuidado, refletiam-se nas suas pesquisas, nas aulas e na sua dedicação pelos alunos. Três sofrimentos grandes tocaram sua vida em poucos anos: a morte do irmão, um acidente grave e o câncer. Lembro das suas palavras quando estava se recuperando do acidente: ‘antes eu escrevia sobre o sofrimento, agora eu sei o que é sofrer’; ‘antes falava sobre cuidado, agora sei o que é se deixar cuidar’. Lucilda foi um admirável exemplo de esperança, de fé, de carinho, de luta pelo conhecimento e pela vida. Otimista, de gargalhada gostosa, entusiasta e decidida. Com uma forte vivência de Deus, encontrou força interior para agradecer e se despedir até com um sorriso. Ela viveu intensamente até o final com grande lucidez e com admirável fortaleza. Lucilda: uma mulher de grande resiliência!”
Susana Rocca, colaboradora do Instituto Humanitas Unisinos - IHU

A seguir, reproduzimos um poema oferecido por Lucilda Selli a alguns amigos durante um retiro, em que foi convidada a refletir sobre a experiência de gratidão inspirada no Magnificat, de Maria, mãe de Jesus. O poema intitulado "Mulher" é de autoria da teóloga gaúcha Ir. Helena T. Rech, da Congregação Servas da Santíssima Trindade, atualmente residente em São Paulo. Os versos que seguem, falam sobre a forma como Lucilda viveu sua vida até os últimos dias:

MULHER

Toma teu cântaro, e vai...
Anuncia que é mulher!
Mulher como tantas deste mundo
 
Mas não deixes de dizer que:
Tu és mulher agraciada
Mulher apaixonada
Mulher fecundidade gerando o Novo
Mulher que ama porque é livre

Mulher capaz de ”quebrar o frasco” e derramar o bálsamo sobre os irmãos
De inundar a sala de perfume
E fazer brotar amor do coração

Tu és mulher encantadora
Mulher encarnada na história
Sem medo de amar, de lutar e de "brigar" pela justiça.

Mulher intercessora para que a "água se torne vinho"
O pão do amor seja partilhado
Para que o pequeno seja olhado,
A mulher seja respeitada,
O homem ajudado...

E o Rosto Materno de Deus - Pai e Mãe – revelado

Sim,toma o teu cântaro e vai...vai...

Derrama as flores do teu jeito feminino
E enfeita este mundo tão quebrado

Abra teu coração e gera o novo,
Porque tudo está tão velho e machucado

Rasga o espaço que é só teu...

Abraça, acolhe, gera, partilha, reza, ama, chora,perdoa, vibra...
E não esquece:

Tudo é dádiva. A vida é dádiva! Tu és dádiva!

Inclina teu coração e Ama...
Inclina teu coração e Agradece...
Inclina teu coração e Reza!

Mulher! Toma o teu cântaro e vai... Vai...

Siga a tua estrada, tua estrela, teu caminho...
 
Mulher! Toma teu cântaro e vai...

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