Edição 292 | 11 Mai 2009

O desafio de reconstruir o país

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Patrícia Fachin | Tradução Benno Dischinger

Para José Maria Blanch, o judiciário dificulta mudanças efetivas no Paraguai, já que é corresponde a grupos ligados aos interesses do Partido Colorado

Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, o padre jesuíta José Maria Blanch comenta a atual conjuntura paraguaia e diz que há no país, atualmente, “um profundo desejo de mudança”, seguido da eleição do presidente Fernando Lugo, ex-bispo católico e ex-ativista político. Embora haja bastante confiança na honestidade dos novos responsáveis pelo país, Blanch está preocupado com alguns fatores, entre eles a corrupção. As políticas públicas desenvolvidas no país “parecem ser muito pouca coisa, e realmente o são, porque uma grande parte da estrutura do governo anterior ainda está incrustada nos diversos ministérios, e ademais o Congresso tem uma maioria opositora, a qual quer impedir o novo governo de governar”, assinala. Entre os desafios do governo atual, Blanch destaca a disparidade de forças políticas que o constituem. “Isto certamente impede que se possa esperar pelos resultados que se esperavam, ou pelo menos se desejavam.”

José Maria Blanch estudou Teologia em Granada, Espanha e doutorou-se em Filosofia, pela Pontificia Universidad Javeriana de Bogotá, Colômbia.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Como percebe o quadro político da América Latina? Como se relacionam os diferentes modelos de governo (progressista, nacionalista e integracionista)?

José María Blanch - Minha impressão, bastante superficial, talvez, e sem muita análise, é que as forças de certa maneira progressistas avançaram nestes últimos anos, talvez mais do que se esperava. Os modelos nacionalistas e integracionistas parecem antes ser elementos ideológicos que utilizam tanto a direito como a esquerda, de acordo com o crédito político que possam obter num dado momento para um grupo político determinado.

IHU On-Line - Quais são os aspectos positivos e negativos do novo governo paraguaio? O país enfrentará muitos desafios, considerando sua situação política, econômica e social? Quais são as expectativas?

José María Blanch - Os aspectos positivos são que há certamente um profundo desejo de mudança, uma vez que caiu o Partido Colorado, que foi dono do poder durante oitenta anos, que há uma luta com bastantes resultados no terreno da corrupção e que há bastante confiança na honestidade dos novos responsáveis pelo país. Porém, precisamente por estas causas, ante a expectativa de mudança, o que se está realizando parece ser muito pouca coisa, e realmente o é, porque uma grande parte da estrutura do governo anterior ainda está incrustada nos diversos Ministérios, e ademais o Congresso tem uma maioria opositora, que quer impedir o novo governo de governar. Além disso, o poder judiciário, percebido como o mais corrupto dos poderes por todas as enquetes que se tem feito, ainda corresponde aos grupos ligados com os interesses do Partido Colorado, pois os juízes e a própria Corte Suprema de Justiça foram “remodeladas” pelo governo anterior, ao seu gosto e paladar. Isto tem como resultado que a impunidade que já havia antes prossiga e que muito poucas das denúncias contra a corrupção, que o poder executivo levanta, cheguem a ser realmente julgadas. Outro desafio que enfrenta o governo é a disparidade de forças políticas que o constituem, com pouca experiência e sem verdadeiras negociações em busca do bem do país, e, antes ao contrário, discutindo por cotas de poder dos grupos internos. Isto certamente impede que se possa esperar pelos resultados que se esperavam, ou pelo menos se desejavam.

IHU On-Line - Como caracteriza os movimentos sociais na América Latina, em especial os indígenas? Eles têm força política nas reivindicações e mudanças sociais em países como a Bolívia, o México, o Brasil e o Paraguai?

José María Blanch - Também a este respeito vejo uma grande diversidade nos indígenas, no que se refere ao seu peso político e cultural em cada um dos países e ao relacionamento que têm os diversos povos com os demais cidadãos dos diversos países. Há um avanço em sua presença e reivindicação de direitos, porém em grau bastante diversificado.

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